Você já se perguntou por que aquelas aulas expositivas tão bem preparadas não se refletiram em bons resultados dos alunos? A consultora Cláudia Zuppini, da Elos Educacional, explica.
Você, que é professor, já se perguntou por que será que aquelas aulas expositivas tão bem preparadas que você deu, com 50 minutos de duração e excelente eloquência, não surtiram resultados satisfatórios nas avaliações dos alunos como você desejava? Algumas vezes achamos que os alunos não prestaram a atenção devida, ou que não se interessam pela nossa matéria. Assim, concluímos que eles não aprenderam nada. Mas será que é só isso?
Vamos começar nossa reflexão com o que entendemos por aprendizagem. Para aprender, precisamos de mais do que apenas sentar e ficar escutando um eloquente orador falar; aprender envolve outros aspectos além do cognitivo. O sistema de aprendizagem é uma ação complexa e abrangente do ser humano.
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Masetto (2010), em seu livro O professor na hora da verdade, considera a aprendizagem como um processo de crescimento e desenvolvimento de uma pessoa em sua totalidade, abarcando minimamente quatro grandes áreas: a do conhecimento, a do afetivo-emocional, a das habilidades humanas e profissionais e a de atitudes ou valores.
Considerando o sistema de aprendizagem com a abrangência desses aspectos, podemos concluir que, para aprender, precisamos de mais do que aulas expositivas. Por isso, é necessário refletirmos sobre o que propiciamos nas nossas aulas para privilegiar os outros aspectos que não o cognitivo: o afetivo-emocional; habilidades humanas e profissionais e atitudes ou valores.
Vamos voltar a nossa pergunta inicial: Meus alunos aprendem com as minhas aulas expositivas?
Depois da minha pequena narrativa introdutória, você pode estar pensando que estou tentando te convencer de que a aula expositiva não faz seu aluno aprender; porém, não é essa a reflexão que desejo fazer.
Apenas pretendo discutir se as estratégias utilizadas nas suas aulas expositivas, ou em qualquer outra abordagem empregada, são adequadas – isto é, se elas favorecem a aprendizagem dos seus alunos; ou ainda, se vão ao encontro do seu objetivo final.
Então, pensando nisso, vamos refletir: porque fazemos aulas expositivas?
Em geral, nossos próprios professores nos ensinaram dessa maneira. Eles traziam o conceito central do conteúdo curricular em longas explanações, colocando os alunos em uma situação passiva e o professor no papel de quem possui a informação e deve distribuí-la. Até hoje, essa permanece sendo a experiência mais comum na sala de aula.
Mas não ache que porque você, professor, falou, automaticamente o aluno aprendeu. Tente se lembrar da sua época de aluno… Apenas o discurso do professor era suficiente para que você aprendesse?
Precisamos provocar nossos alunos para a busca da informação de maneira autônoma. E se o conteúdo mais denso fosse solicitado como pesquisa ou leitura anterior à aula, enquanto nossa sala fosse um espaço para o diálogo? Assim, aquilo que concerne ao acúmulo de fatos, dados e informações seria feito individualmente; já na aula presencial, poderíamos trabalhar outros aspectos do sistema da aprendizagem, que muitas vezes ficam em segundo plano – a argumentação, a resolução de problemas, os relacionamentos intra e interpessoais, a colaboração, a criatividade.
Pensando assim, as aulas expositivas poderiam durar, no máximo, 20 minutos. Elas poderiam ter como objetivo introduzir o tema, ou sintetizá-lo no final da discussão. Com isso, geramos uma aula mais dinâmica, engajando os alunos para a participação.
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Sabemos que é difícil conseguir a atenção dos alunos por mais tempo que isso e, mesmo para garantir o interesse deles em períodos curtos, recomendamos que o professor caminhe pela sala, olhe nos olhos dos alunos, faça perguntas, esteja aberto para dúvidas, propicie a participação de todos e considere o perfil de sua turma para ajustar a linguagem. Ou seja, minha sugestão é que você transforme suas aulas expositivas em aulas expositivas dialogadas, onde os alunos possam interagir e ajam como sujeitos ativos de sua própria aprendizagem.
Os alunos devem ser motivados a interagir (atitude), devem ter compromisso com sua aprendizagem e com o seu grupo (emocional), devem fazer a relação entre sua aprendizagem e sua vida profissional (habilidade humana e profissional), além de compreender seu conteúdo curricular (cognitivo).
Você quer conhecer mais técnicas que podem colaborar com suas aulas? Leia mais sobre o tema na literatura sugerida:
- MASETTO, Marcos T. O professor na hora da verdade: a prática docente no ensino superior – São Paulo: Avercamp, 2010.
- LEMOV, Doug. Aula Nota 10: 49 técnicas para ser um professor campeão de audiência. Tradução de Leda Beck, consultoria e revisão técnica: Guiomar Namo de Mello e Paula Louzano. São Paulo: Da Boa Prosa: Fundação Lemann, 2011.
- WEINSTEIN, Carol Simon, Ingrid Novodvosky. Gestão da sala de aula: lições da pesquisa e da prática para trabalhar com adolescentes. Tradução: Luís Fernando Marques Dorvillé; revisão técnica: Luciana Vellinho Corso. – 4. Ed. – Porto Alegre: AMGH, 2015.
* Claudia Zuppini é formada em Pedagogia com Especialização em Ensino Fundamental pela FEUSP/USP e em Gestão Escolar pela UFABC FEUSP/USP e Mestre em Educação pela PUC-SP, na linha de pesquisa sobre Formação de Professores. Claudia tem 26 anos de experiência em educação como professora de Educação Infantil, Ensino Fundamental e diretora de escola. Foi premiada em 2007 com o Prêmio Escola Nota 10, concedido pela Fundação Victor Civita da Revista Nova Escola, na sua primeira edição para gestores. Consultora educacional da Fundação Lemann no Programa de Técnicas Didáticas. É sócio-fundadora da Elos Educacional atuando em parceria com a Fundação Lemann na coordenação do Programa de Formação de Professores e Gestores em Técnicas Didáticas e na formação de equipes gestoras no Programa Gestão para a Aprendizagem.
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