Escola e família: 11 estratégias para fortalecer essa relação

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Parceria entre equipe pedagógica e pais, mães e responsáveis favorece o processo de ensino e aprendizagem dos(as) estudantes na escola.

Família e escola constituem os dois subsistemas mais importantes na vida das crianças e dos(as) adolescentes. Assim, quanto mais coerência, parceria, solidariedade e respeito mútuo houver entre essas partes, maiores as chances do processo educacional ser efetivo. Para que essa relação se fortaleça e produza bons resultados para os(as) estudantes e para todos(as), é necessário que cada um(a) entenda bem qual é o seu papel. “Aquilo que cabe à família não pode ser transferido para a escola. E o mesmo acontece em relação à escola, que precisa da parceria da família nas tarefas, nas questões que vão para casa, mas ela não pode delegar o ensino ou a alfabetização de uma criança, por exemplo, porque essa não é a função dos pais, das mães ou responsáveis”, explica Roseli Caldas, presidente da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional e docente da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

O papel da escola e o da família se complementam

Ela lembra de uma história bem-humorada que ilustra exatamente essa situação. “A escola manda um bilhete para a mãe dizendo ‘seu(sua) filho(a) não está fazendo as tarefas, está atrapalhando os(as) colegas na sala de aula’ e faz uma lista de reclamações. A mãe recebe o bilhete e manda outro: ‘seu(sua) aluno(a) não está escovando os dentes, não vai dormir no horário certo, etc’”.

“Essa história serve para entender que há algumas coisas que são da escola, que a família pode até apoiar e dar uma orientação, mas é na escola que elas têm que ser resolvidas. E o mesmo para a família, pois acontece dela pedir coisas que ela mesma tem que fazer. Por exemplo, é preciso dizer não para a criança em casa antes dela ir para a Educação Infantil, pois ouvir o primeiro não na escola é um problema”, completa a especialista.

Uma vez definido muito bem o que cabe a cada parte, a escola pode empreender algumas estratégias para fortalecer essa relação de colaboração, considerando sempre que não há uma receita pronta para isso. “Daí a importância de estar disposta a pensar junto com as famílias como essa relação pode ser aprimorada”, diz Roseli. A seguir, indicamos seis dicas preciosas. 

1. Importância de apresentar o projeto pedagógico e os valores da escola

As escolas não são todas iguais, assim como as famílias também diferem muito entre si. Isso significa que um colégio excelente pode não ser o mais indicado ou o que vai combinar melhor com o perfil de uma determinada criança e família. Por isso, a escola deve, desde o começo, apresentar com clareza o seu projeto pedagógico, seus valores e como ela funciona para que os pais, as mães e responsáveis façam sua escolha de modo consciente – por exemplo, se querem uma escola com foco no vestibular e mais conteudista ou não. A partir daí é que a relação entre as duas partes vai se iniciar e terá condições de se consolidar e florescer.

2. Comunicação é essencial entre escola e famílias

“Um dos caminhos mais importantes para se aproximar e construir uma boa relação com as famílias é a comunicação”, afirma Roseli. Para isso, é necessário transparência e objetividade nos informes, seja pelos meios tradicionais, como a agenda e os encontros presenciais, ou por outras formas, como aplicativos e sistemas digitais. Igualmente fundamental é abrir canais de escuta e diálogo – como site, e-mail e formulários on-line– e deixar pais, mães e responsáveis à vontade para se manifestarem. E, claro, estar presente nas diversas mídias sociais. 

3. Como preparar uma boa reunião de classe na escola

“Em primeiro lugar, é preciso ter uma pauta para os pais, as mães e responsáveis saberem o que vai acontecer e que horas vai acabar. É importante a escola ter essa organização e passar isso para as famílias, pois funciona como referência para elas se organizarem, e a criança também aprende isso”, ressalta Roseli. 

Outro ponto relevante é marcar a reunião com antecedência para a família ter tempo de se planejar. Também é possível consultar os pais, as mães e responsáveis, mandando um formulário eletrônico, sobre os melhores dias e horários para o encontro. E vale preparar um ambiente acolhedor e aproveitar a ocasião para criar e fortalecer vínculos com as famílias, praticar a escuta ativa e encaminhar eventuais questões ou dificuldades dos(as) estudantes.

3. Visibilidade para as produções dos(as) alunos(as)

Apresentar projetos e atividades que estão sendo (ou serão) desenvolvidos e mostrar exemplos de produções dos(as) estudantes também ajudam no engajamento das famílias. Assim, pais, mães e responsáveis ficam “por dentro” do que está acontecendo e têm mais condições de contribuir com sugestões e incentivar o envolvimento dos(as)  filhos(as) nas propostas. Um bom exemplo são os relatórios de acompanhamento de estudantes do Geekie One, que mostram o engajamento e o desempenho de cada aluno e aluna, individualmente, na escola. Assim, as famílias conseguem acompanhar de perto a evolução de seus(as) filhos(as),  sem ter que esperar o boletim bimestral.

