Repertório cultural em “visitas” virtuais a museus

Colunas
O trabalho artístico de Luis Camnitzer já esteve exposto nas fachadas de mais de uma dezena de museus ao redor do globo como na do Museu Solomon R. Guggenheim, em Nova York.

A pandemia de COVID-19 é um momento complexo. Em tempos de distanciamento social, preparamos algumas dicas que buscam expandir o repertório cultural através de ferramentas on-line para “visitas” em museus e outras instituições culturais. A arte pode ser um meio de nos mantermos próximos(as), mesmo que fisicamente separados(as).

Na Geekie, acreditamos que o aprendizado é um processo que acontece ao longo da vida, em múltiplas circunstâncias. Pensando nisso, em tempos de distanciamento social devido a pandemia de COVID-19, as ferramentas on-line são recursos para nos aproximarmos de alternativas à convivência e expandirmos nosso repertório cultural.

Construir repertório é uma prática diária, resultado da relação que crio com todos os aprendizados e estímulos a que estou exposta. Costumo imaginar meu repertório pessoal como um grande arquivo com incontáveis pastas; a cada nova situação que vivo, algumas pastas são “acionadas” imediatamente enquanto outras são criadas para que eu possa lidar com as situações do cotidiano. O repertório cultural é uma extensão dessa prática que inventa novas “pastas” a cada dia.

Para essa situação de isolamento social, incentivar a “visitação” on-line a espaços como museus e outras instituições culturais possibilita um exercício para a imaginação, ânimo para o pensamento, além de contribuir para o conhecimento, percepção das semelhanças e diferenças entre contextos e pessoas diversas, parte fundamental do repertório cultural.

Repertório cultural como competência da BNCC

No contexto escolar, como terceira competência geral da BNCC, o repertório cultural tem como objetivo que estudantes possam:

“Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.”

O processo de valorizar, fruir, participar e produzir manifestações artístico-culturais necessita, inicialmente, a existência da abertura para novas experiências e perspectivas, por parte de cada estudante. Além disso, o papel dos(as) educadores(as) é incentivar que uma relação seja estimulada e construída processualmente para que vínculos sejam estabelecidos.

No atual cenário de mundo, falar sobre estabelecer vínculos pode ser sensível, mas abre espaço também para fortalecer a recordação de que todos e todas são sustentados(as) pelas conexões que criam uns/umas com os(as) outros(as).

A partir do contato inicial e da receptividade é possível desenvolver valor, apreciação e até mesmo o interesse pela produção artística.

Visitas virtuais em museus e instituições de arte nacionais e internacionais

Nesse contexto, muitas instituições culturais nacionais e internacionais já disponibilizavam tours virtuais ou parte de seus acervos digitalizados antes do estado de pandemia. Hoje, o prestigiado Museu do Louvre, tal qual inúmeros espaços culturais pelo mundo, encontra-se fechado pelas autoridades como medida de contenção ao coronavírus. Apesar disso, as “visitas” on-line seguem disponíveis, assim como há pouco mais de uma década, quando fui estudante do Ensino Médio e tive a oportunidade de conhecer o tour virtual do Museu do Louvre.

A Pequena Galeria do Louvre, espaço dedicado à arte e educação cultural, atualmente disponibiliza tour virtual pela exposição “O advento do artista” – em tradução livre, com obras de pintores como Delacroix, Rembrandt e Tintoretto.
A Pequena Galeria do Louvre, espaço dedicado à arte e educação cultural, atualmente disponibiliza tour virtual pela exposição “O advento do artista” – em tradução livre, com obras de pintores como Delacroix, Rembrandt e Tintoretto.

Hoje, com o desenvolvimento intenso da tecnologia digital, outros espaços culturais oferecem opções de “visitas” com altíssima qualidade de imagem, visualização 360º e até mesmo trilhas sonoras. O Museu Casa de Portinari – localizado na cidade de Brodowski, no estado de São Paulo –, é exemplo de tour 360º. Desde 2008, outros “museus-casa” seguem a mesma oportunidade e foram mapeados, fotografados e digitalizados pelo projeto Era virtual.

O Museu Casa de Cora Coralina, localizado na cidade de Goiás, conta com visitação on-line, visualização 360º e visita narrando a história de vida e trabalho da poetisa brasileira.
O Museu Casa de Cora Coralina, localizado na cidade de Goiás, conta com visitação on-line, visualização 360º e visita narrando a história de vida e trabalho da poetisa brasileira.

