Escuta ativa na escola é o tema do segundo encontro do Circuito Geekie

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Palestra aconteceu em 8 de abril e mostrou a importância do respeito e da empatia na comunicação para propor soluções e acolher estudantes, famílias e corpo docente 

No segundo de sete encontros do Circuito Geekie – série de palestras e formações pedagógicas online e gratuitas voltadas para educadores(as), coordenadores(as) e gestores(as) educacionais – o tema foi “Escuta ativa na escola: como acolher estudantes, famílias e corpo docente”. 

Realizada por Bete P. Rodrigues, coach de Disciplina Positiva e professora do curso de Práticas Socioemocionais da Coordenadoria Geral de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Cogeae – PUC-SP), a palestra aconteceu na quinta-feira, 8 de abril, e tratou da importância dessa habilidade para os diversos contextos, especialmente o educacional, e de como colocá-la em prática. 

“A escuta ativa é capaz de promover uma comunicação mais assertiva, criar relacionamentos mais respeitosos, encorajadores e harmoniosos, fortalecer vínculos, minimizar conflitos e desenvolver a empatia – a habilidade de não só nos colocarmos no lugar do outro, mas ouvir e enxergar o mundo pela sua perspectiva”, disse a especialista.

Afinal, o que é a escuta ativa?

Bete explicou que o conceito de escuta ativa (active listening) surgiu nos anos 1950, com o psicólogo norte-americano Carl Rogers, para se referir a uma escuta mais profunda e empática e diferenciá-la da forma tradicional, mais passiva. “Acreditava-se que a parte ativa da comunicação era o falar e a passiva, o ouvir.”

Ela apontou, no entanto, que a escuta ativa vai além do ouvir:

“Escuta ativa é escutar além das palavras, profundamente, demonstrando um interesse genuíno e observando toda a linguagem do outro – a verbal e a não verbal. É prestar atenção de uma forma ativa.”

Nesse contexto, quem escuta não se limita ao conteúdo do que é falado, mas também à forma como é dito, o que inclui atentar para os sentimentos do(a) interlocutor(a), seus gestos e expressão e para os motivos da escolha de determinadas palavras.

Mais do que ouvir, mostrar interesse

De acordo com a especialista, para desenvolver uma escuta ativa, contudo, é necessário identificarmos em primeiro lugar que tipo de ouvinte nós somos. “Quando um(a) aluno(a) vem falar algo, você para o que está fazendo para ouvi-lo(a)? Qual é a sua postura enquanto ouvinte?”, perguntou.

Ela destacou que até pode ser que uma pessoa realmente esteja ouvindo a outra enquanto realiza uma atividade, mas o fato de demonstrar que está ouvindo é o que vai fazer a diferença e criar conexão com quem está falando. “Tudo vai depender se a pessoa está se sentindo ouvida, acolhida, respeitada, ou seja, se ela percebe da parte do interlocutor interesse, atenção e empatia.”

Nesse sentido, há pelo menos cinco atitudes esperadas de quem é um(a) bom(boa) ouvinte:

Atitudes esperadas de quem aplica a Escuta Ativa: interesse, respeito, empatia, gentileza e paciência

Segundo Bete, demonstrar interesse significa prestar total atenção no que a pessoa está dizendo, tanto no assunto em si como na forma de comunicação. Envolve também identificar qual é o sentimento que ela traz e o motivo da fala. Para isso, é preciso ouvi-la com respeito, escutando-a verdadeiramente, e com empatia, colocando-se em seu lugar. 

“Já a gentileza do(a) ouvinte pode ser demonstrada na sua educação e na própria postura corporal – o olhar compreensivo e interessado e o tom de voz acolhedor. E a paciência implica em respeitar o tempo da outra pessoa e não interrompê-la, de modo que ela possa falar tudo o que precisa e quer dizer”, completou.

Dicas práticas para escutar ativamente

Para colocar em ação essa habilidade tão importante que é a escuta ativa, a especialista fez cinco recomendações: 

1. Ouvir e demonstrar que está ouvindo

Isso pode ser feito por meio do contato visual: o olho no olho em uma situação presencial ou o olhar para a câmera no ambiente digital. No caso de uma criança, pode-se ter o cuidado de se abaixar para manter os olhos na altura do olhar dela. 

“A expressão facial que acompanha a narrativa, mais alegre ou mais séria a depender do relato, a linguagem corporal, estar de frente para a pessoa, e pequenas frases ou palavras que expressam o seu entendimento — como balançar a cabeça e dizer “ah”, “puxa”, ou “nossa” — são outros elementos que demonstram a escuta ativa”, diz Bete. 

