Afinal, qual é o papel da Inteligência Artificial na educação?

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Os resultados das últimas aplicações do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) trazem um alerta para a educação do país e mostram queda na habilidade esperada em matemática para o Ensino Médio. As redes estaduais foram as que apresentaram maior concentração de estudantes nos níveis mais baixos de conhecimento adequado para a etapa do ensino. Além disso, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2022 revelou que metade dos estudantes de 15 anos estão abaixo do nível básico de leitura. Os estudantes brasileiros, independentemente de sua condição financeira, apresentam desempenho inferior ao de seus pares internacionais, sendo que o problema da qualidade educacional no Brasil é da educação pública e privada. O sistema educacional é organizado por séries nas quais o que se aprende em cada etapa vai ganhando complexidade e todos os estudantes avançam juntos. No entanto, muitos não progridem de fato, deixando lacunas de aprendizado não resolvidas. E é aqui que a tecnologia e a inteligência artificial surgem como ferramenta. Em 2011, a Geekie nasceu nesse contexto, criando a primeira plataforma de aprendizagem adaptativa do Brasil, já empregando o uso de inteligência artificial e oportunizando ganhos de aprendizagem por meio de trilhas personalizadas de estudo

Até hoje, a empresa já alcançou mais de 12 milhões de estudantes em todo o país. Estudos realizados pela consultoria METAS Sociais comprovaram o impacto da plataforma: estudantes de escolas públicas que utilizaram a plataforma obtiveram, em média, um aumento de 72 pontos no simulado oficial do MEC. Já os que seguiram completamente o plano de estudos personalizado Geekie tiveram um desenvolvimento cinco vezes maior do que aqueles que não se beneficiaram dessa abordagem adaptativa. Foi a IA que possibilitou, em 2016, milhares de estudantes ingressarem no ensino superior e hoje possuírem uma profissão e diploma de terceiro grau. 

Atuar em ganhos de aprendizagem foi uma grande realização e também gatilho para uma reflexão ainda maior. Por que esperar estudantes chegarem ao final do Ensino Médio sem aprender o básico para, só então, atuarmos? Como colocar todos estudantes na primeira fileira para que desenvolvam o máximo do seu potencial? Como uma professora com várias turmas pode ter um olhar individualizado para as necessidades de cada estudante?

Precisávamos encontrar a resposta. E um ponto de partida de como a inteligência artificial pode nos apoiar a resolver questões complexas como essas é antes pensar como resolver esses desafios sem a ajuda dela. Uma professora particular para cada estudante? Uma professora assistente para cada turma? Parecem propostas inconcebíveis do ponto de vista prático, mas, antes de descartá-las, que tal pensarmos na intencionalidade pedagógica por trás dessas ideias? Personalização da aprendizagem! Devemos tornar visível as necessidades de cada estudante e propor estratégias para que o aprendizado aconteça.

A tecnologia pode oferecer uma gama de conteúdos de qualidade para que a professora ou professor utilize de acordo com as necessidades de cada turma ou estudante e o emprego da IA pode promover o learning analytics, uma abordagem analítica que mede o processo de aprendizagem e fornece dados e evidências de forma individualizada. Ambos contribuem para a personalização do ensino ao prover fotografias em tempo real das situações individuais. Nas mãos de alunos, professores, gestores e família, os dados trazem transparência e diálogo ao ambiente escolar para decisões pedagógicas assertivas, além de produzir evidências de aprendizado para avaliações de novas competências demandadas, inclusive, pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

A partir disso, a Inteligência Artificial pode criar planos de estudos personalizados de acordo com as necessidades de cada estudante, que possuem diferentes estilos de aprendizagem, garantindo a inclusão e a equidade no ambiente de aprendizagem. Já a IA generativa pode auxiliar na correção de atividades dissertativas, além de criar boas questões para diagnosticar a evolução do aprendizado.

Sabemos que a implementação de tecnologia e IA na educação não é isenta de desafios. É preciso conscientizar estudantes para o uso ético e responsável, assim como dedicar tempo para a formação docente. O primordial é que estejam sempre à disposição do pedagógico. Só assim tornam-se instrumentos poderosos para trazer mais eficiência e eficácia ao processo de ensino e aprendizagem. 

Eu sei que em um mundo sem essas tecnologias era inconcebível pensar que cada estudante pudesse contar com uma professora particular ou que a profissional pudesse contar com docentes assistentes em suas turmas. Mas aqui temos convicção do potencial transformador que a personalização da aprendizagem pode trazer para a educação: permitir um olhar individualizado e, assim, estreitar as relações humanas na escola. 

(*) Eduardo Zanini é Diretor de Produto da Geekie, onde, desde a fundação da empresa, lidera o desenvolvimento de inovações focadas em promover uma aprendizagem ativa, personalizada e visível, conectada às necessidades atuais e futuras dos estudantes.

Formado em Comunicação Social pela UFMG e pós-graduado em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral, Eduardo possui quase 20 anos de experiência em liderança de equipes de tecnologia e quase 15 anos de atuação no setor educacional. Além de seu trabalho na Geekie, ele também tem experiência como professor de filosofia do Ensino Fundamental e em cursos de gestão e liderança de produtos digitais.

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