Indisciplina na sala de aula não deve ser vista como inevitável, diz professor. Ele explica como a tecnologia ajudou a resolver esse problema.
O professor Claudemir Basquera trabalhou na Educação Básica por 15 anos, antes de migrar para o Ensino Superior. Durante sua experiência na escola, em que teve turmas do Ensino Fundamental e Médio, percebeu que algo repetido por seus colegas de profissão o incomodava: que a bagunça, a indisciplina na sala de aula, era “normal”. Não tinha jeito, era assim mesmo.
“Vejo a indisciplina como algo não inerente e nem natural ao ambiente escolar”, explica Claudemir. “Porém, os próprios professores e gestores a veem como algo natural. Na verdade, a indisciplina na sala de aula depende muito mais do professor do que do aluno”.
Pelos dados, parece mesmo que a desordem é o estado natural da sala de aula. Em 2015, uma pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostrou que, no Brasil, 20% do tempo da aula é usado para acalmar os ânimos e lidar com problemas de comportamento. Outros 13% eram gastos com burocracia, deixando apenas 67% do tempo em sala realmente dedicado à aula propriamente dita.
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Isso significa que o professor deve ser autoritário, instaurar medo entre os alunos por meio de castigos e ameaças? Dificilmente. Afinal, esse modelo pode até educar alunos “obedientes” – por outro lado, inibe questionamentos, reflexões e argumentações, todas habilidades imprescindíveis na educação do século 21. Então, como criar um ambiente em que a turma se sinta livre para dialogar e construir conhecimento de forma colaborativa… Sem transformar a sala de aula em uma confusão?
O que causa a indisciplina na sala de aula?
Segundo Claudemir, a indisciplina na sala de aula surge a partir de certas características muito específicas: aulas pouco inovadoras, repetitivas e desatualizadas. “O professor deve, sempre, buscar trazer aqueles conteúdos que são relevantes e relacioná-los com o que está acontecendo fora da escola”.
Claudemir também aposta no uso de tecnologias para amenizar – ou até mesmo extinguir – a indisciplina na sala de aula; porém, engana-se quem pensa que, por tecnologia, ele quer dizer apenas tablets e aplicativos. Qualquer ferramenta ou técnica que facilite o aprendizado, explica, pode ser considerada uma tecnologia educacional.
“Quando eu era criança, eu e meus colegas levávamos gibis para a sala de aula. Isso, por si só, é uma tecnologia”, ele conta. “O problema é que, ao invés de apoiar o uso de gibis para incentivar a leitura, nossos professores os proibiam e mandavam ler Iracema, que, naquela idade, achávamos chato. Isso fez com que muitas crianças crescessem sem gostar de ler”.
O mesmo vale, hoje, para outras tecnologias que fazem parte da vida dos jovens, mas são barradas na porta da sala de aula. O exemplo mais corriqueiro é o smartphone. O professor sugere que ele seja usado para tirar dúvidas em tempo real, ou até mesmo como ferramenta de pesquisa.
Para Claudemir, “acordos são importantes. O celular não precisa ser proibido, afinal, o avanço é inevitável. Mas é preciso combinar com a turma como e quando a ferramenta pode ser utilizada”. Ao se estabelecer acordos, é essencial que se cumpra o que foi dito – do contrário, a palavra do professor passa a valer pouco diante da turma.
Essa mudança exige um processo cuidadoso, que conte com atenção e paciência do professor. Ainda que essa geração esteja habituada a usar tecnologias digitais para comunicação e entretenimento, saber aplicá-las com objetivo educacional também exige um período de aprendizagem. “Não posso trazer uma tecnologia hoje e esperar que meus alunos estejam adaptados a ela amanhã”.
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Em suas aulas – agora, como professor universitário – o ambiente virtual já se tornou aliado: alunos recebem material de leitura prévio sobre o tema que será discutido e, além de estudarem em casa, são convidados a levar conteúdos complementares para debate. As aulas, antes expositivas, foram transformadas em momentos de diálogo e discussão, após a qual os estudantes respondem uma enquete que contempla os conteúdos trabalhados, o que foi entendido e opiniões sobre a dinâmica.
É preciso ser ‘palhaço’ para evitar a indisciplina na sala de aula?
A ideia de que o professor precisa criar um espetáculo, contar piadas e usar fantasias para engajar seus alunos é descartada por Claudemir, para quem o essencial é desenvolver um relacionamento de amizade e respeito com a turma. Ele se diz um crítico à sala dos professores, onde se estabelece uma hierarquia que, não raramente, coloca o professor no papel de vilão.
“Passo o intervalo com meus alunos, é a chance de uma aproximação em um ambiente mais informal. O maior causador da indisciplina é o aluno ver o professor como um inimigo, alguém que vai obrigá-lo a aprender coisas que ele não quer”, afirma. O professor garante que o conhecimento pode ser algo prazeroso sem que o professor precise ser o palhaço em sala de aula; a partir do momento em que o estudante percebe que o que está aprendendo afeta sua vida, ele se envolve no aprendizado.
No fim das contas, resume Claudemir, a regra é simples: descartar aquilo que não funciona mais, manter o que é eficiente e buscar sempre inovação.
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* Claudemir Basquera é graduado em História e mestre em História Regional pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Atualmente é Professor de Ensino Superior nos Cursos de Direito, Jornalismo, Turismo, Ciências Contábeis, Administração, Pedagogia, Pedagogia e Publicidade e Propaganda da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas Facisa-CELER Faculdades e professor de pós-graduação da CELER Faculdades. Atua em cursos de formação docente em toda a região Oeste de Santa Catarina e em partes do Rio Grande do Sul.
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