Às vésperas da implementação do Novo Ensino Médio e lidando com os impactos negativos que a pandemia causou à educação, gestores de escolas públicas e privadas têm que lidar com a complexidade das mudanças educacionais. Na análise de Claudio Sassaki – mestre em Educação pela Universidade de Stanford e cofundador da Geekie –, enfrentar o desafio vale a pena. Um estudo da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) defende que entre os avanços educacionais da nação nas últimas três décadas estão a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o Novo Ensino Médio e a expansão da Educação Profissional e Tecnológica.
São Paulo, 2021 | Menos de seis meses para a implementação do Novo Ensino Médio, as escolas de educação básica do Brasil, públicas e particulares, vivem o desafio de programar as mudanças e adaptações em meio aos danos causados pela pandemia à rotina educacional. Aprovado em 2017, o Novo Ensino Médio se desdobrou na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) – homologada pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), em 2018 – e na definição dos itinerários formativos: conjunto de unidades curriculares que possibilitam que o estudante aprofunde os conhecimentos e se prepare para dar prosseguimento aos estudos ou para atuar no mundo do trabalho, de forma a contribuir com a construção de soluções para problemas específicos da sociedade. Até o início do ano letivo de 2022, a reformulação deve estar implementada em todo o país. Mas, será que as escolas estão preparadas diante dos impactos negativos provocados pela crise sanitária?
Segundo Claudio Sassaki, mestre em Educação pela Universidade de Stanford e cofundador da Geekie, a demanda pela implementação é legítima e a motivação do grande debate que se estabeleceu para a Reforma do Ensino Médio tem base em análises do desempenho dos estudantes conduzidas por organizações como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA). Os resultados – no Brasil, 43% dos estudantes ficaram abaixo do nível básico de proficiência em três áreas avaliadas, sendo 55% em Ciências, 68% em Matemática e 50% em Leitura – reforçam a necessidade de questionar o ensino e criar arranjos novos para gerar experiências de aprendizagem capazes de elevar esses resultados de aprendizado e de endereçar soluções para os danos causados pela pandemia na educação.
“Esses números – em um contexto anterior à pandemia – mostram que 50% dos nossos jovens não conseguem identificar a ideia principal em um texto de extensão moderada; mais da metade não dá conta de interpretar e reconhecer a explicação correta de fenômenos científicos familiares. Então, a nossa forma de ensinar não está endereçando os desafios da aprendizagem. Essa reflexão explica a necessidade de repensar e remodelar a educação no Brasil”, detalha, acrescentando que a iniciativa do Novo Ensino Médio tem sido apontada pelos especialistas como um grande avanço educacional.
Lançado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e apoio técnico do Todos pela Educação, o estudo A Educação no Brasil: uma Perspectiva Internacional explora os principais desafios de qualidade e equidade, além de indicar os 10 passos para melhorar os resultados educacionais na nação. “Interessante notar que na análise dos avanços obtidos nas últimas três décadas – que endereçam a necessidade de reparar a dívida histórica que temos em relação à educação pública, principalmente – estão a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o Novo Ensino Médio e a expansão da Educação Profissional e Tecnológica”, destaca Sassaki.
Na análise da OCDE dos 10 passos, o oitavo se refere à necessidade de aumentar a relevância da educação para os alunos – que dialoga diretamente com a reestruturação do Ensino Médio e o respectivo aumento de itinerários disponíveis para os estudantes, com a oferta de formação prática e opções profissionais nessa etapa do ensino. “A publicação traz que as reformas educacionais atuais, incluindo a do Ensino Médio, têm como um dos objetivos aumentar a motivação, o engajamento e o sucesso dos alunos fora das escolas. Uma opção apresentada pelo estudo é o desenvolvimento de programas em nível local, em colaboração com empregadores para responder ao engajamento e à demanda pelas habilidades envolvidas, além do desenvolvimento de itinerários profissionais que possam alimentar essa vivência do aluno”, analisa Sassaki.
Novo Ensino Médio e o combate à evasão escolar
Em uma perspectiva complementar, Sassaki aponta que há um quadro grave de evasão escolar no Brasil, problema que aumentou com a pandemia. “O desafio tem sido superar a barreira da falta de interesse e de engajamento dos estudantes, tornando a escola mais significativa do ponto de vista do aluno. A elaboração de itinerários formativos que unam as demandas do mercado e da vida aos interesses dos estudantes tem como uma das justificativas a troca de um currículo engessado por novas possibilidades de estudo”, afirma. De acordo com o especialista, se antes o aluno percorria três séries do Ensino Médio com um currículo fechado e sem opções, com a reforma, esse aluno tem a possibilidade de criar diversos ambientes de aprendizagem, ou seja, ele pode escolher algumas disciplinas. “É importante que pais e responsáveis saibam que a Reforma do Ensino Médio é o primeiro passo para transformar o processo de ensino e aprendizado; ela tem o potencial, real, de tornar a escola – na percepção do aluno – mais significativa”, reflete.
