Pokémon Go e educação: capture a atenção dos seus alunos

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Pokémon Go e educação

Para o professor Leonardo Freitas, Pokémon Go e Educação têm tudo a ver. Qual o potencial do jogo de realidade aumentada na sua sala de aula?

Você já parou para pensar no que Pokémon Go e educação podem conquistar juntos? Eu, sim. Na segunda-feira, logo após o lançamento de Pokémon Go aqui em nossas terras, deparei-me com uma situação anormal para o início do dia: o pátio da escola, que é enorme, estava parecendo um jardim zen. Todas as cabecinhas estavam abaixadas em busca de pequenos monstrinhos virtuais que iriam batalhar em arenas virtuais, colocados por um servidor virtual… Em nossa vida real! 

Se pararmos para analisar essa situação do ponto de vista humano e de coração aberto, é, no mínimo, fantástico. Nessa mesma semana, ouvi e li diversos comentários, de pessoas das mais variadas áreas, sobre o joguinho. Posso até ser suspeito para falar sobre ele, pois adoro tudo que é tecnológico; mas, por isso mesmo, vou me atrever a fazer algumas considerações.

Para começar, tira-se do Pokémon Go mais uma prova de que não adianta espernear, fazer birra ou cara feia: a tecnologia veio para ficar e, mais uma vez, diretamente ou não, ela está na minha, na sua, na nossa aula. Por isso, elenquei alguns argumentos contra o aplicativo, dos quais discordo totalmente – e meus motivos para isso – e criei uma lista para mostrar que Pokémon Go e educação têm tudo a ver um com o outro:

“Pokémon Go é uma modinha boba”

Quem, assim como eu, nasceu nos anos 80, com certeza passou por diversas “modinhas” no período que compreendeu sua juventude, principalmente no que tange à tecnologia e gadgets. Quem de nós nunca ficou acordado até virar o relógio, apenas para poder pagar pulso único na conexão discada? Pager, walkman, palmpilot, agenda eletrônica, Genius…Sabe por qual motivo nós não jogávamos horas e horas a fio em uma tela de celular, em busca de Pokémons? Porque não tínhamos!

É tolice apenas criticar fortemente as novas gerações por seus hábitos, já que nós mesmos os tivemos! Duvida? Se, hoje, eles possuem Twitter, nós tinhamos cadernos de perguntas; se eles publicam na linha do tempo, nós fazíamos num diário (às vezes, com cadeado, para guardar os segredinhos mais íntimos); se, hoje, eles caem de joelhos por MCs e duplas universitárias, nós não fazíamos diferente ao som de Backstreet Boys e outras bandas nacionais. Enfim, as chamadas “modinhas” sempre fizeram parte de todas as gerações e, hoje, com a velocidade em que tudo se propaga, não tem como ser diferente. Lembre-se de que o que é “cult” nos dias atuais, já foi a “moda” do passado.  

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“Games não servem pra nada além de brincar”

Hora de rever seus conceitos: há uma infinidade de games que podem (e devem) ser usados para transmissão de conteúdos. Quer exemplos? Dá para imaginar uma aula sobre a Segunda Guerra Mundial melhor que uma partida de Call of Duty 2? Ou ainda, como entender melhor o contexto geográfico moderno do que o game Modern Warfare 2 – que, embora um tanto violento, explica com exatidão os horrores do terrorismo e da guerra? Por que não usar, em uma aula de mitologia, uma partida de Age of Mithology?

Não conhece nenhum deles? Que tal construir um modelo humano ou mesmo um procedimento cirúrgico no Minecraft durante a aula de ciências? Já vi casos em que professores de ensino superior utilizaram essa ferramente em aulas de arquitetura, já que ele simplesmente permite construir tudo! Há um jogo independente chamado Conflitos Globais que, embora de pouca ação, mostra muito bem o panorama atual: você é um repórter e cobre fatos de guerra. Até para Educação Física há um game simplório chamado Elifoot, de autoria brasileira, onde o jogador tem de bancar o treinador: contratar, vender, escalar o time – tudo nas regras no futebol. E isso sem contar com os milhares de jogos online que existem, em browser, que podem ser muito bem utilizados. Não que algum deles vá substituir sua aula, mas que podem reforçá-la, não tenha a menor dúvida!


Na segunda-feira, me deparei com uma cena estranha: o pátio da escola, que é enorme, estava parecendo um jardim zen. Todas as cabecinhas estavam abaixadas em busca de pequenos monstrinhos virtuais que iriam batalhar em arenas virtuais, colocados por um servidor virtual… Em nossa vida real! “

“Jogos causam efeitos negativos no usuário”

Embora existam muitas pesquisas e opiniões divergentes sobre esse quesito, considero isso tão mentiroso quanto estranho. Cresci lutando no Street Fighter e nunca briguei na rua; dando tiros em jogos de primeira pessoa e não sei segurar uma arma; voei pelo mundo inteiro no Flight Simulator e tenho pavor de avião. Ou seja: jogos não criam monstros, mas a falta de valores, sim!

De nada adianta proibir seus filhos de jogar tudo e não acompanhá-los na vida. Aliás, isso vale para tudo, não só para jogos! Como lido com eles todos os dias, tenho propriedade para dizer: adolescentes precisam ser acompanhados, conferidos, vigiados, por maiores que sejam.