4. Frequência das reuniões individuais na escola

É comum as reuniões individuais acontecerem com mais frequência na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Conforme os(as) alunos(as) avançam nas etapas de ensino, elas vão diminuindo ou ocorrendo apenas em casos específicos. “Na Educação Infantil, os pais, as mães e responsáveis são novatos(as), principalmente quando é o(a) primeiro(a) filho(a). Então, eles e elas têm um interesse maior em ir à escola e entender o que está acontecendo com a criança. E a escola também tem muita coisa para dizer. Com o tempo, isso vai perdendo a intensidade – por exemplo, no Ensino Médio, eles(as) nem gostam que as famílias vão à escola”, observa Roseli. Nessa etapa, as rodas de conversa e os encontros de formação [veja a seguir] podem ser uma boa iniciativa.

5. Foco nos aspectos positivos de cada estudante

Ao chamar as famílias para uma reunião individual, a especialista lembra que é preciso ter uma postura cuidadosa e destacar também os aspectos positivos do(a) aluno(a). “Muitas vezes, as famílias são chamadas apenas para reclamações. Mas, quando a escola convoca os(as) familiares para dizer o quanto o(a) estudante está progredindo, seja em comportamento ou desempenho, ela mostra a potência que a criança ou o(a) adolescente tem.” No caso de algum problema ou questão com o(a) aluno, a ideia é buscar junto com a família a solução para os desafios.

6. Enxergar um outro lado do(a) estudante

Também contribui para uma visão mais global do(a) estudante a escola considerar as colocações da família, pois elas permitem enxergar um outro lado do(a) aluno(a). “Muitas vezes, a criança ou adolescente se comporta em casa de uma maneira e na escola de outra. É comum ter essa diferença, pois as pessoas exercem papéis diversos em lugares diferentes e as crianças aprendem isso muito cedo”, comenta Roseli. Assim, essa contribuição das famílias é essencial para conhecer melhor os(as) alunos(as), favorecendo o processo de ensino e aprendizagem.

6. Rodas de conversa no ambiente escolar

Além das reuniões de classe, outra iniciativa bacana é promover encontros regulares com os pais, mães e responsáveis, como rodas de conversa, de modo a abrir espaço para que eles(as) possam trocar informações e percepções sobre questões e situações que estejam vivenciando com os(as) filhos(as). “As famílias têm muita potência também, o que às vezes não é reconhecido ou valorizado na escola”, aponta a especialista. 

7. Escola contribuindo para a formação de pais, mães e responsáveis

Nessas rodas de conversa, a escola pode indicar textos ou até mesmo trazer palestrantes para falarem sobre determinados temas – por exemplo, questões pertinentes à determinada faixa etária, como álcool, drogas e gravidez na adolescência. “São encontros de formação com as famílias, para que fiquem mais preparadas para lidar com essa fase dos filhos e filhas”, salienta Roseli. Assim, a escola acaba conquistando esse lugar de contribuir também para a formação de pais, mães e responsáveis. Também é possível levantar os temas de interesse com as próprias famílias, por meio de formulários eletrônicos.

8. Possibilidade de encontros on-line entre famílias e escola

Reuniões não presenciais não são o ideal, mas, como a pandemia nos mostrou, elas podem ser uma opção ao viabilizar a participação de quem não poderia comparecer por questões de deslocamento e horário. Deste modo, podem contribuir para a aproximação com as famílias. 

9. Profissionais de educação disponíveis para atendimento às famílias

Quando pais, mães e responsáveis procuram a escola, é preciso que eles(as) saibam qual profissional devem buscar – professor(a), coordenador(a), tutor(a) ou diretor(a). “Há colégios em que as famílias podem falar diretamente com o(a) professor(a). Já outros não permitem isso. É fundamental deixar claro para os(as) familiares quais são as regras. Uma reunião com a coordenação é sempre importante, mas o(a) docente é quem conhece a criança e está lá no dia a dia. Por isso, considero relevante que o(a) professor(a) esteja sempre junto”, defende Roseli. Se a escola dispor de psicólogo(a), também é interessante que ele(a) possa participar. “Cada um(a) vai vendo uma nuance daquela situação e, como equipe multidisciplinar, consegue dar o apoio necessário”.

10. Família não pode ser vista como “consumidora” na escola

Principalmente nos colégios privados, muitas vezes, a voz da família acaba sendo muito forte, porque é ela que, de alguma forma, mantém financeiramente a escola. De acordo com Roseli, a escola precisa ter alguns cuidados com essa questão e indicar claramente qual é o limite. “A escola não deve ver os pais, as mães e responsáveis como consumidores(as), mas sim como educadores(as) também. Todos os anos vividos na escola têm um valor enorme para a formação do ser humano, e não se pode perder isso de vista em função da possibilidade de manter uma família [que sairia da escola por discordar de algum aspecto]. A postura de ambas as partes deve ser a de educadores(as) e não de alguém que consome o produto do outro(a).”

11. Instâncias coletivas de participação na escola

Em escolas que têm pais, mães e responsáveis fazendo parte de instâncias coletivas de discussão – como conselho escolar, Associação de Pais e Mestres (APM), assembleias etc – as relações, em geral, se estabelecem de modo positivo. “As decisões são tomadas conjuntamente e não apenas transmitidas, portanto, mais possíveis de darem certo. E esses espaços coletivos criam uma relação mútua de educadores(as)”, destaca Roseli. Ela acrescenta que essa relação mais próxima da família com a escola envolve afeto, o que é essencial para a aprendizagem. “A criança também cria pela escola uma relação que é reflexo da relação da família diante da escola. E quanto mais a criança tem uma boa relação com a escola, maior a chance de que se beneficie do aprendizado”.

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