Tecnologias digitais na Educação Infantil e Fundamental anos iniciais: cuidados e benefícios necessários

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Ferramentas tecnológicas podem ajudar os(as) alunos(as) a construir o conhecimento de forma ativa, tornando o processo de aprendizagem mais potente e significativo 

O uso da tecnologia na educação, que foi impulsionado pela pandemia, pode favorecer a aprendizagem e o protagonismo do(a) estudante. Mas, nesse processo, de nada adianta a melhor tecnologia, o melhor recurso ou o equipamento mais caro se não houver planejamento e intencionalidade pedagógica

“Isso inclui analisar o currículo, o método de ensino e o material didático e verificar como determinado recurso pode ser usado como promotor da aprendizagem”, diz Flávio Rodrigues Campos, pedagogo, doutor em educação e um dos autores do “Currículo de referência em tecnologia e computação: da Educação Infantil ao Ensino Fundamental” do Centro de Inovação para a Educação Brasileira (Cieb).

Segundo ele, nas séries iniciais do Ensino Fundamental, por exemplo, em que se trabalha a consolidação da alfabetização e o conhecimento científico mais estruturado, as ferramentas tecnológicas podem ajudar o(a) aluno(a) a construir o seu conhecimento de forma ativa, o que torna o processo de aprendizagem mais significativo.

Ele dá como exemplo um game de matemática: 

“A intencionalidade pedagógica tem que ser direcionada para o(a) aluno(a) estar ativo construindo o seu processo de aprendizagem e não apenas respondendo a um estímulo visual ou resolvendo um exercício simples. E cabe ao docente dizer o que ele quer com aquela tecnologia – que a criança só se divirta jogando ou que por meio da diversão em um game aprenda conceitos complexos de uma área do saber?”

Na Educação Infantil, ele destaca jogos que exploram conceitos relacionados a cores, formas, quantidades e alfabeto, além de aplicativos de livros digitais que usam recursos como realidade aumentada. Na contação de uma história, por exemplo, a criança pode visualizar um animal em tamanho real.

“No entanto, sempre respeitando um tempo limite de tela, a maturidade cognitiva das crianças, os seus direitos de aprendizagem e os eixos estruturantes das práticas pedagógicas nessa etapa do ensino, que são as interações e as brincadeiras.”

Outro ponto que ele ressalta é o fato de que a tecnologia, hoje, está em todo lugar – na forma como nos comunicamos, acessamos as informações, produzimos e consumimos. 

“Então, porque ela não estaria na escola? O(a) aluno(a) de hoje já tem contato com recursos digitais desde muito cedo, e o espaço escolar precisa trazer esse contexto para o dia a dia do processo científico e da aprendizagem, até para ajudar na compreensão dessa tecnologia e o papel que ela tem no seu cotidiano – por exemplo, trabalhando a cidadania digital. Muitas crianças do 4º ou 5º ano, por exemplo, participam de jogos online e outros espaços virtuais”.

Aí entra outro aspecto importante nesse processo: a escola entender o(a) estudante não apenas como usuário(a), mas alguém que também pode criar e produzir tecnologia. Campos, que também é consultor pedagógico e professor universitário, lembra que a própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que aborda o tema de forma transversal em todas as áreas do conhecimento e componentes curriculares, faz referência a isso na competência geral número 5: 

“Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.”

Metodologias ativas e personalização 

O consultor explica que as primeiras propostas de uso da tecnologia para tornar o aluno mais ativo no processo de ensino e aprendizagem datam da década de 1960, quando o matemático sul-africano Seymour Papert, que trabalhou com Piaget, criou a linguagem Logo, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em que os alunos aprendiam matemática criando códigos e desenhando figuras geométricas numa tela. 

“Eles aprendiam de forma significativa, pois conseguiam pensar nos erros a partir do que o programa apontava. Papert desenvolveu uma teoria de aprendizagem baseada no uso da computação e criou essa linguagem, a primeira pensada de forma intencional para a educação, em que as crianças pudessem comandar a máquina e não serem comandadas por ela.”

A partir daí, essas tecnologias foram evoluindo e ganhando importância e alcance, sobretudo com a internet nos anos 1990 e, na sequência, com os softwares e plataformas educacionais e com o uso de novos recursos, como a realidade aumentada. 