Em uma breve síntese, pense em como combinar Pokémon Go e educação pode ajudar seu filho:

  • Aumenta o foco, ao entender e comparar o poder de cada Pokémon;
  • Melhora a tomada de decisão: capturo o Pokémon disponível inicialmente ou aguardo, já que um Pikachu pode estar logo em frente?
  • Desenvolve a paciência, já que a incubadora só guarda um ovo por vez;
  • Requer planejamento: que tipo de estratégia devo usar para atingir os próximos níveis?
  • Exercita o autocontrole: exato, o jogo tem um alto nível de atração e envolvimento. Pode ser viciante! Eis uma excelente ferramenta para ensinar seu filho sobre autocontrole. Parar de jogar nos horários certos ou depois do tempo combinado é um desafio que vai ajudar em outros momentos da vida, principalmente na vida escolar.

“Pokémon Go e Educação não combinam”

Taí um argumento que parte tanto dos educadores quanto dos pais. E francamente… Desde que bem planejado e tratado com seriedade (não com leviandade!), tanto o Pokémon Go quanto qualquer outro programa se mostram plenamente utilizáveis.

Infográfico: O que é Gamificação na Educação?

Recentemente, mostrei aos meus alunos o site Flightradar24.com. É um site incrível: ele mostra, em tempo real, todos os voos que estão acontecendo no mundo todo. De onde vêm e para onde vão. “Ah! Mas o que isso tem a ver com a Língua Portuguesa?”. A princípio, nada. Mas, quando observei com eles as rotas que os milhares de aparelhos fazem e percebemos, juntos, que não estavam sobrevoando a região da Síria, descobrimos no Google que o espaço aéreo estava fechado. Daí, discutimos a situação e produzimos narrativas (8º ano) e dissertações (9º ano) que abordaram os horrores da guerra. Digo “produzimos” porque eu faço junto com eles. Cansa, mas é divertido que só!

Ou seja: um site de aviação, provavelmente usado em Geografia, foi o ponto de partida para minha aula de Redação. Para se criar algo novo em sala de aula não é necessário ser genial; basta planejar e ser um pouquinho criativo. Até porque os jovens simplesmente adoram tecnologia! Atualize a sua aula (e você mesmo) e verá o quanto passará a conquistar cada vez mais seus pupilos.

“Pokémon Go é apenas um jogo!”

Mas é claro que sim! E você, é “apenas um professor”? Veja bem: no dia em que vi o desespero das pessoas em busca dos monstrinhos e como meus alunos ficaram envolvidos, pensei: “Preciso aproveitar essa oportunidade!”. Daí, o primeiro passo foi instalar o jogo em meu próprio celular. Busquei maneiras de conciliar Pokémon Go e educação, um game com o meu conteúdo em sala de aula.

Encontrei 3 logo de cara. Nas próximas semanas, irei explorar o jogo com minhas turmas. Sairemos com fichas de atividades e celulares em mãos, em busca de Pokémons e da resolução dos exercícios baseados neles. Em seguida, prepararemos atividades de construção textual e relatos. Também produzi pequenas pokébolas (o recipiente onde são enclausurados os monstrinhos) de isopor, contendo outra atividade. Ou seja: serão caçadores de Pokémons na vida virtual e na vida real!

Percebem como não há a menor possibilidade de um sobressair o outro? Juntar Pokémon Go e educação não significa tirar o professor de cena. Não seremos digeridos por uma mente binária maligna que vai tomar nossos empregos e nossos alunos. Seremos, sim, ultrapassados e relegados a segundo plano caso cruzemos os braços e simplesmente ignoremos o quanto a inovação nos traz benefícios.

Acredito que sempre temos dois caminhos a seguir: o da ação e o da reação. O da ação é aquele em que se busca o novo, o prazeroso, o que dá resultado. Quem age, ao meu ver, busca conciliar dificuldades com sucesso. O da reação seria o daquela pessoa que é pega de surpresa, que leva uma sacudida da vida e terá de reagir para continuar com a bola em campo. Francamente, eu prefiro a primeira opção.

E aqui vai uma curiosidade: um dos motivos de o Pikachu ser tão especial é que ele se recusa a viver na pokébola. E, se um ser virtual se recusa a viver assim, por qual motivo nós, seres reais, devemos aceitar? Supere-se! Evite ao máximo sua pokébola! Evolua e, de quebra, capture para sempre seus alunos. Quem sabe você não se diverte com o Pokémon Go, também? Eu curti! Afinal, como você viu acima, Pokémon Go e educação podem ter muito em comum! Até a próxima!

Mais de Leonardo Freitas: Qual sua desculpa para não usar tecnologia na escola?

  • Leonardo Freitas é graduado em Letras, com especialização em Literatura Brasileira. Leciona há 16 anos e desde pequeno queria ser professor. Já passou por todos os níveis, desde o Ensino Fundamental II ao Superior. Atualmente, trabalha com onze turmas de 8º e 9º ano e com turmas dos cursos superiores de Pedagogia e Enfermagem em instituições particulares de Brasília.

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