Como usar mapas conceituais para obter evidências de aprendizagem

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As avaliações formativas, aquelas que acontecem ao longo das aulas e da formação do aluno e da aluna, são um desafio atualmente, em tempos de aulas remotas. Aprenda a como usar mapas conceituais para obter evidências de aprendizagem de sua turma e personalizar ainda mais suas aulas nos momentos síncronos.

Uma das dificuldades com as quais todos os(as) participantes da ação escolar – estudantes, famílias, docentes, coordenadores(as) etc. – têm de se defrontar agora, em tempos de ensino remoto, é a seguinte: como é possível avaliar o que foi aprendido em sala de aula se a distância geográfica não permite o uso de ferramentas convencionais como provas presenciais ou atividades em livro?

Embora alguns desses instrumentos possam ser facilmente transpostos, surgem dúvidas: o grupo de estudantes está se apropriando efetivamente do conteúdo das aulas? Quais evidências de aprendizado podem ser adquiridas a partir delas?

Pensando nisso, propomos neste artigo uma atividade para que o corpo docente trabalhe de modo remoto com seus(suas) estudantes após o uso do Geekie One. Essa atividade utiliza a construção de mapas conceituais para oferecer indícios de como eles(elas) sistematizaram o conhecimento a que foram expostos.

Mapa conceitual ou mapa mental? Qual é a diferença?

A proposta de mapa conceitual foi baseada na teoria da aprendizagem significativa, elaborada pelo psicólogo norte-americano David Ausubel. Para ele, a aprendizagem ganha significado quando o(a) estudante estabelece ligações com conhecimentos anteriores, acrescentando as novas informações ao conjunto de conhecimentos que já detém. Esse processo não se resume à aquisição de novas informações, mas também permite encontrar relações que fazem sentido com outros conceitos. 

Neste contexto, o mapa conceitual consegue explorar a ideia de aprendizagem significativa, pois é

“[…] uma representação gráfica em duas dimensões de um conjunto de conceitos construídos de tal forma que as relações entre eles sejam evidentes. Os conceitos aparecem dentro de caixas nos nós do grafo, enquanto as relações entre os conceitos são especificadas por meio de frases de ligação nos arcos que unem os conceitos.” (CAÑAS, 2005. p. 3.)

Esse tipo de mapa é especialmente proveitoso quando utilizado por alunos e alunas para esquematizar os conceitos-chave de uma matéria já explicada. 

Exemplo de mapa conceitual para organização de figuras de linguagem. Além deste modelo,  o mapa conceitual pode ser organizado de várias outras formas.

Esse recurso pode ser bastante produtivo para evidenciar a aprendizagem, uma vez que, ao começar a sintetizar de forma esquemática o que estudou, o(a) estudante deve hierarquizar e sequenciar o conhecimento construído internamente, diferenciando, integrando e relacionando  os conceitos associados ao assunto trabalhado, ressignificando-os.

“Como instrumentos de avaliação da aprendizagem, mapas conceituais podem ser usados para se obter uma visualização da organização conceitual que o aprendiz atribui a um dado conhecimento. Trata-se basicamente de uma técnica não tradicional de avaliação que busca informações sobre significados e relações significativas entre conceitos-chave da matéria de ensino segundo o ponto de vista do aluno.” (MOREIRA, 2012. p. 5.)

Há ferramentas on-line para a construção de mapas conceituais (Mindmeister, que demanda o uso de uma ferramenta de Printscreen para compartilhá-los; e Coggle, que gera um PDF), mas o(a) estudante também pode usar o próprio caderno para criar seu mapa, enviando uma foto ou a página escaneada para o(a) professor(a) em seguida.

Já os mapas mentais não se limitam apenas a conceitos. Podem incluir também associações, lembranças, vídeos, imagens, frases e quaisquer outros elementos que o(a) criador(a) considere úteis. Um mapa mental pode ser um instrumento para que o professor ou a professora elabore uma rotina de pensamento antes de adentrar uma aula nova do Geekie One, pois movimenta o conhecimento prévio que os e as estudantes têm ou o que associam a determinado conteúdo, abrindo discussões sobre uma matéria nova. 

