Reflexões sobre a BNCC e a reforma do Ensino Médio: confira as falas de palestrantes do GEduc 2018

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GEDUC 2018

A equipe da Geekie esteve presente no GEduc 2018, que aconteceu entre os dias 21 a 23 de março, em São Paulo, SP. Dentre tantos conteúdos apresentados no congresso, trouxemos um assunto muito debatido ultimamente: a BNCC e a reforma do Ensino Médio. Confira!

Todo o conteúdo apresentado aqui representa a opinião dos palestrantes mencionados e foi retirado do painel “Quais os caminhos para o “novo” ensino médio? O que trará a BNCC do ensino médio?” que ocorreu no dia 21 de março durante o XVI Congresso Brasileiro de Gestão Educacional, o GEduc 2018. O momento foi moderado por Amábile Pacios, vice-presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares, e contou com a presença do Prof. Dr. Antonio Carlos Caruso Ronca, conselheiro da Câmara da Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, Rommel Fernandes Domingos, sócio fundador do Grupo Bernoulli onde atua como diretor de ensino, e Prof. Wilton Ormundo, diretor do Ensino Médio na Escola Móbile.
Confira o perfil completo dos participantes clicando aqui.

Como a BNCC e a reforma do Ensino Médio são percebidas pelos educadores?


Amábile Pacios introduz o painel com algumas frases que já escutou durante seu trabalho como vice-presidente da FENEP: “A reforma do Ensino Médio é a reforma que nós queremos? Essa reforma vai conversar e estabelecer diálogo com aluno, além de leva-lo para o futuro a que ele pertence? Se tenho uma turma de cada série, como faço com os itinerários? Como vamos passar de uma carga horária de 800 horas para 1000 horas, especialmente no setor público? Vamos considerar essas horas apenas em sala de aula ou também quando os alunos são assistidos a distância?”.

“No Brasil inteiro, a escola está angustiada. Mas o que está angustiando a escola?” – Amábile Pacios

Dentro da Câmara Federal, Pacios afirma que acompanha a reforma do Ensino Médio há mais de 8 anos. Também complementa que “já foram feitas muitas audiências – com a família, com gestores, com a escola pública, com a escola municipal”. Mesmo assim, dentro do contexto da Câmara Legislativa, o trabalho não é concluído. “Temos medo da BNCC não ter continuidade, e é uma angústia de todo mundo. Como se daria essa continuidade?”, reflete Pacios.
Confira nossa entrevista com Ademar Pereira aqui: “A BNCC nas escolas particulares: “A Base funciona, mas, sozinha, ela não irá mudar a educação”

“Educação é luta; precisa ter coragem e suar a camisa”


O prof. Dr. Antonio Carlos Caruso Ronca começa sua apresentação instigando o público a refletir: “A educação do Brasil melhorou ou piorou? Em geral, a resposta predominante é que piorou. Eu vou dizer que não. Defendo a tese de que melhorou bastante, só que existem alguns desafios que permaneceram no tempo e não se modificaram”.

“Em 1950, 50% da população escolarizável estava na escola. Atualmente, 98% das crianças de 6 anos estão na escola. O Ensino Fundamental melhorou muito. Agora, temos a obrigatoriedade do ensino dos 4 aos 17 anos. São conquistas.” – Prof. Dr. Antonio Carlos Caruso Ronca

Dentro do contexto de conquistas da educação brasileira, Ronca menciona Débora Seabra, a primeira professora com Síndrome de Down do país. Pensando que o GEduc 2018 começou logo no dia 21 de março, Dia Internacional da Síndrome de Down, o professor ressalta a importância da inclusão na escola. “Não podemos concordar que nesse país quem tiver qualquer tipo de deficiência seja discriminado”, determina Ronca.

“E é pra isso que existimos. Educação é luta; precisa ter coragem e suar a camisa. Precisamos construir uma sociedade onde essas desigualdades não sejam muito grandes.” – Prof. Dr. Antonio Carlos Caruso Ronca

“O nível de escolaridade da população brasileira é baixo e desigual. Quando chega ao ensino médio, 43% dos jovens brasileiros prestam o ENEM, e, desses, somente 17% vão para a universidade. Muita gente vai se perdendo no caminho”, fala Ronca.

