Quais competências as escolas devem desenvolver com os(as) estudantes?

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De maneira geral, o mercado de trabalho sempre ofereceu as melhores oportunidades para aqueles(as) que se formaram em universidades renomadas e/ou que tiveram experiências profissionais brilhantes. Mas hoje não é só isso. As competências e as habilidades também contam muito como requisitos na hora da contração e as escolas têm a missão de desenvolver 10 competências gerais durante a Educação Básica. Conheça essas habilidades neste texto e veja o papel das famílias nesta tarefa

Como se preparar para ter uma vida de sucesso profissional? As escolas devem focar apenas nos processos seletivos para que seus alunos e suas alunas entrem nas melhores universidades? Passar no vestibular é importante e pode garantir parte do sucesso, mas não é suficiente para se ter êxito no mercado de trabalho. As habilidades e competências ganharam importância nos últimos anos, por isso é fundamental que sejam desenvolvidas desde cedo, na escola, e com o apoio das famílias.

Um estudo publicado pelo LinkedIn em 2019 mostrou que os empregadores estão buscando mais do que bons currículos e experiências. Eles procuram uma combinação de soft skills (habilidades socioemocionais), e hard skills (habilidades mais técnicas). Para se chegar a esse resultado, a empresa avaliou informações sobre as habilidades que apareciam nos perfis dos(as) usuários(as) da rede e que conseguiram empregos com salários mais altos. A criatividade foi o destaque da lista de soft skills, seguida de persuasão, colaboração, adaptabilidade e manejo do tempo. Já na lista de hard skills estão em alta manejo de dados e raciocínio analítico.

Habilidades e competências na escola

O resultado dessa pesquisa mostra o quanto é importante o desenvolvimento de habilidades e competências ao longo da infância e da adolescência para se chegar mais bem preparado(a) ao mercado de trabalho. Escolas e famílias têm um papel fundamental em todo esse processo. Agora mais ainda com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), um documento normativo aprovado em 2017 que orienta a atuação de escolas da Educação Infantil e Ensinos Fundamental e Médio.

De acordo com a BNCC, o processo de ensino e da aprendizagem deve ser orientado para o desenvolvimento de 10 competências gerais: conhecimento; pensamento científico, crítico e criativo; repertório cultural; comunicação; cultura digital; trabalho e projeto de vida; argumentação; autoconhecimento e autocuidado; empatia e cooperação. 

Antes da BNCC, decorar datas, fórmulas e estruturas moleculares era suficiente para a conclusão da educação básica e para o acesso ao ensino superior. Hoje o cenário está mudando, com a valorização de habilidades. 

“O modelo antigo de escola tradicional é focado em memorização. Isso é importante, mas não é só. O vestibular vai fazer parte da vida dos(das) estudantes, mas para aumentar a chance de ter sucesso em qualquer que seja a carreira escolhida, precisa ter um olhar para essas habilidades, seja na escola, em um esporte, em uma atividade extracurricular, da forma que cada família achar melhor”, explica Claudio Sassaki, CEO e cofundador da Geekie.  

E quais são essas competências e habilidades que serão desenvolvidas nas escolas e que futuramente terão um grande impacto na vida profissional e pessoal de cada estudante? Conheça cada uma delas aqui.

As competências da BNCC_CTA2

Não basta só adquirir conhecimento 

Tradicionalmente as escolas já cumprem a função de desenvolver conhecimento em seus estudantes. Mas, na prática, o que isso pode significar? Como seus filhos e suas filhas usam o conhecimento para construir seus projetos de vida? Como tudo isso se aplica no dia a dia? É importante que o(a) aluno(a) desenvolva a capacidade de adotar estratégias para reter as informações adquiridas, usando os conceitos aprendidos para resolver problemas complexos, tomar decisões na vida cotidiana e, futuramente, no ambiente de trabalho também.

