Você já deve ter ouvido esta piada: um homem é congelado por vários séculos e, ao despertar, não reconhece mais o mundo em que vive – a tecnologia deixou casas, empresas e hospitais irreconhecíveis para ele, que veio do passado. O único lugar que ainda é o mesmo, adivinhe? É a escola. A historinha é contada com frequência para criticar as estruturas tradicionais da educação e indicar que a escola, também, precisa se atualizar para acompanhar seus alunos.
Foi essa a anedota que abriu o painel “Por que temos que construir uma nova escola?”, ontem (30/03), no GEDUC. O evento é o maior em gestão educacional da América Latina e, dentre seus convidados, estava Claudio Sassaki, cofundador e CEO da Geekie. Na tarde dessa quarta-feira, ele se reuniu com outros três professores e especialistas em educação inovadora para discutir o futuro da escola e como ele pode começar agora.
“Eu não tenho simpatia por essa piada”, disse a professora Sonia Barreira, da Escola da Vila, logo no começo do debate, “porque ela desconsidera nossos avanços”. Afinal, a escola costumava ser um privilégio para poucas crianças e jovens. Com a popularização do ensino (hoje, mais de 98% da população entre 6 e 14 anos está na escola), vieram novos desafios: estamos partindo de um ensino isolado para um de conexão e colaboração; da transmissão de conteúdos para a construção do próprio conhecimento.
A tecnologia digital tem tudo a ver com esse momento. Como explicou a professora Sonia, “a escola precisa estar tecnicamente preparada para transformar as boas intenções em práticas” e proibir aparatos tecnológicos seria tentar nadar contra a corrente. Ao invés disso, o educador precisa descobrir como usá-los a seu favor.
Geekie: tecnologia para personalizar
Para Sassaki, a Geekie faz parte desse movimento de capacitar as escolas, já que oferece um ensino personalizado, que identifica as lacunas no aprendizado de cada aluno, sugerindo conteúdos e direcionando as intervenções do professor em sala de aula. Tudo foi criado a partir da pergunta: “se duas pessoas aprendem de maneiras diferentes, por que tentamos ensinar todos da mesma forma?”.
“O sistema que temos hoje nas escolas convence pessoas brilhantes de que elas não são inteligentes”, durante a fala de Sassaki, a plateia acenou com a cabeça, concordando. Quem não conhece um aluno assim? “Mas o sucesso escolar tem mais a ver com como a pessoa aprende do que se ela tem ou não capacidade“, concluiu. Muitas vezes, alunos com dificuldades só precisam de uma abordagem diferenciada e atenção individual. Por outro lado, alunos diferentes poderiam avançar em conteúdos nos quais têm facilidade, mas acabam frustrados ao serem obrigados a acompanhar a turma. Infelizmente, ter esses momentos para trabalhar com cada aluno separadamente é impossível para a maioria dos professores.
Com auxílio da tecnologia, isso passa a ser possível. Basta observar a melhora no desempenho dos estudantes que usaram o Geekie Lab, por exemplo: em apenas um bimestre, o aproveitamento deles na escola aumenta em média 30%.
Além do conteúdo
Ter apoio da tecnologia permite que o professor tenha mais tempo para desenvolver outros olhares sobre a educação. Um dos mais discutidos, hoje, é encontrar maneiras de tornar o aprendizado relevante para a realidade dos alunos, ou seja, de contextualizar e aplicar o conhecimento visto em sala de aula. Essa foi uma das reflexões lançadas por outro dos panelistas, o educador e diretor da UNO Internacional, Pablo Doberti. A resposta pode recair tanto sobre os temas em si quanto sobre as formas como esses temas são levados para os alunos.
Desenvolver habilidades que condizam com as necessidades do mercado de trabalho também veio à tona. “Normalmente, quando se aumenta o tempo que crianças e jovens passam na escola, a produtividade do país também aumenta”, contextualizou Sassaki, já ao final do evento, “mas, no Brasil, estamos na contramão”. Apesar de termos mais pessoas na escola e por mais horas do dia do que em qualquer outro momento da nossa história, isso não se reflete na mercado. Isso, somado aos índices de desemprego entre jovens, pode ser sinal de que a educação precisa se adaptar para criar profissionais mais preparados.
Traços como colaboração, criatividade, liderança e inteligência emocional estão entre os mais procurados por recrutadores (além de serem valiosos na vida pessoal dos alunos). Claro, a família tem o papel principal na hora de transmitir essas características – mas por que a escola não proporciona ambientes e atividades que também estimulem essas habilidades? Sassaki resumiu suas expectativas para a escola do futuro: “Quando eu era adolescente, via a escola como algo que me ajudaria a encontrar o emprego dos meus sonhos. Para meus filhos, quero uma escola que os ajude a criar o emprego dos sonhos”.
Comment section