Primeiro dia do XVIII Congresso Brasileiro de Gestão Educacional contou com palestra magna do jornalista Caco Barcellos e participação da Geekie no painel que abordou as transformações da educação.
O Congresso Brasileiro de Gestão Educacional, o GEduc, chegou em sua 18ª edição com o tema “Disrupção na Educação”. Para tratar do assunto, a Humus, empresa organizadora do evento, elaborou uma programação de palestras e painéis que abordam o futuro, as transformações e as oportunidades para a Educação Básica, Técnica e Superior. A diretora pedagógica da Geekie, Camila Karino, participou do painel “Tudo e todos em transformação” no qual apresentou as perspectivas do processo de aprendizagem para o cenário de pós-pandemia do coronavírus.
“Qual é o nosso propósito?”
O GEduc, que acontece entre os dias 27 e 31 de julho, abriu a edição de 2020 com as palestras de Tiago Mattos, considerado um dos principais futuristas da nova geração, e Caco Barcellos, jornalista atualmente à frente do programa Profissão Repórter da Rede Globo.
Em sua fala, Barcellos propôs uma reflexão aos gestores e às gestoras que participaram do primeiro dia de evento: “Qual é o nosso propósito?”. A reflexão era o pano de fundo de sua palestra magna “Os Desafios da Nova Educação na Formação de Jovens Empreendedores”.
O jornalista destacou a importância de estudantes conhecerem a realidade brasileira que está do lado de fora dos muros das escolas. Ele ainda reforçou o papel de profissionais da Educação Básica na conscientização desta aproximação com as diferentes realidades da população brasileira, em especial as mais carentes. Além de questionar sobre o propósito de educadores e educadoras, ele ainda propôs a reflexão aos(às) participantes sobre “De que maneira podemos desejar e contribuir com a transformação que queremos?”.
Outro destaque de sua fala foi a corresponsabilidade das famílias no processo de aprendizagem dos estudantes. Barcellos destacou que no Brasil, muitas famílias são chefiadas por mulheres e isso traz uma presença mais forte das mães no acompanhamento dos estudos de alunos e alunas. Esta percepção se tornou ainda mais forte durante a pandeia quando as aulas foram adaptadas para o modelo a distância e traz um potencial grande para escolas se aproximaram das famílias para estreitar essa relação.
“Tudo e Todos em Transformação”: uma aprendizagem centrada em estudantes
Já no começo da tarde, a pauta do GEduc era sobre as transformações e disrupções na Educação. Para tratar do tema sob a ótica da Educação Básica e Técnica, a equipe organizadora do evento apresentou dois painéis. O primeiro, “Como ser um professor disruptivo” contou com diretores e diretoras dos Colégios Cruzeiro e Liceu Jardim, além de Débora Garofalo, finalista do prêmio Top 10 Global Teacher Prize 2019, considerado o Nobel da Educação.
Na sequência do debate focado em docentes, a programação do evento trouxe o painel “Tudo e Todos em Transformação – Novas Formas de Pensar, Aprender e Ensinar”, no qual a diretora pedagógica da Geekie, Camila Karino, apresentou a visão dos efeitos da pandemia para o reforço de uma aprendizagem mais coerente com as necessidades de estudantes.
O debate relacionado às mudanças que a educação passou nos últimos anos começou com a fala da professora doutora Marícia Ferri, diretora pedagógica do Colégio Farroupilha e cocriadora da Escola de Professores Inquietos.
Ferri começou sua fala destacando que a pandemia acelerou um processo de mudança na Educação que já vinha acontecendo em um ritmo mais lento. Além de destacar que hoje é impossível voltar ao mesmo modelo de educação tradicional de antes da pandemia, Ferri explicou que este novo modelo deve colocar o estudante no centro do processo de aprendizagem para uma preparação que não seja apenas para o vestibular, mas para a vida.
Para ilustrar sua percepção, a diretora pedagógica relatou práticas e projetos desenvolvidos no Colégio Farroupila, uma instituição com 134 anos e mais de 3 mil estudantes. Além de mostrar os depoimentos de estudantes e a intencionalidade pedagógica de cada projeto apresentado, Ferri também destacou que o contexto atual é propício para “repensarmos nossas práticas para que o momento que os estudantes passam conosco tenha sentido”. A educadora também destacou a importância dos docentes como parceiros de trabalho neste cenário tão desafiador.
A Nova Era da Educação no GEduc 2020
Ainda no painel “Tudo e Todos em Transformação”, Camila Karino enriqueceu o debate a partir da percepção da Geekie sobre a configuração da Nova Era da Educação.
“Quando falamos em transformação, pensamos às vezes em transformar os alunos, o processo de aprendizagem, mas para atingir isso, precisamos transformar a escola e a forma de pensar dela primeiro”, destacou a diretora pedagógica da Geekie no início de sua fala.
