Neste artigo, Marcela Lorenzoni reflete sobre como as escolas enfrentam hoje uma dificuldade em escolher um caminho em um ambiente saturado de informações, assim como sobre a necessidade de se definir objetivos tangíveis e coerentes com cada propósito e metas passíveis de ser mensuráveis.
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Nem só de tecnologia vivem as discussões quanto à Educação no século XXI. Sendo, como é, um micro-organismo representativo da sociedade, a escola abrange as mudanças e angústias de sua época. Falamos de como melhor acolher diferentes configurações familiares; como criar espaços inclusivos à diversidade; e, em última instância, do próprio papel da instituição, que também se transforma – afinal, para quê serve a escola? Queremos educar cidadãos politizados, trabalhadores eficientes, empreendedores criativos, pessoas empáticas? Não apenas não sabemos, como lutamos contra a sensação de que escolher um caminho significaria, ao mesmo tempo, abrir mão de vários outros.
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Não somos capazes de digerir tudo
Querer tudo é o estado natural da nossa época. O volume incompreensível de informação a que estamos expostos – em um nível que somos biologicamente incapazes de processar -, tanto quanto o medo originado de crises políticas e econômicas, gera um sentimento de insegurança generalizado e, por consequência, uma ânsia por respostas que nos salvem do caos.
Em primeiro lugar, não podemos perder nada; algoritmos em redes sociais se aproveitam do nosso FOMO (fear of missing out, em inglês, ou “medo de ficar de fora”) fazendo-nos clicar em notificação atrás de notificação, entrando num fluxo que nunca irá nos saciar. Em segundo lugar, somos constantemente cobrados a nos posicionar: sobre tudo precisamos emitir alguma opinião, de repente nos tornamos especialistas em temas que vão de história do Oriente Médio à física quântica. Ai de quem ousar não saber!
Assim como em todo o resto, também na Educação nos vemos desnorteados, sem saber em qual tendência apostar. Ficamos divididos entre habilidades socioemocionais e o vestibular, entre metodologias ativas de aprendizagem e sistemas de ensino que garantem o sucesso, entre período integral ou mais tempo para o brincar livre, meditação ou tecnologia com foco em dados… São tantas as fórmulas mágicas que sempre estamos perdendo a última novidade. E quem dirá qual vai garantir a saúde e o sucesso dessas meninas e meninos?
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Quais os objetivos de sucesso da sua escola?
Há poucos dias, em uma sala de professores durante o intervalo, uma professora comentou sobre a falta de indicadores para atestar o sucesso da escola. Ela divide seu tempo entre duas instituições – aquela em que eu estava e outra, que utiliza um sistema de ensino focado na aprovação em vestibulares concorridos. “Pessoalmente, não concordo com a ideologia deste sistema de ensino”, disse ela, “mas não posso negar que são coerentes. Quando uma família chega para realizar a matrícula, sabe que o objetivo é que aquela criança um dia passe num curso de Medicina ou Direito, sabe que o conteúdo é voltado para isso e sabe que as avaliações seguem esse modelo. Tudo é feito em torno desse objetivo. Por isso as famílias se sentem seguras, elas entendem exatamente o que estão comprando”, explicou então.
Por outro lado, na escola em que estávamos, a impressão era outra. Resolvemos entrar no site do colégio para averiguar sua missão e visão. Encontramos o discurso amplo da “educação integral” e do “olhar para as potencialidades de cada aluno”, assim como a “preparação para o amanhã” e o “desenvolvimento do pensamento crítico”. Perguntamos à equipe em volta – como vocês conferem se essas metas foram atingidas?
Não conferimos.
Isso não significa que a proposta da escola esteja de todo incorreta. Pessoalmente, também acredito em uma Educação que apoie o desenvolvimento de seres humanos emocionalmente capazes de viver (de preferência, com alguma paz de espírito) nesse cenário acelerado e em permanente transformação. Porém, se tem algo que trabalhar em uma startup me ensinou foi a importância de basear nossas decisões em dados, sejam eles qualitativos ou quantitativos. Isso exige da escola uma função que ela está pouco habituada a executar e que muitas vezes parece estranha no universo educacional: a de definir objetivos de sucesso e investir na gestão de projetos.
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Se não dói, você não está focando
Sim, você quer todos eles. Você quer que seus estudantes sejam pessoas boas e que se comovem com a dor do outro, assim como cidadãos que votam com consciência e não jogam lixo na rua; quer que empreendam o próprio negócio ou conquistem vagas no topo de empresas. Nós queremos tudo. Mas o que queremos mais? Se só pudéssemos optar por um caminho, qual seria?
O processo é tanto eficiente quanto doloroso. No projeto Geekie One, apoiamos essa trajetória pedindo que a escola pense em curto e médio prazo, gerando objetivos mais tangíveis, passíveis de serem mensurados em menor tempo. Isso acelera a percepção de resultados e a sensação de estarmos avançando.
“Quero que minhas alunas e meus alunos aprendam melhor” é abstrato e distante; por outro lado, “quero que minhas alunas e meus alunos sejam capazes de fazer pesquisas utilizando diversos recursos digitais” e “quero que estejam motivados com o material utilizado em minha escola” podem parecer proposições menos ambiciosas, entretanto, são verificáveis dentro de poucos meses e ainda representam etapas importantes na jornada de longo prazo.
Como consultora, vejo que esse é um momento de frustração para a gestão escolar (afinal, estamos deixando inúmeros outros pontos relevantes de lado). Contudo, é preciso manter a perspectiva de que estamos trabalhando em etapas e que essas métricas irão evoluir conforme seguimos: elas são os tijolos que constroem os alicerces do seu sucesso.
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Determine metas possíveis e mensuráveis
Uma vez que tais objetivos forem acordados, é hora de discutir com a equipe quais as formas mais eficazes de medir esses resultados. O que fazemos é destrinchar um objetivo macro em algumas metas passíveis de serem mensuradas periodicamente, permitindo o acompanhamento do projeto. Assim, se meu objetivo era “quero que estejam motivados com o material utilizado em minha escola”, posso delimitar as metas:
- 80% dos estudantes estão satisfeitos ou muito satisfeitos com o nosso material;
- 100% dos estudantes acessam nosso material semanalmente; ou
- 100% dos estudantes realizam as atividades propostas em sala e em casa.
Esses são apenas exemplos. O mais importante é que sejam metas ambiciosas, porém possíveis, e que possam ser revisitadas de tempos em tempos através de ferramentas familiares à sua instituição. Alguns dos métodos que empregamos são:
- Pesquisas de satisfação,
- Autoavaliações,
- Frequência de uso (dos recursos ou materiais em questão),
- Avaliações diagnósticas e de resultados de aprendizagem, e
- Participação nas atividades propostas.
A partir daí, o essencial é incentivar, em toda a equipe, a cultura de se trabalhar com foco no objetivo de sucesso, estruturando encontros para interpretar os dados e reorientar práticas pedagógicas e de gestão em busca de uma visão comum. Parte do papel da consultoria da Geekie é justamente fornecer suporte à sua instituição de ensino ao longo de toda essa caminhada, trazendo essa e outras metodologias para potencializar o diálogo, a corresponsabilidade e, consequentemente, a aprendizagem de seus estudantes.
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