Alfero Neto reflete sobre a absorção das informações presentes no nosso dia a dia e a transformação delas em conhecimento significativo. Confira!
Algumas vezes, fico observando os alunos chegarem na sala de aula para mais um dia letivo. Depois de se acomodarem nas suas devidas carteiras, alguns abrem a mochila e retiram, entre os inúmeros livros didáticos, o material da disciplina, ligam os seus tablets e selecionam uma página do livro digital. Independente se são livros impressos ou digitais, fico admirado com a quantidade de informações que esses estudantes carregam diariamente e me pergunto: desse cabedal de informações, quantas realmente se transformaram, ou irão se transformar, em conhecimento significativo?
Percebo que essa quantidade quase incalculável de informações trouxe um grande desafio para a educação formal: muitas vezes, o maior problema não diz respeito à falta de acesso a informações e sim à pouca capacidade crítica e habilidade pedagógica para lidar com a variedade e a quantidade de dados disponíveis nos livros didáticos. Sabemos que ter informação não significa necessariamente ter conhecimento. Se, por um lado, o conhecimento depende de informação, por outro, a informação por si só não produz novas formas de representação e compreensão da realidade.
A escola não pode estar voltada exclusivamente para a informação. Essa não é a sua função, e sim a formação das novas gerações para o mundo do conhecimento. Por isso, a informação só possuirá importância na escola se for usada para desenvolver habilidades e competências, possibilitar o acesso e a produção do conhecimento assim como permitir uma leitura reflexiva da realidade a qual o cidadão está inserido.
Conhecer é o ato cognitivo de compreender para transformar a si e ao mundo em que se está estabelecendo relações entre os diversos significados de uma mesma ideia ou fato. O conhecimento, assim, passa a ser uma rede de significados. A produção do conhecimento é, portanto, entendida como um processo constante de transformação e atribuição de significados e relações entre eles. Nesse processo, a cada nova interação com os objetos do conhecimento, a cada possibilidade de diferentes interpretações, um significado se altera, novas relações se estabelecem, outras possibilidades de compreensão são criadas.
Por isso, mais do que reproduzir dados, denominar classificações ou identificar símbolos, estar formado para a vida, em um mundo como o atual, significa:
- Saber se informar,
- Se comunicar,
- Argumentar,
- Compreender,
- Agir para solucionar problemas de qualquer natureza,
- Participar socialmente de forma prática e solidária,
- Ser capaz de elaborar críticas ou propostas e,
- Especialmente, Adquirir uma atitude de permanente aprendizado.
Tenho como utopia pedagógica que a função da educação formal está diretamente ligada a ensinar a conhecer, formar para compreender, desenvolver o pensar para que os adolescentes e jovens saibam lidar com as informações e estabelecer relações entre elas, sejam elas quais forem – mais do que isso, saibam escolher, decidir, projetar, agir e criar, porque conhecem.
A simples aquisição de informações não basta para preparar os adolescentes e jovens para enfrentar os problemas da vida e fazer determinadas escolhas que podem ter um impacto importante em sua vida presente e futura, como cidadãos adultos. Não basta dar a cada criança, desde o começo de sua vida, um cabedal de informações sobre o mundo, a vida e a realidade na qual está inserida. Cada indivíduo deve ser equipado de modo a poder captar as oportunidades de aprender, tanto para alargar seus conhecimentos e suas atitudes quanto para adaptar-se a um mundo complexo e interdependente.
Nesta perspectiva, os recursos midiáticos, seja o computador, a televisão ou os dispositivos móveis, ajudam na elaboração dos diagnósticos da realidade e facilitam na associação de informações e na produção de novos saberes. Entretanto, o professor tem que ter clareza dos objetivos que deseja alcançar e dos métodos que pretende adotar, e também habilidade para manusear os recursos que serão utilizados no decorrer do processo.
Assim, pode-se perceber que a simples aquisição da informação não possibilita ao aluno fazer uma leitura da realidade que ocupa e interage. Para formar um cidadão capaz de fazer uma reflexão sobre a dinâmica na qual está inserido não basta oferecer uma infinidade de informações, é preciso que a escola, por meio da prática pedagógica do professor, seja capaz de transformar os simples dados informativos, presentes principalmente nos livros didáticos, em conhecimento significativo. Sabemos que esta tarefa não é fácil, mas possível de ser realizada quando: pontuamos para os alunos o que é essencial saber em meio a tantas informações; norteado pelo planejamento, diversificamos a metodologia de ensino dividindo com os estudantes as responsabilidades pela sua aprendizagem; por meio do uso dos recursos digitais, rompemos o descompasso entre o ensino e as aprendizagens convencionais.
*Alfero Mendes Neto é professor de Geografia e trabalha com Tecnologia Educacional na Escola Salesiana São José (Campinas – SP), graduado em Filosofia e Geografia com especialização em Uso dos Recursos Digitais na Educação pela Unicamp e Educamunicação pela Unisal. Produz conteúdo sobre metodologias de ensino utilizando os recursos digitais na sala de aula no site www.alferomendes.com.br. Entre em contato: alfero@uol.com.br.
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