Helio Oiticica, importante artista visual brasileiro e de reconhecimento internacional, escreveu em 1986 a frase: “O museu é o mundo, é a experiência cotidiana”. A partir dessa afirmação, penso nas “visitas” virtuais como um primeiro passo de aproximação, reconhecimento e conexão com a vastidão de culturas existentes no mundo. As exposições e acervos disponíveis virtualmente também são capazes de destacar em seus conteúdos temas históricos, políticos, científicos, geográficos, econômicos e comportamentais que as artes abordam, todos trabalhados pela competência repertório cultural.

Google Arte & Cultura: o maior repositório de tours virtuais

Nesse aspecto, o site que conta com a maior oferta de tours virtuais por espaços nacionais e internacionais é o Google Arts & Culture. Embora disponível em língua inglesa, a plataforma é intuitiva e permite a busca pelo nome da instituição cultural – museus e galerias de arte, digitado na “lupa” de pesquisa.

Destacada em vermelho a ferramenta de pesquisa que permite digitar o nome da instituição cultural e buscar o tour virtua no Google Arte & Cultural.
Destacada em vermelho a ferramenta de pesquisa que permite digitar o nome da instituição cultural e buscar o tour virtua no Google Arte & Cultural.

A plataforma também permite procurar por obras e espaços culturais através da ferramenta “explore”, destacada na imagem a seguir. Visitar esses espaços pessoalmente permite uma experiência distinta da virtualidade. Porém, explorar a Google Arts & Culture ainda assim complementa as atividades investigativas e promove contato com um mundo de curiosidades, interpretações e aberturas para novas experiências.

Destacada em vermelho a ferramenta “explore” abre espaço para que qualquer pessoa explore, de fato, os conteúdos do site. Os destaques na categoria “highlights” direciona para obras fotografadas em alta qualidade (Art Camera), tours virtuais em exposições (360º videos) e tours por espaços culturais e paisagens feitos com a tecnologia de mapeamento e representação panorâmica (Street View).
Destacada em vermelho a ferramenta “explore” abre espaço para que qualquer pessoa explore, de fato, os conteúdos do site. Os destaques na categoria “highlights” direciona para obras fotografadas em alta qualidade (Art Camera), tours virtuais em exposições (360º videos) e tours por espaços culturais e paisagens feitos com a tecnologia de mapeamento e representação panorâmica (Street View).

Benefícios das visitas virtuais durante aulas a distância

Para as escolas que decidiram continuar com seus planejamentos de aulas por meio do ensino e aprendizagem a distância, o acesso às ferramentas de “visitas” virtuais e acervos digitalizados são opções que, por meio da intencionalidade pedagógica, complementam conteúdos para aulas síncronas, assíncronas e no futuro não muito distante, novamente presenciais.

Além do contexto escolar, as visitas on-line podem ser, inclusive, um convite à interação entre familiares nesse momento de convivência contínua, rotinas transformadas e busca por adaptação. É fundamental considerar que o engajamento das pessoas, curiosidades que surgem por meio de perguntas bem como os percurso de aprendizagem e descobertas impulsionados pelos tours virtuais incrementam as relações humanas.

Os museus também são espaços de educação, podem e devem incentivar a aproximação dos públicos imersos nas tecnologias digitais com as artes que escrevem histórias sobre as sociedades e suas culturas, espelhando o mundo.

As artes são potentes como linguagem e possibilitam que seus públicos explorem caminhos rumo ao aprimoramento do pensamento crítico, conhecimentos de mundo, expansão de repertório e valorização das diferenças, tão significativas para a humanidade. Nas redes sociais, as hashtags #MuseumFromHome e #CulturaEmCasa estão fazendo sucesso em aproximar quem está em casa. Neste momento de complexidade e sensibilidade aflorada, a arte pode ser meio de nos mantermos próximos(as), mesmo que fisicamente separados(as).

Tudo passa, a arte fica.

O trabalho artístico de Luis Camnitzer já esteve exposto nas fachadas de mais de uma dezena de museus ao redor do globo como na do Museu Solomon R. Guggenheim, em Nova York.
“O museu é uma escola. o artista aprende a se comunicar; o público aprende a fazer conexões.” O trabalho artístico de Luis Camnitzer já esteve exposto nas fachadas de mais de uma dezena de museus ao redor do globo como na do Museu Solomon R. Guggenheim, em Nova York.

* Thaís Sabbadini é editora das disciplinas eletivas do Ensino Médio e Fundamental do Geekie One. Nasceu em Itapira-SP, cursou bacharelado e licenciatura em Artes Visuais pela UNESP, pós-graduanda em Neurociência e Psicologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É educadora no ensino formal e não-formal desde 2013. Trabalhou como mediadora cultural e oficineira em diversos espaços culturais na cidade de São Paulo, em escolas públicas e privadas. Na Geekie, atua como editora de Criatividade e Inovação.

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