Dia de Tiradentes: plano de aula para trabalhar o tema com alunos do Ensino Médio

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Plano de aula sobre Dia de Tiradentes trabalha História e Literatura, incentivando a leitura da obra Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, livro recorrente nas listas de leitura obrigatória dos vestibulares

No dia 21 de abril é comemorado no Brasil o Dia de Tiradentes, data que homenageia e lembra a morte de Joaquim José da Silva Xavier (1746-1792), dentista e ativista político da Inconfidência Mineira que era conhecido como Tiradentes. O movimento marcou o Brasil Colônia no fim do século XVIII e, inspirado na Revolução Francesa e na Independência dos Estados Unidos, desejava a emancipação do Brasil em relação à Coroa portuguesa, movido também contra os impostos abusivos que vinham sendo aplicados na Colônia pela administração de Portugal.

Desde sua execução pública, utilizada como ferramenta de intimidação pelo governo português, a figura de Tiradentes vem sendo construída como um símbolo da luta pela liberdade no imaginário nacional. Mártir republicano, Tiradentes transformou-se em arma contra a monarquia durante o século XIX. Sua imagem de herói brasileiro consolidou-se por meio da obra de grandes artistas, como Pedro Américo, Candido Portinari e Cecília Meireles. Em 1965, o dia 21 de abril, data de sua morte, transformou-se em feriado nacional no Brasil.

Como trabalhar o tema em sala de aula? 

Para ajudar você a levar o tema em sala de aula, a Geekie preparou um plano de aula que pode ser usado com seus alunos da 3ª Série do Ensino Médio e trabalhar a habilidade EM13LP46 da BNCC: compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica.

A aula envolve História e Literatura e incentiva que os(as) estudantes saibam quem foi Tiradentes e entrem em contato com Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, obra fundamental da poeta carioca muito recorrente nas listas de leitura obrigatória dos vestibulares. A partir da leitura e da análise de alguns trechos, espera-se que eles(as) percebam como esse importante livro da poesia brasileira constrói a figura de Tiradentes e trabalha o imaginário da Inconfidência Mineira.

Vamos colocar a mão na massa? Confira abaixo o plano de aula para trabalhar o tema com seus(uas) alunos(as)!

Plano de aula: Literatura | Romanceiro da Inconfidência e o mito de Tiradentes

Nesta aula, incentivamos que os(as) estudantes entrem em contato com Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, obra fundamental da poeta carioca muito recorrente nas listas de leitura obrigatória dos vestibulares. A partir da leitura e da análise de alguns trechos, desejamos que eles(as) percebam como esse importante livro da poesia brasileira constrói a figura de Tiradentes e trabalha o imaginário da Inconfidência Mineira.

A sequência didática é dividida em três partes: aquecimento – para começar e refletir, problematização – expressando ideias e consolidação – antes eu pensava, agora eu penso.

Objetivo-chave: Eu compreendo a relação existente entre a literatura e a construção do imaginário coletivo nacional.

Objetivo de aprendizagem: Analisar a construção literária de Tiradentes por meio da obra Romanceiro da Inconfidência.

1ª parte: Aquecimento – Para começar e refletir

Duração: 10 min

Você pode iniciar a aula com uma pergunta bem direta: o que vocês conhecem sobre Tiradentes e a Inconfidência Mineira?¹ Depois de recolher o conhecimento prévio dos(as) alunos(as), sugerimos a rotina de pensamentoA.Pensar-Trocar-Compartilhar, a partir da leitura do célebre trecho de O romanceiro da InconfidênciaB, de Cecília Meireles:

Liberdade – essa palavra

que o sonho humano alimenta:

que não há ninguém que explique,

e ninguém que não entenda!

