Interdisciplinaridade: um trabalho de parceria docente

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O Novo Ensino Médio traz como proposta a reorganização do currículo por áreas de conhecimento. Isso substitui as disciplinas como tradicionalmente são estruturadas e permite um trabalho interdisciplinar e interáreas entre professoras e professores. Confira aqui a experiência e as dicas de quatro docentes da Escola S, o SESI-SENAI de Santa Catarina

“Por que uma professora vai estudar o ponto de ebulição da água e eu sua parte molecular se, na verdade, nós duas estamos falando da mesma coisa, que é a água? A gente estava tendo trabalho para separar as coisas. Na verdade, eu preciso entender a estrutura molecular para saber o porquê dos pontos de ebulição e de fusão da água serem aqueles.”

Este é o exemplo que a Layane da Silva Correa, professora de Ciências da Natureza com formação em Química da unidade de Tubarão (SC) da Escola S, usou para ilustrar a lógica da interdisciplinaridade em sua área de conhecimento. Ela e a professora formada em Física, Marília Nascimento Oliveira, são a dupla docente que assumiu essa área no Novo Ensino Médio da escola. As duas comentam que a divisão dessa frente entre as disciplinas de Física, Química e Biologia pode até ter feito sentido no passado, mas hoje a situação é outra e a lógica não a mesma para fornecer uma formação integral para estudantes.

Na unidade de Brusque, a área de Ciências Humanas é compartilhada pelo professor de Filosofia, Joel Paludo, e pela professora de História, Noêmia Felix de Araujo Pereira. Eles compartilham da mesma opinião de Layane e Marília: “A gente vem de uma formação de caixinhas. Eu ainda continuo estudando e a universidade continua em caixinhas. Desconstruir essa formação é um desafio pessoal antes de mais nada”, comenta Joel que agora está cursando Matemática.

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O desafio é encontrar a parceria certa

Outro ponto de consenso entre as professoras e o professor é que, apesar de o trabalho interdisciplinar e interáreas trazer uma série de benefícios para estudantes, a execução é desafiadora. Para Noêmia, por exemplo, o maior desafio é encontrar a parceria ideal para essas aulas por área de conhecimento:

“Ao longo da minha carreira, trabalhar de forma interdisciplinar era algo que eu tinha sempre em mente e fui sempre muito aberta a este tipo de trabalho, mas não é fácil. A gente percebe que em alguns casos é tudo muito compartimentado então, às vezes, não há espaço para uma interdisciplinaridade. Apesar disso, fui muito feliz ao longo da minha carreira porque sempre encontrei colegas de trabalhos que eram muito próximos e sempre conseguimos trocar muito.”

Noêmia resume essa relação na palavra “parceria” e Joel complementa: “Para ter a interação entre os dois colegas, a gente tem que ter os mesmos ideais, os mesmos valores, temos que compartilhar uma mesma filosofia de trabalho e confiar no trabalho do outro.”

Essa também é a chave para o relacionamento das professoras de Ciências da Natureza da unidade de Tubarão (SC). “Essa relação por trás da sala de aula conta muito na hora de trabalhar junto. Eu e a Marília, mesmo antes de trabalharmos em dupla, éramos muito próximas. As duas pessoas precisam se entender, senão só trabalham juntas na teoria e na prática não funciona”, explica Layane.

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Dicas para um casamento interdisciplinar

Ao falar sobre o relacionamento entre docentes que compartilham uma mesma área de conhecimento, Noêmia e Joel, de Ciências Humanas, brincaram que a situação se assemelha a um “casamento”, dada a sinergia e comunicação constante que ele e ele têm ao longo da semana. 

Para as educadoras e o educador, há, ainda, outros fatores que influenciam na dinâmica deste trabalho interdisciplinar e interáreas. Elas e ele dão as dicas:

  • Tempo de planejamento: nas unidades da Escola S, o corpo docente se reúne toda sexta-feira primeiro para um planejamento conjunto e na sequência para o planejamento em cada área de conhecimento. Este compromisso com agenda marcada ajuda a pensar nas aulas da próxima semana;
  • Comunicação constante: para que a dinâmica em aula dê certo, docentes precisam se comunicar sempre e não apenas para informar em qual parte do conteúdo pararam. Essas comunicações são também para debater ideias de experiências de aprendizagem, desempenho e entregas de atividades pelos estudantes e vários outros pontos;
  • Confiança e respeito mútuos: a questão vai além de compartilhar os mesmos ideais e valores, como apontou Joel. A relação docente para um trabalho interdisciplinar deve ser pautada no respeito e na confiança do(a) colega que divide a mesma sala de aula;
  • Abertura para o novo: como a formação de docentes em universidades ainda está pautada na fragmentação em disciplinas, o trabalho interdisciplinar requer estar aberto(a) para uma nova experiência de prática docente.

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