Na percepção de Claudio Sassaki, há três alterações que ele considera como as principais mudanças na Reforma do Ensino Médio; todas elas estão atreladas ao objetivo de trazer mais protagonismo aos jovens, garantindo o exercício dos direitos de aprendizagem. A primeira é a ampliação da carga horária de 2.400 para 3.000 horas até o início do ano letivo de 2022; a segunda, a elaboração dos currículos com conteúdos norteados pela Base Nacional Comum Curricular; e, por último, os estudantes podem selecionar caminhos distintos de formação, optando pelos que estão mais em sintonia com os projetos de vida deles.
“Quando falamos do alinhamento dos currículos à BNCC, o cerne da questão é que eles darão as diretrizes para repensar o aprendizado. Há muito tempo, acompanhamos o desinteresse dos jovens pela escola; as taxas de evasão escolar são a prova viva dessa desconexão. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a Pnad Contínua e avaliação de Todos pela Educação, no período de 2012 a 2019, um em cada três estudantes de 19 anos – idade considerada ideal para a conclusão dessa etapa de ensino – não concluiu o Ensino Médio. Com a pandemia há uma preocupação muito grande que esse processo de abandono da sala de aula se acentue. Nesse sentido, a Reforma do Ensino Médio – que oferece ao aluno a possibilidade de escolher disciplinas em sintonia como o plano de vida desse estudante – pode transformar essa relação com a escola; acredito que aumentará a percepção de valor e sentido no aprender”, avalia o especialista. Segundo Sassaki, esse estudo mostra que, no Pará, a cada dois alunos, um não conclui essa importante etapa na idade considerada adequada. A taxa de conclusão é de apenas 45,6%.
Como mensagem aos pais e responsáveis que estão preocupados com o impacto da pandemia no cronograma de implementação da Reforma do Ensino Médio, Claudio Sassaki salienta que este é um processo benéfico para o futuro dessa geração. “Os alunos que estão na escola, hoje, têm necessidades e perspectivas de vida muito diferentes das registradas nas gerações anteriores. O modelo do Novo Ensino Médio, no entanto, há muito tempo não era adaptado à luz das mudanças geracionais; agora houve um redesenho para fazer frente a dados tão preocupantes quanto à conclusão da educação básica e à qualidade da aprendizagem ofertada neste segmento”, afirma o especialista.
O mestre em educação ressalta, também, a importância de incluir as famílias neste processo de adaptação do Novo Ensino Médio: “Os pais precisam ser corresponsáveis pela aprendizagem dos estudantes. Essa fase é um momento de muitas definições para a vida futura do adolescente. Portanto, a partir de 2022, com o novo formato do segmento, esses jovens poderão ter perspectivas mais concretas, experimentar as áreas de conhecimento pelas quais se sentem atraídos antes de decidir definitivamente o curso superior que irão fazer. Já os pais devem acompanhar essas escolhas e definições do projeto de vida de seus filhos para apoiá-los e dar o suporte necessário para que o futuro de cada estudante seja pautado pelas possibilidades e pelos sonhos reais e concretos formados durante essa trajetória do final da educação básica”, finaliza.
SOBRE A GEEKIE |Referência em educação com apoio de inovação no Brasil e no mundo, a Geekie foi fundada em 2011 – pelos empreendedores Claudio Sassaki e Eduardo Bontempo – com a missão de transformar a educação do país. Em uma década, a empresa tem desenvolvido soluções inovadoras que potencializam a aprendizagem. Com foco no Ensino Básico, a edtech alia tecnologia de ponta a metodologias pedagógicas inovadoras. Única plataforma brasileira de ensino adaptativo credenciada pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) para o Guia de Tecnologias Educacionais – que identifica soluções tecnológicas capazes de melhorar a qualidade do ensino brasileiro –, em sua trajetória a Geekie alcançou mais de cinco mil escolas públicas e privadas de todo o país, impactando cerca de 12 milhões de estudantes.
Entre as certificações mais relevantes, a empresa destaca: WISE 2016 (Qatar Foundation), TOP Educação (Revista Educação, categoria software educacional mais lembrado do mercado), Empreendedor Social Brasil (Folha de S. Paulo e Fundação Schwab), Empreendedor Social Mundial (Fundação Schwab), Trip Transformadores e Empresas Mais Conscientes (Revista IstoÉ). A Geekie já contou com aporte de investidores de tradição na área educacional como Arco Educação, família Gradin (por meio do fundo Virtuose), Fundação Lemann, Jorge Paulo Lemann (por meio do Fundo Gera), além dos fundos, o norte-americano Omidyar Network e o japonês Mitsui & Co.
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