Após a leitura do trecho, sugerimos que os(as) alunos(as) sigam os três passos a seguir:

  1. Peça para que eles(as), individualmente, reflitam sobre os versos e anotem suas reflexões sobre a maneira como a liberdade é abordada pela poeta, colocando no papel aquilo que compreenderam, interpretaram ou, ainda, palavras que podem ser associadas a essa ideia.²
  2. Em seguida, peça para que formem duplas para compartilhar ideias. Cada pessoa deve ouvir as interpretações e considerações da outra, anotando os pontos que tiverem chamado mais atenção e que possam ter alterado, ou complementado os pensamentos anteriores.³
  3. Para finalizar, uma pessoa de cada dupla ou grupo deverá compartilhar com o resto da turma um resumo das trocas do passo anterior.4

Por se tratar de uma palavra grandiosa, potente e de difícil definição (como o próprio poema adianta), é esperado que as respostas sejam bastante variadas, o que deverá enriquecer a atividade.

O objetivo dessa atividade é perceber o que os(as) estudantes entendem por liberdade, tema principal de O romanceiro da Inconfidência e ideia diretamente associada à figura de Tiradentes, um dos protagonistas do livro de Cecília Meireles. 

Informações de apoio

  1. Rotina de pensamento é uma atividade rápida que prevê a expressão e a visibilidade de pensamento dos(as) alunos(as).
  2. Para esta aula, usamos a edição mais recente de O romanceiro da Inconfidência, da Editora Global. Seu uso pode ser interessante por conta de seus textos teóricos, que enriquecem a leitura dos poemas. No entanto, outras edições podem ser adotadas sem nenhum prejuízo para a atividade.

Observações complementares

  1. É importante que esse momento seja breve e que os(as) estudantes se sintam livres para dizer o que vier à cabeça, sem a cobrança de “acertar” a resposta.
  2. Nesse passo, é importante que os(as) alunos interpretem os versos de Cecília Meireles para desenvolverem pensamentos interessantes a respeito da palavra “liberdade”, de tão difícil definição. A busca por sinônimos pode ser um auxílio de grande valia.
  3. Os(as) alunos(as) podem anotar as diferenças e as semelhanças encontradas durante a troca. Sugerimos que a argumentação seja estimulada nesse momento, para que as escolhas de cada pessoa da dupla sejam transmitidas com clareza para a outra.
  4. Como o tempo pode estar curto, sugerimos que haja uma seleção rigorosa dos elementos mais interessantes levantados na discussão sobre os versos.

2ª parte: Problematização – Expressando ideias: Romanceiro da Inconfidência e a construção de um mito brasileiro

Duração: 30 min

Para dar início à discussão do assunto que orienta essa aula, é provável que duas contextualizações sejam necessárias: o que foi a Inconfidência Mineira e o que é a obra Romanceiro da Inconfidência. Embora esses tópicos sejam obrigatórios nas grades de História e de Literatura, respectivamente, o trabalho de rememoração pode ser útil para as atividades posteriores.5

A respeito da contextualização sobre a Inconfidência, as respostas dos(as) alunos(as) à primeira pergunta na parte introdutória podem servir como ponto de partida. É necessário que eles(as) saibam da importância desse evento para o imaginário que cercou a Independência do Brasil e, posteriormente, a Proclamação da República. A Inconfidência é vista como um movimento libertário contra os desmandos da Monarquia portuguesa na região do ciclo do ouro mineiro, durante o século XVIII.6

Acerca da obra Romanceiro da Inconfidência, é importante que os(as) estudantes saibam que ela foi publicada em 1953, ou seja, dentro do Modernismo literário, mas que resgata uma forma poética antiga – o romance – para sua composição.7 Essa obra foi resultado do amor que a poeta sentia pela região histórica de Minas Gerais e um elogio a todos que lutaram por um país mais livre à época da Inconfidência. Ela é marcada pelo lirismo épico, portanto mistura a subjetividade da lírica com a narração de episódios aventurescos e o dinamismo da épica, além do resgate de grandes personagens heróicos da história brasileira, como Chica da Silva, Tiradentes e Tomás Antônio Gonzaga. 