O mapa pode ser criado tanto individualmente como de forma coletiva por alunos e alunas. Ele pode ser feito no caderno ou em ferramentas on-line, usando as ferramentas de bate-papo ou mesmo de chamadas de vídeo do Hangouts Meet. O professor ou a professora também pode conduzir essa construção por meio de anotações em uma lousa on-line (como a Whiteboard, o Jamboard etc.).

Dicas para a construção de um mapa conceitual

As aulas a distância exigem mais clareza sobre a condução das experiências de aprendizagem. Essas orientações são ainda mais necessárias quando a atividade é indicada para momentos assíncronos, aqueles nos quais alunos e alunas desenvolvem suas atividades sem estarem conectados com o professor ou a professora. Sendo assim, separamos algumas dicas que você pode usar com seus e suas estudantes para explicar a construção do mapa conceitual:

  1. Antes da elaboração propriamente dita de um mapa conceitual, é importante que se faça uma lista dos conceitos relativos ao conteúdo que se pretende mapear (utilizando Google Docs ou Jamboard, por exemplo);  
  2. Com os conceitos listados, é importante organizá-los conforme o seu nível de abrangência, ou seja, dos mais gerais para os mais específicos;
  3. A partir dessa divisão, torna-se possível estabelecer uma ligação entre os conceitos selecionados, por meio do uso de linhas ou setas, com cada uma delas sendo denominada com uma ou mais palavras-chave, responsáveis por expressar o tipo de relação que há entre os conceitos interligados (utilizando Mindmeister, Coggle, entre outras ferramentas);
  4. Para melhorar o entendimento do mapa, é recomendável utilizar exemplos, que são normalmente alocados nas proximidades dos conceitos com os quais têm ligação ou na parte inferior do mapa conceitual;
  5. É importante ressaltar que o mapa conceitual não é uma representação rígida, mas comporta alterações ao longo da jornada de entendimento de um conteúdo. Afinal, é uma maneira dinâmica de expor e avaliar o conhecimento construído em diversas situações de aprendizagem.

Fazendo um mapa conceitual com estudantes

Vamos fazer um “Mão na massa” utilizando o conceito de reciclagem para estudantes do 6º ano de Ciências da Natureza? Essa atividade é apresentada de forma esquemática, e o tema dela é reciclagem.

Passo 1: Listar os conceitos relacionados

Usando o Jamboard, é possível listar quais outros conceitos os(as) estudantes associam à reciclagem:

Neste exemplo de lista de conceitos feito com o Jamboard, os alunos e as alunas associaram reciclagem a: saúde, meio ambiente, economia, direitos, investimentos, entre outros.
Neste exemplo de lista de conceitos feito com o Jamboard, os alunos e as alunas associaram reciclagem a: saúde, meio ambiente, economia, direitos, investimentos, entre outros.

Passo 2: Categorizar os assuntos

Após a listagem, pedir opiniões sobre como os assuntos podem ser separados ou categorizados:

Após a listagem de todos os conceitos relacionados com reciclagem, os(as) estudantes organizam a lista com base em categorias em comum.
Após a listagem de todos os conceitos relacionados com reciclagem, os(as) estudantes organizam a lista com base em categorias em comum.

Passo 3: Fazer as relações no mapa conceitual

A partir dessa divisão, usa-se o Coggle ou outra ferramenta para a elaboração do mapa conceitual. Deve-se, então, perguntar aos(às) estudantes quais são as formas possíveis de organizar esses conceitos, utilizando-se como início a reciclagem, e quais ligações são possíveis de estabelecer entre eles. 

Note que não há, a priori, uma organização errada, mas sim organizações que priorizam diferentes aspectos – aspectos esses que podem indicar se a aprendizagem anterior foi significativa ou não.

As linhas do mapa conceitual ajudam a estabelecer relações entre os conceitos elencados e categorizados nos dois primeiros momentos dessa construção. No exemplo aqui apresentado, é possível visualizar que os(as) estudantes entendem que “a reciclagem promove a economia, que, por sua vez, possibilita investimentos”.
As linhas do mapa conceitual ajudam a estabelecer relações entre os conceitos elencados e categorizados nos dois primeiros momentos dessa construção. No exemplo aqui apresentado, é possível visualizar que os(as) estudantes entendem que “a reciclagem promove a economia, que, por sua vez, possibilita investimentos”.