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Desenvolvendo o pensamento científico, crítico e criativo

Nas aulas de Ciências, as crianças e os(as) adolescentes desenvolvem uma habilidade muito importante, e que pode (e deve) ser utilizada em outras áreas do conhecimento: a da investigação. A partir  da proposição de uma situação-problema, os alunos e as alunas têm a possibilidade de coletar e analisar dados, elaborar hipóteses, pensar em estratégias e planos de ação de forma criativa, e obter resultados e soluções. Isso pode ser aplicado não só nas aulas de Ciências, mas também nas outras disciplinas e futuramente na vida profissional, seja em qual área for.  

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Valorização do repertório cultural

A cultura está em tudo: nos hábitos alimentares, na maneira como nos vestimos, na forma com que conversamos. Na escola e no ambiente de trabalho não é diferente. Todas as ações que realizamos  trazem grandes influências culturais. Como lidar com tudo isso? A escola tem o papel de estimular a formação do repertório cultural em todos os sentidos, não apenas na transmissão direta de conteúdo. 

A ideia é que alunos e alunas tenham maior empatia e sensibilidade para conhecer outras culturas e aumentem sua sensação de pertencimento em relação à nossa história e à nossa cultura. E mais do que isso: se sintam seguros(as) para expressar suas próprias inclinações, criando e praticando a arte. Essa valorização do repertório cultural gera impactos na vida pessoal e profissional.

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Comunicação é essencial para uma convivência saudável

Como seu filho ou sua filha se comunica? Comunicação é um exercício que deve ser praticado todos os dias, por meio de diferentes linguagens: verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital. Ela é fundamental em nossas vidas. É uma forma de partilhar informações, experiências, ideias, sentimentos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 

Porém, será que todos(as) conseguem se comunicar bem? Estimular o desenvolvimento dessa competência em alunos e alunas é um grande desafio para professores e professoras. Essa não é, contudo, uma tarefa só deles(as), mas, sim, de toda a comunidade escolar, inclusive das famílias. 

Lá na frente, quando os(as) estudantes se tornarem profissionais, seja em qualquer área, comunicar-se bem fará uma grande diferença. A comunicação, quando bem estruturada, evita conflitos, retrabalhos, desentendimentos, e, ao mesmo tempo, garante um ambiente de paz e compreensão mútua para todos(as) que dela fazem parte. O trabalho em equipe poderá render bons frutos.

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O bom uso consciente da tecnologia  

A cultura digital se tornou tão importante nos dias de hoje que virou uma das competências gerais da BNCC. A ideia é que as crianças e os(as) adolescentes desenvolvam habilidades digitais e aprendam a usar os recursos tecnológicos de forma significativa e ética, seja na vida escolar, social e familiar. A finalidade é que consigam se comunicar, acessar e disseminar informações, estudar, produzir conhecimentos e resolver problemas utilizando as tecnologias digitais. 

O ensino híbrido (presencial e remoto) – tendência que se fortaleceu durante a pandemia do Coronavírus – reforçou mais ainda a importância da cultura digital. Vale lembrar que o mercado de trabalho exige cada vez mais o domínio de ferramentas tecnológicas, por isso, quanto mais os(as) estudantes se envolverem com a cultura digital, de forma positiva, crítica e consciente, durante a vida escolar, mais chances de êxito terão em suas profissões.

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Qual é o caminho para se construir um projeto de vida?

É comum jovens ficarem indecisos(as) e inseguros(as) na hora de escolher sua futura profissão. Há aqueles(as) que se matriculam em cursos superiores sem realmente saber se a profissão está ligada a seus projetos pessoais. Outros(as) chegam a concluir sua formação, mas demoram para encontrar um caminho dentro da profissão ou até nem encontram na mesma área de seu diploma. Por isso é tão importante começar a traçar um projeto de vida ainda na fase escolar. 

