A pandemia de COVID-19 é um momento complexo. Em tempos de distanciamento social, preparamos algumas dicas que buscam expandir o repertório cultural através de ferramentas on-line para “visitas” em museus e outras instituições culturais. A arte pode ser um meio de nos mantermos próximos(as), mesmo que fisicamente separados(as).
Na Geekie, acreditamos que o aprendizado é um processo que acontece ao longo da vida, em múltiplas circunstâncias. Pensando nisso, em tempos de distanciamento social devido a pandemia de COVID-19, as ferramentas on-line são recursos para nos aproximarmos de alternativas à convivência e expandirmos nosso repertório cultural.
Construir repertório é uma prática diária, resultado da relação que crio com todos os aprendizados e estímulos a que estou exposta. Costumo imaginar meu repertório pessoal como um grande arquivo com incontáveis pastas; a cada nova situação que vivo, algumas pastas são “acionadas” imediatamente enquanto outras são criadas para que eu possa lidar com as situações do cotidiano. O repertório cultural é uma extensão dessa prática que inventa novas “pastas” a cada dia.
Para essa situação de isolamento social, incentivar a “visitação” on-line a espaços como museus e outras instituições culturais possibilita um exercício para a imaginação, ânimo para o pensamento, além de contribuir para o conhecimento, percepção das semelhanças e diferenças entre contextos e pessoas diversas, parte fundamental do repertório cultural.
Repertório cultural como competência da BNCC
No contexto escolar, como terceira competência geral da BNCC, o repertório cultural tem como objetivo que estudantes possam:
“Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.”
O processo de valorizar, fruir, participar e produzir manifestações artístico-culturais necessita, inicialmente, a existência da abertura para novas experiências e perspectivas, por parte de cada estudante. Além disso, o papel dos(as) educadores(as) é incentivar que uma relação seja estimulada e construída processualmente para que vínculos sejam estabelecidos.
No atual cenário de mundo, falar sobre estabelecer vínculos pode ser sensível, mas abre espaço também para fortalecer a recordação de que todos e todas são sustentados(as) pelas conexões que criam uns/umas com os(as) outros(as).
A partir do contato inicial e da receptividade é possível desenvolver valor, apreciação e até mesmo o interesse pela produção artística.
Visitas virtuais em museus e instituições de arte nacionais e internacionais
Nesse contexto, muitas instituições culturais nacionais e internacionais já disponibilizavam tours virtuais ou parte de seus acervos digitalizados antes do estado de pandemia. Hoje, o prestigiado Museu do Louvre, tal qual inúmeros espaços culturais pelo mundo, encontra-se fechado pelas autoridades como medida de contenção ao coronavírus. Apesar disso, as “visitas” on-line seguem disponíveis, assim como há pouco mais de uma década, quando fui estudante do Ensino Médio e tive a oportunidade de conhecer o tour virtual do Museu do Louvre.
Hoje, com o desenvolvimento intenso da tecnologia digital, outros espaços culturais oferecem opções de “visitas” com altíssima qualidade de imagem, visualização 360º e até mesmo trilhas sonoras. O Museu Casa de Portinari – localizado na cidade de Brodowski, no estado de São Paulo –, é exemplo de tour 360º. Desde 2008, outros “museus-casa” seguem a mesma oportunidade e foram mapeados, fotografados e digitalizados pelo projeto Era virtual.
Helio Oiticica, importante artista visual brasileiro e de reconhecimento internacional, escreveu em 1986 a frase: “O museu é o mundo, é a experiência cotidiana”. A partir dessa afirmação, penso nas “visitas” virtuais como um primeiro passo de aproximação, reconhecimento e conexão com a vastidão de culturas existentes no mundo. As exposições e acervos disponíveis virtualmente também são capazes de destacar em seus conteúdos temas históricos, políticos, científicos, geográficos, econômicos e comportamentais que as artes abordam, todos trabalhados pela competência repertório cultural.
Google Arte & Cultura: o maior repositório de tours virtuais
Nesse aspecto, o site que conta com a maior oferta de tours virtuais por espaços nacionais e internacionais é o Google Arts & Culture. Embora disponível em língua inglesa, a plataforma é intuitiva e permite a busca pelo nome da instituição cultural – museus e galerias de arte, digitado na “lupa” de pesquisa.
A plataforma também permite procurar por obras e espaços culturais através da ferramenta “explore”, destacada na imagem a seguir. Visitar esses espaços pessoalmente permite uma experiência distinta da virtualidade. Porém, explorar a Google Arts & Culture ainda assim complementa as atividades investigativas e promove contato com um mundo de curiosidades, interpretações e aberturas para novas experiências.
Benefícios das visitas virtuais durante aulas a distância
Para as escolas que decidiram continuar com seus planejamentos de aulas por meio do ensino e aprendizagem a distância, o acesso às ferramentas de “visitas” virtuais e acervos digitalizados são opções que, por meio da intencionalidade pedagógica, complementam conteúdos para aulas síncronas, assíncronas e no futuro não muito distante, novamente presenciais.
Além do contexto escolar, as visitas on-line podem ser, inclusive, um convite à interação entre familiares nesse momento de convivência contínua, rotinas transformadas e busca por adaptação. É fundamental considerar que o engajamento das pessoas, curiosidades que surgem por meio de perguntas bem como os percurso de aprendizagem e descobertas impulsionados pelos tours virtuais incrementam as relações humanas.
Os museus também são espaços de educação, podem e devem incentivar a aproximação dos públicos imersos nas tecnologias digitais com as artes que escrevem histórias sobre as sociedades e suas culturas, espelhando o mundo.
As artes são potentes como linguagem e possibilitam que seus públicos explorem caminhos rumo ao aprimoramento do pensamento crítico, conhecimentos de mundo, expansão de repertório e valorização das diferenças, tão significativas para a humanidade. Nas redes sociais, as hashtags #MuseumFromHome e #CulturaEmCasa estão fazendo sucesso em aproximar quem está em casa. Neste momento de complexidade e sensibilidade aflorada, a arte pode ser meio de nos mantermos próximos(as), mesmo que fisicamente separados(as).
Tudo passa, a arte fica.
* Thaís Sabbadini é editora das disciplinas eletivas do Ensino Médio e Fundamental do Geekie One. Nasceu em Itapira-SP, cursou bacharelado e licenciatura em Artes Visuais pela UNESP, pós-graduanda em Neurociência e Psicologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É educadora no ensino formal e não-formal desde 2013. Trabalhou como mediadora cultural e oficineira em diversos espaços culturais na cidade de São Paulo, em escolas públicas e privadas. Na Geekie, atua como editora de Criatividade e Inovação.