Ensino híbrido: o aluno no centro do processo

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Ensino híbrido e o aluno no centro do processo

Professoras-pesquisadoras contam sua experiência com Ensino Híbrido colocando o aluno como centro do processo de aprendizagem. Elas fizeram parte do Grupo de Experimentação do Ensino Híbrido, coordenado pela doutora em Psicologia Escolar Lilian Bacich, colunista do InfoGeekie

Afinal, por que tanta conversa em torno de abordagens como o Ensino Híbrido? Uma rápida busca por palavras como “educação”, “ensino” e “aprendizagem” em bases de dados, jornais, revistas eletrônicas e nas redes sociais revelam uma gama de publicações envolvendo esses temas. Levante a mão quem não tem refletido e se questionado sobre as razões dos alarmantes dados divulgados acerca da educação no país!

Fato é que a qualidade do ensino-aprendizagem nunca foi tão debatida e questionada como tem sido nos últimos 10 anos. Certamente, isso decorre de profissionais da educação, professores, gestores, estudiosos, pesquisadores, pais e alunos preocupados com os baixos resultados apresentados, principalmente nas instituições públicas; unidos à facilidade de divulgação, de acesso à informação, o crescimento das pesquisas e compartilhamentos dos resultados – proporcionado pelo uso das novas tecnologias.

Nesse contexto, na tentativa de transformar o cenário – para melhor! – surgem algumas acepções, propostas e iniciativas. Com o objetivo de atender às reais necessidades do aluno e otimizar o espaço escolar por meio das novas tecnologias, o Ensino Híbrido apresenta-se como uma proposta de personalização e uso das tecnologias na educação, permitindo mesclar o online com as demais atividades presenciais.

As competências da BNCC_CTA2

O aluno protagonista com o Ensino Híbrido

Uma das preocupações ao se utilizar dessa proposta é valorizar o protagonismo dos estudantes por meio da personalização das ações de ensino e aprendizagem, oportunizando momentos em que os alunos possam ser criativos, interagir com seus pares, tomar iniciativas.

Com esse objetivo em mente, as professoras, Fernanda e Lisiane acreditaram na proposta e iniciaram a aplicação da abordagem no Instituto Federal do Rio Grande do Sul, Campus Ibirubá, em 2014 – ano da formação inicial do Grupo de Experimentação do Ensino Híbrido, do qual Fernanda participa. Naquele ano, eram duas professoras com muitas inquietações e questionamentos.

De um lado, a certeza de que tanto os alunos como as professoras  poderiam ir além; por outro, as novas tecnologias batendo à porta da sala de aula e a incerteza quanto a onde, quando e como acolhê-las, de modo a potencializá-las.

O foco era o aluno. Promover um espaço interativo, a troca de conhecimentos e o uso das tecnologias digitais com intencionalidade pedagógica eram os maiores desafios. O que fazer diante disso? As professoras identificaram que um caminho possível era focar:

  1. no planejamento;
  2. na pesquisa e no desenvolvimento de projetos;
  3. no uso das tecnologias digitais.

Após as primeiras aulas, com o planejamento fechado, as professoras notaram que era impossível fazer as adaptações necessárias no dia a dia para atender às necessidades dos alunos; a opção era usar criatividade… Porém, com intencionalidade, afinal, a criatividade desorganizada (que implicaria em uma aula “improvisada”)  tiraria o foco e dificultaria a aprendizagem dos alunos, pois não envolve a sistematização do que está sendo aprendido. 

O segundo aspecto, a ênfase na pesquisa e no desenvolvimento de projetos, garantiu que fossem realizadas conexões dos conteúdos com a curiosidade e as necessidades dos alunos. Das perguntas, das dúvidas e inquietações surgiram boas pesquisas e projetos – que também exigiram planejamento e organização.

O terceiro aspecto, o uso das tecnologias digitais, foi um divisor de águas. Ao inserirem ferramentas digitais com foco no protagonismo dos alunos, elas produziram transformações significativas no processo de ensino e aprendizagem.

Dentre desafios, as professoras optaram por trabalhar com Rotação por Estações de Aprendizagem, oferecendo diferentes experiências de aprendizagem aos alunos que, organizados em pequenos grupos, fazem um rodízio pelas estações. Todos os alunos podem passar por todas as estações ou não. Isso sempre dependerá do objetivo da aula.

O que as professoras falam sobre Ensino Híbrido

“Destacamos dois fatores que consideramos importantes, que podem ser combinados ou não: o professor pode aproveitar as habilidades daqueles alunos que têm mais facilidade em determinados conteúdos para que sejam ‘monitores’. O interessante é que, muitas vezes, mesmo sem o professor direcionar, o trabalho em estações favorece a troca e os estudantes trabalham colaborativamente. Outro fator a ser destacado é que o professor tem a oportunidade de acompanhar os alunos e pode se dedicar mais àqueles que necessitam de explicações adicionais e auxílio”, explicam Fernanda e Lisiane.

