Kids on Earth: uma plataforma global de storytelling de crianças e adolescentes

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Foto: Howard Blumenthal - fundador do KidsOnEarth conta sobre o projeto em vídeo no site homônimo que reúne mais de 600 depoimentos de crianças - InfoGeekie

Projeto de um pesquisador e comunicador norte-americano traz depoimentos de crianças e adolescentes do todo o mundo em uma plataforma que reúne mais de 600 vídeos. O conteúdo pode ser usado em sala de aula para despertar o interesse de estudantes pela cultura e situação de vida de seus pares espalhados por inúmeros países.

Ilustração: Howard Blumenthal, o fundador do Kids On Earth, conta sobre o projeto em vídeo no site homônimo que reúne mais de 600 depoimentos de crianças - InfoGeekie

Anoop é um jovem que vive em Manchester, Inglaterra. Ele tem ideias muito claras sobre como as pessoas podem ajudar outras que estejam passando por algum tipo de necessidade. Para ele, há países no mundo onde o problema é realmente severo e precisa ser resolvido. Já Lara, da Eslovênia, conta que tem um interesse particular sobre o tema da bipolaridade. Descobriu, a partir de conversas com seus familiares, que seus antepassados tiveram sérios transtornos mentais, incluindo a possibilidade de um deles ter sido um psicopata. Munida dessas informações e estarrecida com esse cenário genético, ela pesquisa cada vez mais o assunto a ponto de já demonstrar interesse numa formação futura em psicologia. Enquanto isso, em outra parte do globo, Martin, de Uganda, reflete sobre sua vida, comparando-a com jovens negros da mesma idade vivendo na Europa ou nos Estados Unidos. 

Você pode estar se perguntando: como tive acesso a todos esses jovens e suas histórias? Bem, a resposta é o tema central deste artigo: pelo projeto Kids on Earth, do pesquisador e comunicador norte-americano Howard Blumenthal. Tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente esse ano e pudemos trocar muitas ideias sobre o que se passa hoje pela cabeça e coração de crianças e jovens de diferentes partes do mundo. Ele montou um projeto adorável a partir do registro em vídeo de relatos de meninos e meninas que contam para as câmeras o que pensam, sentem e sabem sobre a vida que os rodeia. São vídeos de curta duração, em formato “portrait”, sem interferência do “repórter”, onde esses jovens discorrem livremente sobre temas diversos. Desde questões relativas à direitos humanos, passando por seus desejos de prosseguir estudando ou mesmo sobre suas famílias, amigos e brincadeiras favoritas. Os tópicos são tão amplos quanto são os jovens que se voluntariam a participar desses encontros.  

Howard normalmente constrói parcerias locais que permitem que ele chegue a um país diferente, munido de seu equipamento de áudio e vídeo, montando o set em locais tranquilos e já previamente organizados para a conversa, onde ele e seus jovens interlocutores vão travar um diálogo e mergulhar nessa narrativa de boas histórias a serem compartilhadas. Mesmo que a criança ou jovem não domine o inglês (idioma das entrevistas), um mediador bilíngue pode cumprir esse papel de facilitador do diálogo. 

Howard me contou que o projeto Kids on Earth foi inspirado num dos objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas. Especificamente aquele que trata de Educação de Qualidade: assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. Dentro desse “frame”, há uma meta a ser alcançada: até 2030, garantir que todos os alunos adquiram conhecimentos e habilidades necessárias para promover o desenvolvimento sustentável por meio de educação e estilos de vida sustentáveis, direitos humanos, igualdade de gênero, promoção de uma cultura de paz e não-violência, cidadania global, valorização da diversidade cultural e da contribuição da cultura para o desenvolvimento sustentável. 

O resultado da coleção de mais de 600 vídeos, liderada por Howard Blumenthal, pode ser acessado gratuitamente no portal https://www.kidsonearth.org/. O pesquisador e comunicólogo da Universidade da Pensilvânia sempre lembra que os vídeos podem ser assistidos em casa, na escola, em projetos sociais, com pequenos ou grandes grupos. O que ele quer mesmo com tudo isso é suscitar o debate e troca permanente de ideias, mapeando e registrando os pensamentos, desejos, angústias e conquistas desses jovens de tantas partes do planeta. 

Somos sujeitos que se fundam a partir do princípio da alteridade. Isso quer dizer que existimos e nos constituímos nessas trocas que estabelecemos com outros seres humanos, enxergando o que é próprio e particular de nós mesmos e também, sobretudo, aquilo que nos aproxima e nos molda como sociedade. Por isso a importância de um projeto como esse. 

E você, já parou para conhecer o que pensam os jovens do seu entorno? Certamente você vai se emocionar com essas histórias!

* Debora Garcia é pedagoga, mestre em Educação pela UFF, Fulbright Scholar pela Georgia State University, GA e especialista em Gestão do Conhecimento pela COPPE-UFRJ. É sócia-diretora da Elektra Conteúdo e colaboradora do Canal Saúde da Fiocruz. Foi Gerente de Conteúdo do Canal Futura por mais de 20 anos e é uma das autoras do livro “Destino: Educação – Escolas Inovadoras”, publicado pela Fundação Santillana/Ed. Moderna. Em 2017, em conjunto com Daniela Kopsch e Daniela Belmiro, idealizou e criou o blog “3DEVI”, um espaço para contos, ensaios e reflexões da mulher contemporânea.

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