A previsão foi feita pelo especialista José Moran em 1988, ano da chegada da internet aos centros de pesquisa universitários brasileiros
José Moran, professor da USP e doutor em comunicação, é um estudioso da influência da tecnologia na educação desde o tempo em que ela se restringia a máquinas de escrever – há 27 anos, a ferramenta era tema de sua defesa de doutorado. “Naquela época, na nossa ingenuidade de pesquisador, prevíamos que até o ano 2000 a educação já teria se transformado. A tecnologia evoluiu para isso, mas a escola ainda não mudou”, conta.
Os 16 anos de atraso não conseguiram fazer com que o professor desistisse. Nós o encontramos com 69 anos na última manhã de sábado (5), palestrando para um grupo de cerca de 50 professores ávidos por escutá-lo no Amplifica, evento organizado por duas educadoras com patrocínio do Google em São Paulo. A palestra estava para começar e, percebendo um tumulto na porta, Moran foi interceder por aqueles que insistiam para poder acompanhar a palestra sentados no chão, já que os assentos se esgotaram rapidamente. “E se formos mais flexíveis? Vamos falar sobre educação inovadora e ela não pode ter fronteiras”. Convencidos pelo argumento, a organização do evento deu passagem e os professores empolgados por poderem ocupar o piso provaram que, para buscar a inovação, estavam dispostos a abrir mão de sua zona de conforto – literalmente.
Iniciada a palestra, o primeiro slide exibia a frase em letras garrafais: “Em 50 anos, não existirá um só trabalho que um robô ou software não possa fazer melhor que uma pessoa”. E Moran provoca: “como as escolas vão mudar para acompanhar esse novo mundo?”. No discurso que se seguiu, o especialista propõe que a escola se reinvente, aliando-se à tecnologia e usando-a como uma ferramenta, mas principalmente ocupando os espaços intrinsecamente humanos: os das relações e conexões.
Moran aponta três características centrais de projetos inovadores – aqueles que não só estão conseguindo endereçar os desafios da tecnologia, mas que também os encaram como uma grande oportunidade:
- Possuem um ambiente acolhedor. “Não só no sentido físico, mas afetivo”. São as escolas ou projetos nos quais existe um apoio institucional para que sejam propostas mudanças. “A escola que centraliza em poucos professores a missão de inovar não dará certo. É preciso um movimento cultural de valorização da inovação que toque todo o grupo, incluindo os alunos.”
- Incentivam a cultura do fazer. “Há de se tomar cuidado para não reduzir as possibilidades maker a uma impressora 3D. Trata-se da possibilidade de criar espaços para que todo tipo de criação seja feita. É aprender pela experimentação.” Ainda neste tópico, Moran acrescenta: “Aqui também estamos falando sobre trilhas pessoais de aprendizado. Nem todo mundo precisa aprender a mesma coisa e hoje já temos tecnologia que ajuda a suportar este tipo de individualização”.
- Aprendizagem a serviço de um projeto de vida. “É importante diferenciar o estudo do meio. Não estamos falando de sair em grupos pela cidade para observá-la. Trata-se de desafiar o aluno a questioná-la e modificá-la, tendo um projeto de vida como um eixo transversal.”
Citando escolasqueinovam.org.br, innoveedu.org.br, e o seu livro “A educação que desejamos – Novos desafios e como chegar lá”, Moran investiu os últimos minutos da palestra em mostrar onde os educadores poderiam encontrar referências de projetos inovadores que já caminham no sentido de inovar a educação e recuperar décadas de atraso.
Para receber os aplausos e agradecimentos, o especialista se afastou e encostou na tela de projeção, que escapou e correu para cima enrolando-se bruscamente no topo da lousa fazendo um grande estrondo. “Opa! Se fosse touch…” provocou.
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