A professora Vanessa Giron conta como tomou a decisão de ter ou não ter alunos em suas redes sociais. Afinal, há resposta certa?
Quando comecei a lecionar, em 2011, sempre ouvia de outros professores as seguintes advertências: “cuidado, os alunos vão te encontrar nas redes sociais”, “não aceite alunos no Facebook”, “não deixe que os alunos saibam nada da sua vida”. Quem nunca ouviu isso em alguma sala de professores?
Por inexperiência e por ouvir tantos conselhos do tipo, acreditei nisso por um longo período. Com o passar do tempo, porém, percebi que não havia mal algum em ter os alunos nas redes sociais e passei a aceitá-los como meus contatos. E foi aí que tudo mudou. Eis o que descobri:
Ter alunos nas redes sociais gera empatia!
Atualmente, os alunos não se contentam em ver um professor apenas uma ou duas vezes na semana, sem saber quem ele é fora do ambiente escolar. E isso é natural – todos nós sentimos a necessidade de conhecer melhor as pessoas com quem nos relacionamos, independente do tipo de convívio.
No meu caso, em vez de gerar a tão temida invasão de privacidade ou o contato inadequado, ter alunos nas redes sociais gerou ainda mais respeito e empatia, tanto da minha parte quanto da deles. E como é bom e gratificante poder acompanhar as conquistas e a evolução dos nossos alunos e nos alegrar por elas! Atualmente, os meus estudantes podem acompanhar um pouco da minha rotina de professora, das atividades que eu faço nos meus dias de descanso, os posts no meu blog e a minha rotina de estudos. Acreditem, eles gostam disso e me acompanham, torcem por mim e se orgulham das atividades extraclasse que desenvolvo! O mesmo acontece comigo: fico feliz demais ao perceber que meus alunos e ex-alunos conseguiram realizar seus sonhos e atingir seus objetivos, como uma vaga em uma universidade, um emprego ou uma conquista pessoal.
Pude observar que a nossa empatia aumentou e muito, pois pude perceber como eles são enquanto não alunos: em contextos familiares e sociais fora da escola. Além disso, os alunos também puderam entrar em contato com o meu mundo, meus hobbies, meus gostos e, então, perceberam que tipo de pessoa eu sou e quais são os meus interesses pessoais. Isso é o que nos humaniza! Esse tipo de interação faz com a nossa capacidade de compreender o outro e o contexto no qual ele está inserido aumente significativamente, estimulando o convívio harmônico e respeitoso.
Por tudo isso, acredito que acompanhar um pouco da rotina deles nas redes sociais é relevante sim para o trabalho pedagógico que desenvolvemos em sala de aula; é uma prática que aumenta a empatia no processo de ensino e aprendizagem e ajuda o professor a conhecer o seu público.
As redes sociais podem ser recursos pedagógicos!
Além disso, é fundamental que o professor conheça as redes sociais a que os alunos têm acesso e se atualize em relação aos novos recursos tecnológicos disponíveis.
É essencial também para a carreira docente abrir-se às tendências atuais e às novidades que os alunos nos trazem. Conhecendo os interesses do nosso público e interagindo com ele de diferentes formas, geramos ideias de projetos, atividades e diferentes formas de avaliar. As redes sociais nos possibilitam tudo isto: compartilhar conteúdos, indicar leituras, vídeos e exercícios; promover discussões; visualizar vídeos e trabalhos digitais elaborados pelos alunos. Quem disse que as atividades dos alunos só podem ser elaboradas e entregues em formato físico? As possibilidades de trabalho pedagógico por meios virtuais com a ajuda das redes sociais são inúmeras!
Por isso, quando escuto alguém dizer que eu não deveria ter alunos nas redes sociais, eu sempre digo categoricamente: o que não pode ser visto pelos alunos não pode ser visto por mais ninguém. As redes sociais têm uma enorme capacidade de propagação de informações; por isso, devemos ser cautelosos com o que postamos lá, independentemente de ter ou não alunos como contatos. O que é assunto particular não deve ser postado na rede, mesmo por profissionais que não são professores. É isso o que devemos sempre ter em mente: nossos assuntos particulares dizem respeito somente a nós e devem ser preservados, na internet e presencialmente.
No fim das contas, ter os alunos nas minhas redes sociais melhorou muito a minha relação com eles e até mesmo contribuiu para melhorar o ambiente em sala de aula e a direcionar o meu trabalho pedagógico. E você, professor, como utiliza as redes sociais no seu trabalho? Vou adorar saber!
Leia mais da Vanessa Giron:
- Mapa da Empatia como instrumento da avaliação docente
- Geração Z: como ensinar crianças conectadas
- Pensamento visual desenvolve a autonomia do aluno
* Vanessa Giron é formada em Letras, português e grego clássico, e mestre em Letras Clássicas pela USP. Professora desde 2011, foi coordenadora de Ensino Médio por dois anos no Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, onde leciona atualmente. Utiliza o Design Thinking e o Pensamento Visual nas suas práticas educacionais desde 2015. No início de 2017, idealizou e criou o blog “Empodera professor!”, com o objetivo tratar de empoderamento e autoestima de professores. Acesse o blog em empoderaprofessor.wordpress.com. Siga no Instagram @vanessagiron_ . Entre em contato: profvanessagiron@gmail.com.
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