Além da rotação por estações, a Sala de Aula Invertida também foi utilizada pelas professoras. Nesse modelo, a teoria é estudada em casa, no formato online, enquanto o espaço da sala de aula é utilizado para discussões, resolução de atividades e projetos coletivos. A atividade de criação de um game, utilizando o método de Sala de Aula Invertida, foi desenvolvida em uma disciplina técnica da área da Informática.

Ocorreu da seguinte forma: os alunos, como sujeitos de seu processo de aprendizagem, acessaram online recursos previamente organizados pelo professor. Em sala de aula, tiveram a oportunidade de aprofundar conhecimentos e esclarecer dúvidas, tendo o docente o papel de mediar as situações apresentadas. O recurso utilizado foi a Webquest, em que o aluno encontrava material organizado para uma consulta orientada – como procedimento metodológico, os alunos precisavam acessar a Webquest, seguir os passos definidos e desenvolver o jogo.

O que se destaca nesse modelo é que a sala de aula se constitui como um espaço de reflexão e construção coletiva. Como recursos de avaliação foram utilizados um diário de bordo e um Mapa da Empatia, ambos para analisar o processo de construção do conhecimento e a maneira de pensar dos alunos sobre a atividade.  

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Estrutura e apoio da gestão: desafios para o Ensino Híbrido

Nas práticas que relataram, as professoras indicam que um dos desafios para colocar o Ensino Híbrido em prática é que o aluno precisa participar ativamente do processo – o que implica em uma mudança de atitude e paradigma. “Assim como ainda há aulas totalmente expositivas, temos alunos acostumados a ouvir e ‘reproduzir’ aquilo que manda o professor, sempre seguindo o ‘passo a passo'”, afirma Fernanda.

Outro desafio é que a instituição de ensino precisa oferecer uma estrutura mínima e dar suporte ao trabalho do professor. Primeiro, em termos do trabalho conjunto dos diferentes profissionais e setores; segundo, com um olhar estratégico para o investimento e foco na potencialização desses recursos.

“Nossa instituição”, explicam as professoras, “compreendeu a proposta e tem batalhado por melhores instalações e suporte, o que contribuiu para o desenvolvimento da iniciativa. Sem apoio da gestão, comprometimento dos diferentes profissionais e setores, nada disso aconteceria. A partir da aplicação da proposta de Ensino Híbrido em turmas do IFRS-Campus Ibirubá, percebeu-se que os alunos, durante as aulas, passaram a realizar seus estudos com maior autonomia e apresentaram melhores resultados”.

“Do ponto de vista de professoras-pesquisadoras, cujo laboratório de pesquisa foi a própria sala de aula, podemos destacar que tivemos a possibilidade de refletir sobre atividades, métodos e modelos que possibilitaram a otimização dos espaços escolares, com o desenvolvimento de um ambiente colaborativo de aprendizagem; identificamos o comprometimento, a criatividade e a motivação dos grupos de estudantes, e, apesar de não ser novidade na educação, conseguimos realmente enxergar nosso aluno no centro do processo. Isso fez e faz toda a diferença”, concluem Fernanda e Lisiane.

Conheça as autoras

Lilian Bacich é Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano (IP-USP), Mestre em Educação: Psicologia da Educação pela PUC/SP (2008), graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1990) e em Pedagogia pela Universidade de São Paulo (2000), com especialização em orientação, administração e supervisão escolar. Atuação como professora e coordenadora, por 28 anos, com ênfase em Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino de Ciências e Biologia, Experiência na graduação e na pós-graduação em disciplinas relacionadas à Psicologia da Educação e a aplicação pedagógica das tecnologias digitais. Diretorta e cofundadora da Tríade Educacional e coordenadora do curso online e organizadora do livro “Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação” (Editora Penso, 2015), tema de sua tese de doutorado. Contato: bacichlilian@gmail.com

A escrita dessa coluna foi feita em parceria com as professoras:

Fernanda Schneider é professora no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Câmpus Ibirubá, doutoranda em Linguística na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Educador-Referência e Integrante do Grupo de Experimentação em Ensino Híbrido. Contato: fernanda.schneider@ibiruba.ifrs.edu.br

* Lisiane Cezar de Oliveira é professora no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Câmpus Ibirubá. É mestre em Ciências da Computação pela Universidade Federal de Santa Catarina (2004). Seus estudos abordam Educação a Distância, Educação Especial (membro do NAPNE/ Aplicativo ACALM), Inclusão Social/Digital (Programa Cativar (Apoio do Minicom)/ Clicampo (apoio do MEC), TIC´s na Educação (Objetos de Aprendizagem, Robótica Educativa, Programação para Crianças) e Educação em Informática.  Contato: guba30@gmail.com

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