Uma andorinha só não faz…educação

Colunas
Comunidade escolar deve ser fruto de um trabalho coletivo, de todos os colaboradores

Uma comunidade escolar é composta por inúmeros atores: do pessoal da cantina, à limpeza, direção, famílias, corpo docente e, claro, os estudantes. Cultivar boas relações com todos vai além dos tradicionais cumprimentos rotineiros; é necessário ouvir ativamente e perceber as inúmeras ideias e conhecimentos que são construídos coletivamente neste espaço de aprendizagem.

Ditados são verdades universais, as quais podem ser estabelecidas como regras. Aqui e ali você pode até encontrar uma exceção, mas no caso do ditado parafraseado no título, é bem mais difícil encontrá-la.

O ser humano é social, e, sendo assim, precisa viver em sociedade. Em uma definição mais genérica, sociedade é um sistema de inter-relações que conecta os indivíduos uns com os outros. Os termos sociedade e comunidade indicam formas de convivência, são termos conexos, mas passíveis de diferenciação. A primeira característica que diferencia uma comunidade de uma sociedade é a pessoalidade. Na comunidade, os vínculos se dão por proximidade, com as pessoas conhecendo umas às outras. Já na sociedade, normalmente, os vínculos são mais impessoais. A comunidade requer intimidade, sendo a confiança a base da organização comunitária. Pelo exposto, pode-se ver que comunidades geralmente são grupos sociais relativamente pequenos.

É por essa explicação, que foi tirada de um capítulo do Geekie One de Sociologia, que se diz “comunidade escolar”, e não “sociedade escolar”. A escola é uma comunidade, ou seja, um grupo de indivíduos que têm algum vínculo em comum, algo que os faz querer andar juntos, a saber: o aprendizado.

Certo que há algumas escolas que preferem focar no ensino e acabam depositando todo o esforço na figura docente, nas avaliações somativas e nos reforços behavioristas para tentar atingir seus resultados, mas (ainda bem) que esse não é mais o perfil da escola do século XXI, e hoje é mais comum encontrarmos escolas que se projetam com foco em estudantes. Espero que esse seja o caso da sua escola.

Como profissional da educação, leio muito sobre esse assunto e sempre me interessei por trabalhar em um lugar que me trouxesse também esse tipo de visão. Não tenho estômago para estar em um lugar por, no mínimo, 8 horas diárias se ele for diferente do que meus valores pessoais apregoam. Na Geekie, também cultivamos o senso de comunidade. Obviamente é uma empresa e como tal apresenta suas regras e hierarquias, mas a ideia de construção coletiva casa bastante com aquilo que acredito como profissional, como pessoa e, principalmente, como educador.

Já dei aula em alguns estabelecimentos e uma das coisas que pode diferenciar significativamente um do outro é justamente essa ideia de coletividade. Como professor, já fui orientado (em mais de um lugar) a ser a única voz ativa na sala de aula. Tive superiores a mim em escolas que não admitiam passar no corredor e escutar a voz de outra pessoa na sala que não fosse a minha. Não preciso dizer que não demorei muito a sair desse lugar. Não me identifico com esse tipo de ambiente.

A escola precisa ser um lugar de interação, de conversa, de troca de ideias, de enriquecimento cultural e, acima de tudo, aprendizado. Não se aprende com uma pessoa falando sem parar enquanto várias outras apenas escutam, tomam nota para depois serem avaliadas se aquilo que um professor ou uma professora falou foi absorvido exatamente da forma como foi exposto.

Isso não se resume ao momento de aula: a coordenação precisa trocar ideias com o corpo docente; as pessoas da cantina precisam saber do que seus clientes gostam; estudantes precisam aprender a conviver saudavelmente nos horários extra-classe; o pessoal da limpeza precisa orientar sobre políticas de reciclagem; a sala dos professores tem de ser um lugar aberto a convivência pessoal também; a direção precisa conhecer o máximo possível de quem trabalha na escola; a família precisa se sentir bem-vinda no ambiente escolar.

Quando se pensa em tudo isso, percebe-se que não dá para uma pessoa só fazer educação. Estudantes não aprendem por osmose; docentes não podem fazer monólogos; gestão não pode ser feita sem escuta ativa. As interações são indispensáveis. É dessa forma que se constrói aprendizado.

Na Geekie, isso não é diferente, e eu sou muito feliz como profissional e como educador por isso. Não sou uma máquina que é programada para exercer aquilo que lhe é mandado e apenas executa. Sou um ser pensante, crítico, antenado e, principalmente, social. Respeito as regras e obedeço a hierarquia, mas me sinto à vontade para expor aquilo que estou sentindo e pensando, bem como aquilo que aprendi e sei fazer.

Na escola, se qualquer pessoa envolvida na comunidade pensar, ao menos por um segundo, que vai atingir o resultado esperado de forma individual, é triste pensar que ela vai se decepcionar. A não ser, é claro, que se pense naquele professor tradicional, que está em uma escola rígida e hierárquica. “Se eu falar por 2 horas sem parar e a turma me escutar atenta, terei atingido meu objetivo: ensinar”. Infelizmente, essa pessoa não terá atingido o objetivo ideal: fazer a turma aprender.

Ainda que a escola já tenha em seu estilo uma interatividade alta, é sempre bom refletir e discutir sobre outras formas de fazer as pessoas conversarem mais sobre o objetivo comum. Sempre há uma pessoa que tem ideias e que ainda não foi ouvida, seja por falta de oportunidade, seja por falta de coragem. Então, se a comunidade escolar se esforçar nesse sentido, cada pessoa poderá ser ouvida, e a interação será ainda mais fluida, coesa e prazerosa.

*Érick Nascimento é Gerente editorial do Geekie One, formado em Letras pela UFC e tem mestrado em Literatura Comparada pela mesma instituição. Após anos de experiência na sala de aula, na qual atuou desde o Ensino Infantil até o Ensino Superior, tornou-se coordenador pedagógico-editorial em um sistema de ensino. 

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