A partir desta ótica sobre o foco da transformação, Karino reforçou que a pandemia do coronavírus acelerou uma mudança inevitável nas escolas. Essa transformação, que já vinha acontecendo em diversos setores, aproximou educadores e educadoras de uma aprendizagem com uso mais forte de tecnologias com intencionalidade pedagógica.
Para contextualizar essas mudanças, a diretora pedagógica da Geekie destacou a análise do Fórum Econômico Mundial sobre as 4 maneiras que a COVID-19 pode mudar como nós educamos as gerações futuras. Na percepção da instituição global representada pela análise de Sandy Mackenzie, diretora da Copenhagen International School, e Poornima Luthra, membro externo da Copenhagen, as 4 maneiras são:
- Educar os cidadãos em um mundo interconectado;
- Redefinir o papel do(a) educador;
- Ensinar competências da vida necessárias para o futuro;
- Integrar tecnologia à educação.
A partir desta análise e de um estudo geral sobre as consequências do coronavírus para a educação, Karino trouxe a visão da Geekie sobre os principais elementos que devem guiar a Nova Era da Educação:
A aceleração da transformação da educação trouxe, para muitas escolas que se adaptaram de maneira rápida e eficiente ao contexto, um maior uso de tecnologias. Frente a essa experiência de mudanças, o processo de ensino e aprendizagem ganhou um potencial para oferecer uma formação integral – acadêmia e socioemocional – coerente com a realidade, desafios e perspectivas de alunos e alunas nativos digitais.
Para essa formação preconizada por muitas escolas e colocada como objetivo da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a Nova Era da Educação traz a possibilidade de uma educação conectada, visível, personalizada e ativa.
Conectada
A presença maior de tecnologias no processo de ensino e aprendizagem reforça a tendência do ensino híbrido. O uso de dispositivos e aplicativos, no entanto, prescindem de uma intencionalidade pedagógica para que tenham coerência com a proposta pedagógica da escola e a realidade de estudantes. É na fluidez entre momentos online e offline, com ou sem o apoio de tecnologias que está na base desta forma de ensinar e aprender.
Com este reforço e o contexto de maior conectividade proporcionado pela pandemia, a Nova Era da Educação traz consigo não apenas o caráter híbrido, mas também uma maior inserção global e consciência quanto à cidadania digital para estudantes, docentes e toda a comunidade escolar. Estes três elementos que reforçam uma educação mais conectada, permitem que conhecimentos sejam compartilhados e construídos sem os limites físicos de uma realidade offline, mas com a mentoria e orientação de docentes.
Visível
Como as aulas a distância levaram a sala de aula para dentro das casas de estudantes, o processo pedagógico ficou mais visível para famílias. Elas se aproximaram da forma como a escola conduz a aprendizagem de seus filhos e suas filhas reforçando a noção de corresponsabilização pelo desenvolvimento integral de estudantes. Sobre essa aproximação, a diretora pedagógica da Geekie destacou em sua fala no GEduc 2020:
Não foi apenas as famílias que tiveram maior visibilidade com todo o contexto da pandemia. Mesmo distantes, docentes e discentes também tiveram a oportunidade de adotar uma nova concepção sobre o processo avaliativo, por exemplo. Se as provas só conferiam notas nos finais de ciclos, na Nova Era da Educação, elas devem fazer parte de um processo formativo com intencionalidade, pautando o desenvolvimento de estudantes a partir de feedbacks construtivos e orientadores.
Personalizada
Outro ponto importante do novo contexto do processo de ensino e aprendizagem é a possibilidade de maior personalização. “É importante olharmos para os extremos de uma curva de desempenho de estudantes e não apenas para a média. Personalização não é só no indivíduo, mas diferenciação de instrução em grupos”, esclareceu a diretora pedagógica da Geekie em sua fala no GEduc 2020.
Neste ponto, a personalização traz consigo a importância da diversidade, da equidade e da efetividade. Karino destacou que é preciso reconhecer que as salas de aula são heterogêneas, ou seja, há estudantes em diferentes níveis de proficiência nas distintas áreas do conhecimento. Com este reconhecimento, professores e professoras devem dedicar sua atenção ao desenvolvimento pautado pelo o que de fato o aluno ou a aluna necessita.
Ativa
O último elemento da Nova Era da Educação apresentada por Camila Karino foi uma aprendizagem mais ativa. Este também é um reforço, assim como o ensino híbrido, da prática docente pautada em metodologias ativas. Elas são uma das formas de colocar estudantes no centro do processo de aprendizagem por meio do raciocínio crítico, da observação, questionamentos, explicações etc.
Com essas metodologias, não apenas o pensamento ativo é valorizado, mas também o engajamento no processo é garantido por meio do envolvimento direto na aprendizagem. Para docentes, as metodologias ativas proporcionam experiências coerentes com os objetivos pretendidos para cada área e objeto do conhecimento.
O GEduc 2020 continua até a próxima sexta-feira, 31 de julho.
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