É o que prevê a BNCC. A ideia é desenvolver habilidades que tornem os(as) estudantes mais competentes para entenderem o mundo do trabalho. E mais do que isso: construir uma visão ao longo dos anos da educação básica, que dê clareza não só sobre a futura profissão, mas também sobre o propósito interno de cada pessoa, seu projeto pessoal de vida.  É um processo de autoconhecimento também. Dessa forma, a escolha da carreira profissional será feita de forma mais consciente, com chance de maior felicidade e realização pessoal.

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Habilidade de argumentar com bases sólidas 

Formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns. Conseguir cumprir todas essas tarefas não é fácil. Para alcançar um bom resultado é preciso desenvolver uma habilidade desde cedo: o poder de argumentar, usando uma linha de raciocínio lógico, embasada em fatos, dados e informações confiáveis (longe das fake news). 

Afinal, para se posicionar sobre um assunto, é importante aprender sobre ele. A BNCC prevê a competência da argumentação no currículo escolar. Crianças e jovens, ao desenvolverem essa habilidade, terão mais êxito não só na futura vida profissional, mas também em outras áreas da vida, como no exercício da cidadania, na prática da consciência socioambiental e do consumo responsável.

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O desafio do autoconhecimento e do autocuidado

Conhecer a si mesmo e cuidar da própria saúde são fundamentais. Podemos incentivar desde cedo  crianças e adolescentes às práticas do autoconhecimento e do autocuidado, outra competência importante da lista da BNCC. 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde não se restringe à simples ausência de enfermidades, mas diz respeito a “um estado de completo bem-estar físico, mental e social”. Para se chegar a isso, é preciso desenvolver a consciência pessoal (conhecendo a si mesmo e as suas próprias emoções), consciência social (compreendendo seu papel como indivíduo e construindo sua identidade social), e consciência ambiental (que é a sua relação com o meio ambiente). Família e escola podem ajudar os(as) estudantes em todo esse processo.

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Trabalhar com empatia, cooperação e acolhimento

Você já deve ter ouvido falar muito sobre empatia. Mas você sabe o seu real significado? É a habilidade de compreender outras pessoas. É conseguir se colocar no lugar de outro indivíduo e entender seu ponto de vista, mesmo que não concorde com ele. Parece uma missão difícil, mas não é tanto assim. E é uma habilidade que pode ser aprendida desde a infância. A empatia tornou-se tão importante nos dias de hoje que entrou na lista da BNCC, ou seja, os(as) estudantes terão a oportunidade de desenvolvê-la através de práticas e vivências na escola.

O apoio da família será muito importante também. Por meio da empatia, vem também o diálogo, o acolhimento, a cooperação e a valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais. Tudo isso contribui para termos uma sociedade saudável, respeitosa e mais humana. 

Isso reflete positivamente também no ambiente profissional. O mercado de trabalho está valorizando cada vez mais profissionais com perfis empáticos. Uma equipe formada por integrantes que são empáticos tende a se entender melhor e a compartilhar opiniões com mais facilidade, chegando a uma resposta comum para novas ações.

Leia também: Empatia e cooperação: o processo de desconstrução para um ser empático

Responsabilidade e cidadania para um mundo ético, democrático e inclusivo

Desde cedo é importante que as crianças e os(as) jovens conheçam seus direitos e deveres como cidadãos(ãs). Mas não é só isso. Eles e elas devem aprender a exercer atividades em grupo, considerando o bem comum no momento de fazer escolhas. É importante aprender a tomar decisões baseadas nos princípios éticos, democráticos, inclusivos e sustentáveis; refletir sobre os impactos de suas ações e ser responsáveis pelas consequências que elas podem gerar. Tudo isso terá um impacto muito grande para o futuro profissional.

Outro ponto importante que deve ser desenvolvido na escola é o da liderança e da participação mediante a criação de projetos de impacto social visando a solução de problemas que afetam a escola, o bairro, a cidade e o mundo em que vivem. Eles e elas aprendem a lidar com desafios do mundo real.

Leia também: Responsabilidade e cidadania: Corresponsabilidade e transformação da escola para o mundo

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