Romanceiro da Inconfidência está dividido em quatro partes principais, que rememoram a história de Minas Gerais durante o período colonial: a primeira parte (romances I-XIX) relata os primeiros momentos da descoberta das minas, a cobiça pelo ouro, o sofrimento da população negra escravizada e o papel de Chica da Silva na sociedade mineira; a segunda parte (romances XX-XLVII) relata como se deu a conspiração inconfidente, como seus membros se organizaram e a repercussão que isso teve na cidade de Vila Rica, atual Ouro Preto, além de mostrar os delatores que causaram a ruína do movimento; a terceira parte (romances XLVIII-LXIV) está focada na tragédia, no martírio e na morte de Tiradentes; e, por fim, a quarta parte narra a história do poeta árcade Tomás Antônio Gonzaga e de sua amada Marília.

Essa aula vai trabalhar a segunda e a terceira partes, nas quais Tiradentes (o Alferes) aparece como protagonista. Sugerimos que os(as) estudantes se dividam em grupos. Cada grupo ficará responsável pela leitura, interpretação e discussão de dois ou três romances8 do livro:

  • Grupo 1: romances XXVII e XXVIII (Tiradentes aparece animado com os ideais da Inconfidência, mas seu grupo é traído por Joaquim Silvério)9;
  • Grupo 2: romances XXX e XXXI (os tropeiros riem de Tiradentes e dos ideais da Inconfidência);
  • Grupo 3: romances XXXIV, XXXV e XXXVI (descrição do conflito entre o traidor Joaquim Silvério e o idealista e ingênuo Tiradentes);
  • Grupo 4: romances LII e LIII (após sua prisão, o carcereiro de Tiradentes percebe que este será usado como bode expiatório da Inconfidência, o eu lírico reflete sobre o poder das palavras e das pessoas que morrem por elas);
  • Grupo 5: romances LIX e LX (os justos refletem sobre o destino injusto de Tiradentes, que começa seu calvário a caminho da forca);
  • Grupo 6: romances LXII e LXIII (um bêbado narra o que viu no dia da morte de Tiradentes, que fica em silêncio e reflexivo antes de sua morte.

Terminadas a leitura e a discussão, sugerimos que os membros dos grupos comentem entre eles, rapidamente, o que viram de mais interessante nos romances lidos e tentem resumir com palavras-chave o que mais lhes chamou a atenção. Nesse momento, sugerimos que os(as) estudantes sejam estimulados a fazer associações com outras obras de arte,c com a própria imagem que eles(as) têm de Tiradentes ou com outras histórias que se assemelham à dele (é evidente, por exemplo, o paralelo entre o martírio de Tiradentes e de Jesus Cristo). Eles(as) podem, também, comparar o trecho do poema visto no Aquecimento com os romances que leram.

Por fim, cada grupo deve escrever um pequeno texto,10 de até 10 linhas, que responda às seguintes questões:

Como a figura de Tiradentes e das outras personagens dos romances que você leu é construída?11

Essa abordagem contraria ou reforça seu imaginário sobre o mito brasileiro de Tiradentes e dos inconfidentes?¹²

Romanceiro da Inconfidência é uma obra de arte que mistura ficção e realidade para reconstruir um período histórico importante do Brasil. Você acredita que esse livro de Cecília Meireles se aproxima da verdade histórica ou não? O que faz você pensar assim?¹³

Após a escrita do texto, cada grupo terá um tempo breve de apresentação oral para os demais. 

Informações de apoio

  1. Nesse momento, você pode apresentar aos(às) alunos(as) algumas pinturas famosas de Tiradentes, que também se destacaram pela aproximação feita entre o herói mineiro e Jesus Cristo e reforçaram a ideia do martírio pela liberdade. Sugestões: 

Tiradentes esquartejado, de Pedro Américo (disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Tiradentes_quartered_(Tiradentes_escuartejado)_by_Pedro_Am%C3%A9rico_1893.jpg); 

Martírio de Tiradentes, obra atribuída a Aurélio Figueiredo (disponível em: https://artsandculture.google.com/asset/mart%C3%ADrio-de-tiradentes-aur%C3%A9lio-de-figueiredo/ogE9PWgfm4kWkQ?hl=pt); 

Tiradentes, de Candido Portinari (disponível em: https://artsandculture.google.com/asset/tiradentes/3gGCtRixP2aboA?hl=pt-br). 

