A BNCC apresenta os conhecimentos que crianças devem construir, as habilidades relacionadas e traz para o ensino e aprendizagem os novos gêneros de discurso relacionados às tecnologias digitais. Confira:
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aprovada em 2017, não traz uma grande mudança na concepção de alfabetização como construção ativa de um sistema de representação, uma vez que a Base considera os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). O que muda, sobretudo considerando o Plano Nacional de Educação, é a duração do ciclo de alfabetização, que passa a ser de dois anos e não mais de três.
Essa é a ponderação feita por Cristiane Mori, mestre em Linguística, docente do Instituto Singularidades, em São Paulo (SP), e uma das redatoras do componente de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Nesta parte do Especial sobre Alfabetização do InfoGeekie você irá conhecer um pouco mais sobre como a BNCC trata o assunto. Confira:
Conhecimentos e habilidades fundamentais relacionadas à alfabetização na BNCC
A BNCC traz um arrazoado sobre os conhecimentos que as crianças devem construir, como:
- diferenciar desenhos/grafismos (símbolos) de grafemas/letras (signos);
- desenvolver a capacidade de reconhecimento global de palavras (que chamamos de leitura “incidental”, como é o caso da leitura de logomarcas em rótulos), que será depois responsável pela fluência na leitura;
- construir o conhecimento do alfabeto da língua em questão;
- perceber quais sons se deve representar na escrita e como;
- construir a relação fonema-grafema: a percepção de que as letras estão representando certos sons da fala em contextos precisos;
- perceber a sílaba em sua variedade como contexto fonológico desta representação;
- até, finalmente, compreender o modo de relação entre fonemas e grafemas, em uma língua específica. (BRASIL, 2017, p. 91)
Esses conhecimentos embasam as seguintes habilidades fundamentais à alfabetização:
- Compreender diferenças entre escrita e outras formas gráficas (outros sistemas de representação);
- Dominar as convenções gráficas (letras maiúsculas e minúsculas, cursiva e script);
- Conhecer o alfabeto;
- Compreender a natureza alfabética do nosso sistema de escrita;
- Dominar as relações entre grafemas e fonemas;
- Saber decodificar palavras e textos escritos;
- Saber ler, reconhecendo globalmente as palavras;
- Ampliar a sacada do olhar para porções maiores de texto que meras palavras, desenvolvendo assim fluência e rapidez de leitura (fatiamento). (BRASIL, 2017, p. 93)
Um ponto que a Cristiane Mori destaca é que a BNCC traz considerações sobre como nosso sistema de escrita é fundamentalmente ortográfico, uma vez que as relações diretas entre letras e sons (ou seja, aquelas em que não há disputa entre letras para representar um som, nem mais de um som sendo representado pela mesma letra) são apenas seis: P, B, T, D, F, V. Exceto por essas seis letras e os sons que elas representam, tudo mais no sistema é regido pela ortografia.
Organização do ensino por gêneros discursivos e seus campos de atuação
Outro aspecto que a BNCC considera e referenda os PCN diz respeito ao ensino de Língua Portuguesa estar organizado em gêneros discursivos (fábulas, mitos, poemas, notícias, resenhas, anúncios de publicidade, verbetes etc) e esses em campos de atuação. Os PCN propunham uma organização por esferas de atividade (literária, jornalística, publicitária, cotidiana, científica, escolar etc) e a BNCC opta por um organizador mais amplo que são os campos — vida cotidiana, artístico-literário, práticas de estudo e pesquisa, e vida pública.
“Ela propõe que os textos se organizem em função das características dos campos e, por isso, aprender a ler, a falar, a escrever e a escutar depende de compreender que cada campo coloca em jogo contextos de produção, finalidades e relações entre interlocutores diversas, que devem ser consideradas no momento da produção linguística”, enfatiza Mori.
A BNCC também mantém, relativamente, aos PCN, a crença de que a proficiência linguística implica participação em práticas de linguagem, que levam em conta as características da situação de produção, os interlocutores e os objetivos da situação. As práticas propostas pela BNCC avançam em relação aos PCN na medida em que ela coloca a oralidade como uma prática independente, ao lado da leitura, escrita e análise linguística e semiótica.
Mas o grande avanço da BNCC em relação ao que havia nos documentos anteriores é a alusão à análise semiótica e aos gêneros multimodais . “A Base reconhece que, com a expansão e a diversificação das tecnologias de informação e comunicação, os textos que circulam hoje são, fundamentalmente, multimodais, ou seja, tecidos por diferentes semioses (linguagens)”, diz a especialista. Isso significa trabalhar com novos gêneros, como chats e tuítes, e linguagens, como fotos, vídeos e áudios, colaborando para o multiletramento.
Confira como o Geekie One trabalha a questão de multimodalidade durante a Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental: Geekie One também para Ensino Fundamental (anos iniciais) e Educação Infantil
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