O confinamento trouxe oportunidades preciosas às famílias, como o fortalecimento das conexões com crianças e jovens, o aumento da corresponsabilidade na educação e o uso maior de tecnologias digitais para acompanhar de perto a vida escolar. Resta saber se todas essas mudanças vão perdurar na era pós-coronavírus. Confira a opinião e dicas da especialista em Disciplina Positiva, Bete P. Rodrigues.
A pandemia tem mudado a forma como os alunos e as alunas estão estudando em todo o mundo. Novos hábitos estão impulsionando cada vez mais a integração da tecnologia e a educação. Na China, por exemplo, 120 milhões de estudantes tiveram acesso a materiais didáticos pela TV; na Nigéria, crianças conseguiram estudar por meio de ferramentas como o Google Classroom; no Líbano jovens produziram vídeos de suas aulas de Educação Fisica online, segundo dados divulgados na Plataforma de Ação Covid do Fórum Econômico Mundial. No Brasil, as escolas também tiveram que se adaptar a essa nova realidade, mesmo com todas as dificuldades no uso de novas tecnologias, principalmente nas instituições de ensino públicas.
Estamos entrando na “Nova Era da Educação” – um novo paradigma no qual o foco é a aprendizagem mais visível, conectada, personalizada e ativa – uma possibilidade advinda da maior inserção de tecnologias no contexto escolar a distância e que tende a ser reforçada no contexto da volta das aulas presenciais, com uma valorização maior do ensino híbrido – metodologia de ensino que une o físico ao digital de maneira integrada nas práticas pedagógicas das escolas. Essa é a tendência do período pós-coronavírus. E como as famílias estão enfrentando essa fase?
Na quarentena, pais, mães e responsáveis acompanharam os estudos de seus filhos e suas filhas e puderam constatar os bastidores que envolvem o ensinar e o aprender. “Nesse cenário, muitas famílias se beneficiaram da oportunidade de ter mais tempo de qualidade juntos”, afirma Bete P. Rodrigues, consultora educacional e trainer em Disciplina Positiva – abordagem sócio-emocional que ajuda adultos a desenvolver nas crianças e nos(nas) adolescentes habilidades de vida. E os ganhos não param por aí. A especialista elenca vários outros benefícios. Veja aqui.
Conexão maior entre família e alunos(as)
O confinamento está sendo uma grande oportunidade de fortalecer a conexão entre família e crianças e jovens:
Mas como fortalecer essa conexão? É um grande desafio. A especialista apresenta ferramentas da Disciplina Positiva que podem ajudar nessa empreitada. Uma delas é dar mais atenção e conversar na posição da altura dos olhos de seu filho ou sua filha.
“Se for uma criança pequena, talvez precise se abaixar um pouco para ficar na mesma altura”, recomenda ela. E detalhe: o tom de voz deve sempre ser respeitoso, calmo, sereno, baixo e terno. Vale também demostração de afeto e um sorriso. Isso é ser empático e democrático. Assim o vínculo se torna mais forte.
Valorize o tempo com mais qualidade
O confinamento também nos deu a oportunidade de melhorarmos a qualidade do tempo em que passamos em casa com nossos familiares, seja nas refeições, nas atividades de lazer e também nos estudos. Uma boa forma de colocar isso em prática é demonstrar interesse pelo filho ou pela filha, com atenção total, mesmo que seja por um curto período de tempo no dia.
Isso vale tanto para auxiliar nas tarefas escolares quanto no ensino das habilidades de vida, como lavar as mãos direito, alimentar-se de forma saudável e até lidar com situações mais sérias que envolvem sentimentos como medo, frustração, saudade, tristeza, raiva e ansiedade – todos mais aflorados nessa época de quarentena.
Escuta ativa: valide sentimentos e escute com atenção
Uma dica da professora Bete para aproveitar positivamente esse tempo com qualidade, principalmente nos estudos, é a escuta ativa. Segundo ela, ao invés do(a) adulto(a) dar ordens e instruções ao filho ou à filha, é melhor trocar por perguntas verdadeiras e abertas, que são chamadas pela Disciplina Positiva como perguntas curiosas.
Um exemplo é substituir a frase “Faça a lição!” por “Filho, você já resolveu a lição?’. A ideia é não falar mais nada após a pergunta, apenas ouvir o que a criança ou o adolescente tem a dizer. É possível ir até mais a fundo. Para a especialista, é importante primeiro a conexão e depois a correção de comportamento:
Maior consciência dos papéis de cada um
Todas essas oportunidades são bem-vindas. Mas será que as famílias estão, de fato, conseguindo essa conexão? E elas vão perdurar pós-coronavírus? Todo o estresse da quarentena pode nos levar de volta para o agora conhecido “velho normal” (o cenário anterior à pandemia): famílias ainda distantes do desenvolvimento dos filhos e das filhas e uma relação ainda distante da escola?
De acordo com a Bete, há famílias que não quiseram se envolver e não interferiram na vida escolar das crianças e dos(as) adolescentes. E é possível que continuem assim na pós-pandemia. Porém, há também muitas famílias que estão mais participativas e que estão tendo a oportunidade de conhecer melhor um aspecto que antes desconheciam: os filhos e as filhas como estudantes.
“Eu acredito que as famílias estão mais conscientes do seu papel e também do papel dos professores, da escola e dos alunos e das alunas”, explica a especialista. Por isso, a tendência é que pais, mães e responsáveis estreitem mais a relação com as escolas e aproveitem as lições deste período para repensar os processos de ensino e aprendizagem.
A corresponsabilidade entre famílias e escolas
Outro ponto positivo trazido pelo confinamento e que tende a perdurar na pós-pandemia é uma maior corresponsabilidade das famílias na educação de seus filhos e suas filhas. A escola tem seu papel no desenvolvimento integral de estudantes, mas as famílias têm a corresponsabilidade, principalmente, de ensinar as competências socioemocionais , que é desenvolver habilidades de vida como as emocionais – resiliência, responsabilidade, autodisciplina, autocontrole, autoestima, resolução de problemas – e também as habilidades sociais, que tem a ver com conviver, compartilhar e cooperar. E a oportunidade está no dia a dia dentro de casa, com divisão de tarefas, por exemplo. É preparar filhos e filhas para o mundo.
Sem medo da tecnologia
Mesmo com a inclusão de novas tecnologias na vida escolar, muitas famílias ainda têm medo de materiais totalmente digitais. Um dos temores é o tempo excessivo de exposição à tela; outro é o acesso de sites indevidos, por exemplo. Como lidar com isso? Bete dá uma dica preciosa: “Uma solução é usar a tecnologia junto com os filhos e as filhas. Há aplicativos de controle parental, que checam os sites em que as crianças e os adolescentes acessam e por quanto tempo”.
A especialista também ressalta positivamente o uso de recursos tecnológicos de acompanhamento de estudos oferecidos por escolas. Olhar de perto o que as crianças e os(as) adolescentes estão estudando e como estão se desenvolvendo dá mais segurança às famílias. Além de ser uma ótima oportunidade de apoiá-los(as) nos estudos.
Bete cita o exemplo dos relatórios de desempenho escolar da Geekie:
Quem quiser saber mais sobre a Disciplina Positiva, pode entrar em contato com Bete Rodrigues pelo Instagram (@disciplinapositivabrasil) e pelo site www.beteprodrigues.com.br.
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