Observações complementares

  1. Como essas contextualizações já foram iniciadas na primeira parte da aula, não julgamos necessário que elas se estendam por muito tempo (até 5 minutos).
  2. Essa aula é evidentemente interdisciplinar, portanto a presença do(a) responsável pela disciplina de História seria muito proveitosa.
  3. Apesar de os aspectos formais do livro não serem o foco da aula, é sempre interessante que eles sejam levantados ao longo da discussão. Dessa maneira, os(as) estudantes podem ser estimulados a comentar esses aspectos durante a leitura e as discussões. 
  4. Para agilizar a atividade, é importante que os poemas estejam disponíveis para os(as) estudantes, seja em papel, seja de maneira digital. Caso você prefira outros romances aos que estão indicados na lista, não há problema em substituí-los. No entanto, sugerimos romances mais curtos, assim como os indicados na atividade. Essa é a parte mais longa da Problematização (até 15 minutos).
  5. Esses pequenos resumos que descrevem os romances podem acompanhar as cópias dos estudantes, para que eles se situem de maneira mais imediata com a história contada.
  6. Sugerimos que essa etapa ocupe o tempo restante da Problematização (até 10 minutos). 
  7. É importante que os grupos mostrem que Tiradentes é apresentado como um idealista, um amante da liberdade, alguém que se martirizou e foi condenado por ter honrado sua palavra, alguém que se preocupa com o povo e luta por uma sociedade mais justa. Já as outras figuras se dividem entre os traidores (Joaquim Silvério, o Judas Iscariotes de Tiradentes), os que menosprezam ou escarnecem do Alferes e os que se apiedam ou admiram a coragem do herói mineiro.
  8. Provavelmente, os grupos vão dizer que reforça. A abordagem do livro aproxima-se do senso comum da história de Tiradentes, que o vê como um herói martirizado pela injustiça de uma sociedade gananciosa e tirânica. 
  9. Por ser uma obra de arte, Romanceiro da Inconfidência goza de bastante autonomia e não tem um compromisso formal com a verdade dos fatos. Dessa maneira, os grupos devem apontar que o livro se distancia do rigor histórico, contribuindo apenas para a manutenção de um mito brasileiro que inspira no povo a vontade por liberdade e a luta por uma sociedade mais justa.

3ª parte: Consolidação – Antes eu pensava… Agora eu penso…

Duração: 5 min

Depois do compartilhamento das impressões sobre os romances lidos pelos grupos, sugerimos que os(as) estudantes realizem a rotina de pensamento Antes eu pensava… Agora eu penso…,14 para sintetizar os conhecimentos recém-adquiridos. Essa rotina exige que eles(as) indiquem quais foram as mudanças de pensamento ocorridas durante a aula, substituindo as reticências por suas considerações. Como maneira de engatilhar a atividade, você pode sugerir o assunto abordado, por exemplo: “Antes eu pensava que Tiradentes era… agora eu penso que Tiradentes foi…”.

Dessa maneira, os alunos(as) podem repensar o que viram sobre a construção do mito de Tiradentes e como ele foi utilizado no imaginário nacional. Além disso, eles(as) podem refletir sobre a importância da obra de arte na construção desse imaginário coletivo. Ou, ainda, sobre o que eles(as) pensavam a respeito de Romanceiro da Inconfidência e o que pensam agora. 

Informações de apoio

  1. Essa rotina de pensamento possibilita respostas bem amplas, que contemplem qualquer mudança no pensamento ou novo aprendizado do(a) aluno(a).

* Luis Eduardo Gonçalves é Editor de Linguagens na Geekie, graduado em Letras pela USP e Mestre em Literatura Brasileira pela mesma universidade.

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