A Geekie abriu seu pote mágico e convidou as famílias das escolas parceiras para dois encontros encantadores com especialistas sobre comportamento. A ideia foi trazer alternativas positivas para o enfrentamento da pandemia, com dicas para fortalecer os vínculos familiares. Aqui, a gente conta tudo sobre o primeiro evento, com Thiago Queiroz, criador do site Paizinho Vírgula! Vem se encantar!
“Encante-se! Um convite para construir relações mais afetuosas.“ Este foi o nome dado, com todo o carinho, ao evento oferecido pela Geekie aos pais, às mães e aos(às) responsáveis dos(as) estudantes das escolas parceiras que usam o Geekie One. O primeiro encontro, realizado no final de abril, aqueceu corações com as ideias encantadoras de Thiago Queiroz, o criador do famoso site Paizinho Vírgula, que trouxe dicas importantes para fortalecer os vínculos familiares dentro de casa.
Thiago é pai de três crianças e está a espera de mais uma, que “está no forninho”, como ele mesmo diz. É escritor, palestrante e youtuber. Atualmente, ele é um dos principais produtores de conteúdo sobre paternidade no Brasil. É também host do podcast Tricô de Pais, colunista e embaixador da Revista Pais & Filhos e autor do livro Abrace Seu Filho (editora Belas-Letras, 2018). É também educador parental certificado em Disciplina Positiva e líder certificado da Attachment Parenting International.
Além do Thiago, quem também esteve presente no evento foi a Camila Karino, diretora pedagógica da Geekie, e mãe da Harumi, de dois anos. Ela mediou esse encontro encantador e contou que a data escolhida para o evento (28/04) foi muito especial: o Dia Internacional da Educação. Uma data inspiradora para refletir sobre as relações familiares com os(as) estudantes.
Assista ao encontro com o Thiago Queiroz e leia os principais destaques aqui no InfoGeekie!
A Teoria do Apego ajuda a entender como nos vinculamos
Thiago começou o bate-papo contando que a jornada que vive como pai, há oito anos, trouxe mais aprendizados do que todos os cursos e as certificações que teve ao longo de sua trajetória como educador parental. “A vivência da paternidade, com a vontade de construir vínculos familiares mais afetivos e seguros com meus filhos e minha filha, foi o que mais me transformou”. Com o isolamento social, devido à pandemia, isso se evidenciou mais ainda, segundo ele. Agora é o momento de construir, resgatar e fortalecer vínculos
Mas, afinal, o que é o vínculo? Thiago citou o psicanalista John Bowlby, o criador da Teoria do Apego, para entender como as pessoas criam vínculos entre elas. Ele explicou que, segundo essa teoria, temos a propensão de criarmos vínculos afetivos fortes com indivíduos específicos. Isso é da natureza básica do ser humano. Nós, como seres sociais, nos vinculamos uns aos outros, pois precisamos disso para sobrevivermos enquanto espécie. Ou seja, o vínculo sempre existiu e sempre existirá.
“O grande lance é saber qual é a qualidade desses vínculos familiares! Será que estamos construindo vínculos sem apego? Vínculos afetivos seguros ou inseguros? O vínculo familiar seguro é que será o porto seguro emocional para nossos filhos e nossas filhas. E, no caso dos bebês, por exemplo, não é só cuidar do fisiológico, dar banho, alimentação, etc. É cuidar do emocional dessas crianças também!”, afirmou.
Por outro lado, o vínculo inseguro faz com que a criança se sinta desorganizada emocionalmente, segundo o especialista. Ela pode se sentir confusa quando recebe todos os cuidados em um dia e no outro é recebida com gritos ou é trancada de castigo, sozinha dentro de um quarto. No dia seguinte, o pai ou a mãe pode sentir remorso e, com isso, voltar a dar colo para a criança. É um vínculo do tipo ambivalente, pois tudo é muito instável. A criança não sabe o que esperar do(a) adulto(a).
Acolhimento deve vir desde o berço
Thiago disse que, principalmente durante os três primeiros anos de vida – sendo considerados os mais importantes – é fundamental que o pai, a mãe ou o responsável esteja no papel de acolhimento das crianças, de reguladores emocionais, ajudando no letramento inicial dos sentimentos delas. Devem continuar “regando” esse relacionamento para a vida toda. A aproximação não deve ser feita apenas quando estiverem maiores.