Em nosso exemplo acima, as ligações foram “envolve”, “preserva”, “promove”, “implica” e “possibilita”, esclarecendo as relações entre diferentes conceitos. No entanto, essa regra não é obrigatória na utilização do mapa.

Como avaliar um mapa conceitual? O que devo observar com maior atenção no mapa do meu aluno ou aluna?

Antes da avaliação propriamente dita de um mapa conceitual realizado pelo aluno ou pela aluna, é importante que o(a) docente se atente que não há um modelo “correto”, “único” de representação dos conceitos relacionados a determinado conteúdo trabalhado em aula. Os mapas conceituais são estruturas dinâmicas, que sofrem supressões e acréscimos ao longo da aprendizagem significativa, que, por sua vez, envolve uma relação transformadora entre os conhecimentos preexistentes dos discentes e os que serão construídos.

Entretanto, apesar do caráter dinâmico e, no extremo, subjetivo do mapa conceitual, é necessário que o professor ou a professora o interprete com a finalidade de buscar evidências de aprendizagem significativas, como a plausibilidade de uma ligação entre dois conceitos feita pelo(a) estudante. Um exemplo ajuda a ilustrar essa busca: não há lógica em associar uma equação linear com uma fórmula de Bhaskara em uma situação-problema que envolva a disciplina de Matemática. 

Além disso, o docente deve considerar as explicações do(a) aluno(a) sobre o seu próprio mapa conceitual por meio de comentários orais (por videochamada) ou escritos (arquivos compartilhados, mensagens etc.). Assim, o mapa conceitual se apresentará como uma ferramenta de avaliação formativa, na qual o professor ou professora acompanhará o desenvolvimento do(a) estudante e poderá orientá-lo(a) para um melhor entendimento dos conceitos.   

Esperamos que você tenha curtido as dicas e que o mapa conceitual se torne mais uma atividade disponível no seu estoque didático! Caso tenha interesse em saber mais, os artigos que usamos estão disponíveis nas referências bibliográficas.

Referências

CAÑAS, A. J.; DUTRA, I. M.; FAGUNDES, L. da C. Uma proposta de uso dos mapas conceituais para um paradigma construtivista da formação de professores a distância. Disponível em: <www.researchgate.net/publication/228731907>. Acesso em: 24 mar. 2020. 

MOREIRA, M. A. Mapas conceituais e aprendizagem significativa. Disponível em: <www.if.ufrgs.br/~moreira/mapasport.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2020.

Autores e autoras

Este texto foi elaborado pela Equipe Avaliação Geekie One:

Arnaldo Selli é bacharel em Geofísica e licenciado em Física pela USP. Desde 2011, é professor de Física e Matemática em colégios e cursos de preparação para vestibulares. Tem experiência com elaboração e revisão itens padrão Enem e, desde 2017, trabalha como Analista de Avaliação da Geekie e também como colaborador do InfoGeekie como colunista.

Gabriela Coelho é bacharel em Letras com habilitação em Japonês/Português e licenciada em Português pela Universidade de São Paulo. Já atuou como elaboradora e revisora de itens padrão Enem, professora de inglês e tradutora. Trabalha como Analista na Geekie desde 2018 na área de Avaliação e também é colaboradora do InfoGeekie como colunista.

Nulri Souza é bacharel e licenciada em História pelo Centro Universitário Fieo e, atualmente, cursa a graduação em Biblioteconomia pelo Centro Universitário Claretiano. Tem experiência na área de preservação de documentos históricos e, desde 2015, colabora para a Geekie como elaboradora de itens de História. Em janeiro de 2020, passou a atuar como Analista de Avaliação nesta mesma empresa e também é colaboradora do InfoGeekie como colunista.

Ruan Marques é estudante de Licenciatura em Matemática pela USP. Foi professor orientador no Projeto de Iniciação Científica Jr. da OBMEP. Trabalha na Geekie como Analista de Avaliação e também é colaborador do InfoGeekie como colunista.

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