“Hoje temos ferramentas que proporcionam grande interação. Essa é a chave: o quanto a tecnologia traz de interação para o(a) aluno(a) e ele(a) realmente consegue construir conhecimento a partir dela”, afirma.

Essa interação proporciona inúmeras vantagens, segundo Campos. Desde suporte para crianças que têm alguma dificuldade de aprendizagem, até ajuda para compreender conceitos complexos e abstratos. Numa aula de geometria, por exemplo, o professor pode construir uma figura na tela e trabalhar junto com os alunos e as alunas, ou até mesmo construir dispositivos robóticos que materializam conceitos abstratos.

Os benefícios do uso de tecnologias digitais com intencionalidade pedagógica

O(a) estudante do século XXI é inquieto, gosta de investigar e pesquisar, então tem que trazer a tecnologia como aliada nesse processo”, diz. Essas práticas ativas que a tecnologia impulsiona, como a sala de aula invertida e a aprendizagem por projetos, trabalham também competências socioemocionais essenciais para o desenvolvimento das crianças e adolescentes, como a criatividade, a comunicação e a colaboração.

Outro benefício importante do uso de ferramentas tecnológicas é a possibilidade de personalização da aprendizagem. “Há uma gama de recursos que servem à personalização, pois permitem que o(a) aluno(a) identifique como ele(a) aprende melhor e crie a sua própria trilha de aprendizagem”, observa.

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Há também recursos e plataformas – como o Geekie One, a plataforma de educação baseada em dados da Geekie – que dão feedback ao(à) docente, com dados qualitativos e quantitativos, para que ele(a) possa acompanhar em tempo real a progressão do(a) aluno(a) e direcionar a ele(a) atividades específicas, em pontos que ele(a) pode ter mais dificuldade.  

“A tecnologia hoje na escola não é só para o(a) estudante. Ela tem diversos recursos e proporciona muitas coisas para que o(a) docente também possa ampliar seu papel e escopo.”

A importância da formação do(a) professor(a)

Nesse sentido, para que o(a) aluno(a) vá ganhando protagonismo nesse processo, o(a) professor(a) também tem que assumir o protagonismo dele(a) no papel de ensinar, o que significa propor caminhos e fazer a mediação. 

“Essa posição é diferente da que se tinha anteriormente, de achar que o(a) estudante não sabe nada e vai apenas absorver as informações dadas pelo professor ou pela professora. Hoje, informação por informação, ele(a) tem na internet. A escola é que vai ajudá-lo(a) a ligar os pontos e construir conhecimento a partir delas”, comenta Campos.

A formação do professor e da professora, nesse contexto, torna-se crucial. Segundo Flávio, um desafio hoje para o avanço do uso da tecnologia no contexto escolar é a formação inicial dos(as) docentes, uma vez que os cursos de Pedagogia, que formam os(as) professores(as) da Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental, em geral, não aprofundam a questão da tecnologia no trabalho do profissional da educação.

Uma saída, de acordo com ele, é o(a) professor(a) buscar, por meio da formação continuada, o conhecimento sobre esses recursos. “Ele(a) não precisa ser o(a) expert na tecnologia que pretende usar, mas precisa conhecer seu funcionamento e os recursos que oferece para saber as possibilidades que pode lhe proporcionar. E considerar o currículo, os objetivos de aprendizagem e o seu planejamento.”

Ele diz que ainda há muitas escolas que utilizam a tecnologia apenas para reproduzir uma prática tradicional – uma aula expositiva com o uso de power point ou uma digitalização do livro didático em pdf, por exemplo – sem considerar o papel ativo do(a) aluno(a) e as possibilidades de personalização:

“Esse é um risco que acontece quando o docente não se apropria do uso da tecnologia e a escola não conhece a fundo o seu papel na aprendizagem – o quanto ela pode trabalhar com o(a) estudante de maneira significativa para levá-lo(a) a construir o conhecimento. Se é para fazer a mesma coisa, porque usar a tecnologia? Ela precisa transformar algo que não existia e trazer algo novo e significativo para o(a) aluno(a).”

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