Ele cita um exemplo de acolhimento com empatia:
“Quando o Gael, meu filho do meio, está muito chateado e vai querer bater no irmão mais velho, é importante colocar um limite, mas também ser empático com aquilo que ele está sentindo. Pode ser uma grande frustração, porque o irmão consegue já ler e escrever e ele ainda não. Eu falo que se estiver triste e chateado, está tudo bem. Estou aqui para ajudá-lo. A regra de ouro é resolver tudo com conversa, sem brigas”.
A família é o lugar para descansar no amor
Thiago revela outra regra de ouro!
“Quando nossos filhos e nossas filhas têm entre 11 a 15 anos, precisamos ter uma relação de proximidade e de segurança. Eles e elas devem entender que nós, pais e mães, somos um lugar para descansar no amor. Que não precisam buscar aprovação o tempo inteiro para se sentirem amados(as). É justamente nesse processo que entendemos que esse diálogo vai continuar pulsante. A chave disso tudo está dentro de uma caixa de amor fofinha que a gente chama de relacionamento ou vínculo”.
Apesar de a família ser esse porto seguro, há outro ponto destacado por Thiago: é normal perder o controle das situações, das emoções. Quem já não perdeu a paciência?
Ele falou sobre a importância de mostrar aos filhos e às filhas que somos humanos cheios de falhas. É importante aproveitar esses momentos para reparar os erros e construir novas pontes de comunicação. Isso é mais valioso do que tentar ser um pai ou uma mãe perfeito(a). Quando a gente se livra das cobranças internas e externas, dá para entender que a relação é mais importante de que qualquer outra coisa.
Combinados e regras para estipular limites
Os pais, as mães e os responsáveis sempre têm um medo muito grande de cair nos extremos: da permissividade ao autoritarismo. Será que existe o caminho do meio? Thiago contou que existe, sim, através de uma construção não violenta baseada no afeto, nos vínculos familiares, no diálogo, e com limites. “Os(as) adolescentes precisam entender qual é o contorno da vida, o código está nos limites das relações. Isso traz previsibilidade e conforto, sensação de segurança. Tem a ver com criar rotinas.
“Permissividade demais gera confusão muito grande, por não saber o que esperar das pessoas. Não atende as necessidades dos(as) filhos(as). Se for pelo caminho do autoritarismo, fica faltando o acolhimento. Por isso é importante fazer combinados”.
Precisa dar conta de tudo, na pandemia?
Thiago diz que não. No isolamento, muitas crianças estão tendo aulas 100% online. Como conciliar com a vida profissional e ainda as tarefas de manutenção da casa? E se não der tempo de fazer tudo? O que é prioridade?
“A gente resolveu dar um gás nos estudos das crianças. Não vamos deixar nenhuma tarefa atrasar. Acompanhamos tudo. Mas, em compensação, as roupas ficaram acumuladas para lavar. Não conseguimos manter a arrumação da casa. E está tudo bem. Nós não precisamos dar conta de tudo. A nossa saúde mental tende a ficar mais estável, sem cobranças”.
Tarefas domésticas x recompensas
Outro alerta do Thiago! Muitos pais, mães e responsáveis costumam dar recompensas – como mesadas, brinquedos, videogames – aos filhos e às filhas por cumprirem tarefas domésticas. Parece uma boa ideia, mas não é!
“Quando meus filhos, especialmente os meninos, ajudam a preparar a mesa para o almoço ou guardar seus brinquedos no armário, sabem que é uma responsabilidade deles, pois moram na casa e precisam contribuir para mantê-la limpa e organizada. Não acho certo usar qualquer tipo de premiação para isso”.
E complementou: “Nós, adultos(as), devemos servir de exemplo ao cuidarmos da casa. Faz parte do ensinar. O modelo é uma das ferramentas mais importantes”.