2. Identificar o quê e como está sendo dito

Nesse momento, é o(a) ouvinte que, além de atentar para o conteúdo, vai observar os sinais emitidos por quem está falando. “A expressão facial, o tom de voz, a linguagem corporal, os sentimentos presentes e a escolha das palavras são indícios de como a pessoa está”, relembra a especialista.

3. Manter o foco

Bete conta que a grande reclamação das pessoas que não se sentem ouvidas é a de que o(a) ouvinte costuma estar distraído(a) ou ocupado(a). Por isso, a atenção precisa ser plena. 

“Quando a pessoa não se sente ouvida, ela vai observar o(a) seu(sua) interlocutor(a)  — se está com o celular na mão, digitando ou olhando para outro lugar. Esses comportamentos podem indicar que o foco ou atenção não está nele(a)”. 

Neste caso, a dica é muito simples: “Pare de fazer qualquer outra coisa quando quiser de verdade demonstrar que você é um bom(boa) ouvinte e está usando a escuta ativa”, orienta.

4. Demonstrar interesse e empatia

Quem está ouvindo também pode expressar empatia e interesse pelo o que é relatado por meio de alguns comentários e perguntas, como “o que você disse naquela situação?”, “o que você fez?” ou “como se sentiu?” para que a pessoa se sinta motivada a dar mais detalhes e informações sobre o assunto. 

É preciso, ainda, tomar um certo cuidado com os comentários para não minimizar o problema, ainda que a intenção não seja essa, ou transformar a conversa em um interrogatório. 

“São poucas questões que devem ser colocadas para estabelecer esse vínculo e ter uma ideia mais clara do contexto para poder acolher melhor o que a pessoa está dizendo”, explica Bete.

5. Checar a compreensão

Como nem sempre quem está falando tem a habilidade de transmitir a mensagem que gostaria de forma clara, é importante que o(a) ouvinte faça perguntas, repita palavras e até elabore uma síntese do que ouviu para checar o entendimento. 

Se precisar anotar, até mesmo para dar um retorno sobre aquele assunto, Bete recomenda avisar a pessoa. “Mas cuidado para que a anotação não seja um fator de distração. Se você está de verdade presente, com foco, é muito provável que se lembre do que realmente importa.”

O que não fazer

Assim como algumas ações auxiliam a escuta ativa, outras acabam por dificultá-la. Por isso, é importante não julgar quem fala e não se distrair durante o diálogo para poder entender os sentimentos envolvidos, motivações e frustrações. 

Outro ponto é não antecipar a fala da pessoa ou tentar adivinhar o que ela vai contar e, consequentemente, o que você vai responder . “Ainda mais quando é um assunto recorrente com determinada pessoa, isso pode acontecer. Mas se você entra nesse modo de antecipar, de julgar e de tentar adivinhar, você não está ouvindo e não se coloca nessa posição de escuta ativa, verdadeira e empática”, observou a especialista.

É importante também se atentar para não interromper. “Às vezes, na ânsia de querer resolver logo, a gente finaliza a frase da pessoa — o que é muito desrespeitoso, mas muitas vezes nem nos damos conta.”

Bete ainda chamou a atenção para o não “roubar a palavra”. Isso acontece, por exemplo, quando o ouvinte interrompe o que uma pessoa está falando para ele mesmo contar uma experiência pessoal. Não raro, pode vir acompanhado de opiniões, conselhos e até “sermões”.  

Olhar atento e respeitoso

A especialista alertou para o cuidado que professores(as), gestores(as) e pessoas em cargo de liderança devem ter, pois muitas vezes se sentem na obrigação de dar um conselho e tentar resolver o problema do outro, mas nem sempre a pessoa que está falando deseja  isso. “Então, o mais respeitoso é perguntar antes se ela gostaria de ouvir a sua opinião ou como você poderia ajudá-la.”

Esse olhar atento, respeitoso, gentil e paciente deve prevalecer sempre. “Pessoas inteligentes são bons ouvintes, pois sabem ouvir o todo, e não só as palavras, e conseguem, depois de ouvir, entender o contexto para oferecer ajuda. E quem se sente ouvido(a), vai se sentir também respeitado(a), acolhido(a), pertencente, importante e amado(a) — é isso o que todo ser humano quer”, resumiu a palestrante.

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