Uma relação de autocompaixão com você mesmo(a)
Thiago convidou as famílias para um exercício de autoconhecimento. Cada um(a) deve olhar-se no espelho e dizer que conseguirá o que precisa fazer. E que está dando o seu melhor. A partir daí, é possível construir uma relação de autocompaixão. Isso é tão precioso! E pode ser ensinada aos filhos e às filhas.
“As crianças e os(as) adolescentes se cobram muito, mais do que a gente imagina. Vejo isso no meu filho mais velho. Ele tem demonstrado alguns sinais de ansiedade com relação às responsabilidades da escola. Ele pensa que é muita coisa e que precisa dar conta de tudo. É natural que ele não consiga, que vai precisar de ajuda. E está tudo bem”.
Desconstruindo os preconceitos sobre a adolescência
Às vezes, os(as) adolescentes repelem, ao máximo, nossos ensinamentos e passam a buscar essa orientação e identificação em seus pares. Mas Thiago alerta que é perigoso porque os(as) outros(as) adolescentes estão no mesmo barco, precisando também da orientação de adultos.
Não podemos deixar de lado e ficarmos chateados. Ao contrário: o caminho é reforçar os vínculos familiares entre pais, mães, responsáveis, filhos e filhas. Um livro que explica muito bem isso, recomendado pelo Thiago, é Pais ocupados, filhos distantes, investindo no relacionamento, de Gordon Neufeld e Gabor Mate (editora Melhoramentos, 2006).
Gritos não resolvem problemas
Gritar não vale a pena! Thiago contou que, em uma manhã, acordou com uma briga entre seus filhos. Para apartar o desentendimento, ele gritou! Depois percebeu que foi um erro e pediu desculpas. As crianças estavam com dificuldades em resolver um problema entre elas. Gritar não iria ajudá-las. Nesse caso, ele explicou que a conversa foi o melhor remédio. Foi importante ouvir e entender o que aconteceu. E, a partir daí, ajudar a construir uma ponte de interação saudável entre elas.
Seu filho ou sua filha não sai do celular?
Muitas famílias reclamam que os(as) filhos(as) passam horas na frente do celular, da TV ou do videogame. Todos ficam dispersos. O que fazer? “A gente precisa criar tradições. Aqui em casa, por exemplo, toda sexta-feira é dia de pizza. Deixamos os aparelhos de lado para vivermos esse momento juntos. Tem um valor afetivo incrível”, afirma o especialista.
Jogos ajudam no reforço dos vínculos familiares
Outra ideia que também deu certo foi trocar o videogame por jogos de tabuleiro. Segundo Thiago, existem inúmeras opções que estimulam, por exemplo, o raciocínio matemático ou o pensamento criativo para usar narrativas de histórias.
“Durante 30 ou 40 minutos, ficamos sentados ao redor do jogo, sem celulares por perto. É o momento da diversão em família. Damos muitas gargalhadas juntos. É uma forma de fortalecermos nossos vínculos familiares”, conta ele.
A iniciativa deu tão certo, que Thiago criou um perfil no Instagram chamado Jogando Junto, em que posta fotos dos filhos durante os jogos.
O segredo é enxergar nossos(as) filhos(as), de verdade!
Como você está enxergando seu filho ou sua filha? O olhar amoroso e compreensivo dos pais, das mães e dos responsáveis tem o poder mágico do vínculo entre a família. As criança e os(as) adolescentes devem se sentir ‘enxergados’, e, assim, se sentirem importantes.
“Nos momentos de home office, é difícil parar o trabalho para olhar um desenho que seu filho fez. Mas a atenção é muito importante. E não é só fazer um elogio vazio, mas mostrar a evolução da criança. Dizer, por exemplo: nossa, filho, hoje você conseguiu escrever mais palavras ou fez um desenho com mais cores! Você deve estar orgulhoso de ter conseguido isso”. Isso é construção e fortalecimento de vínculo.
No final: um abraço de urso virtual!
Depois de tantas dicas preciosas, Thiago deu seu recado final! “Em tempos de pandemia, o abraço virou raridade. Aproveitem e abracem seus filhos e suas filhas. Mas não aquele de tapinha nas costas. Melhor aquele que dura 10 segundos, que traz conforto, e fica gostosinho, com acolhimento!”. E se despediu: “Envio um abraço virtual de urso para todos(as) vocês”.
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