BNCC e a reforma do Ensino Médio: problemas atuais

A reforma traz consigo a questão da flexibilização curricular e dos itinerários formativos. Ronca destaca um desafio nesse ponto: “53% dos municípios brasileiros possuem uma única escola de Ensino Médio. Como um diretor dessa escola vai conseguir fazer os itinerários formativos ou a integração com ensino profissional? Tenho impressão que essa lei trará poucas consequências para a escola privada e, para a escola pública, a impossibilidade de vivenciar os itinerários formativos”.
Outra questão que fica é se a BNCC vai ser estruturada por disciplina ou por área. Ronca questiona: “como pode fazer reforma do ensino médio e deixar a BNCC pra depois? A angústia é compartilhada por todos os educadores”, como mencionou Pacios anteriormente.
E, dentro dessa discussão, o tema abordado é a formação de professores: “Se a BNCC for por área, nós temos professores formados para isso? Não, nós temos professores formados em disciplinas”.
Ronca instiga a reflexão a partir do questionamento de “como podemos fazer para dar um salto de qualidade na educação brasileira?”. Para o professor, é possível “implementar políticas públicas estruturantes, que envolvam vários atores, como ministério público, empresários, iniciativa privada e toda a sociedade. Essas políticas devem permanecer no tempo, não só em 6 meses, pois o problema de educação é muito complexo. Mexer no currículo ou na carga horária é só um primeiro passo”.
E, abordando um tema que não pode ser deixado de lado, qual o espaço que a lei dá para a questão da tecnologia? “Esse vai ser o grande diferencial. Nós estamos em uma economia 4.0, que está se modificando radicalmente, e exige uma formação do jovem para isso”, fala Ronca.
Concluindo, o professor menciona que conversou com Cesar Callegari e ele disse que “seria melhor se a gente pudesse começar tudo de novo”. Para Ronca, “a lei dará sérios problemas para a educação do Brasil, pois vem descolada de outros problemas mais urgentes”.
Confira nossa entrevista com Cesar Callegari aqui: “Temos que acelerar para que, durante o ano de 2018 e até o começo de 2019, já tenhamos a Base do Ensino Fundamental presente nas escolas brasileiras”

“Estudar muda a condição de uma pessoa”


Em sua apresentação, Rommel Fernandes Domingos conta sua trajetória estudantil: “nasci na década de 70 e, no fim dos anos 80, resolvi estudar. Minha realidade não era muito diferente da maioria dos brasileiros – a minha casa não tinha energia elétrica. Assim, minha opção era estudar com velas. Estudar muda a condição de uma pessoa. Escutei muito minha mãe contando que na década de 70 a escola era melhor, porque ela aprendia latim e francês. A escola era melhor porque ensinava mais. Será que é verdade mesmo?”, questiona Domingos.
“Na década de 80 e 90, a escola era lugar de dar informação, e era muito valioso. Naquela época não existia internet, e você consultava informações na Barsa, por exemplo. E como era o ensino e o estudo? Tudo decorado. E ainda bem que tudo mudou. Não me lembro de nada hoje”, afirma Domingos.

“Existe alimento que faz crescer, mas muitos atrapalham a digestão, e esse é o grande entrave do Brasil: ensinar o que não tem que ser ensinado” – Rommel Fernandes Domingos

“Hoje eu olho pra trás. Muitas das horas na luz de velas que fiquei me dedicando não serviram pra nada. A escola melhorou, e hoje abraça muitas pessoas, mas será que ensinamos o que é necessário? O brasileiro é reconhecido internacionalmente como um aluno que estuda muito, mas tem pouca habilidade e não sabe o que fazer com a informação”, reflete Domingos.
Rubem Alves falava que curiosidade é fome. Portanto, Domingos afirma que, “para aprendermos, precisamos ter fome e curiosidade. Não podemos tirar a fome de nossos alunos. Quando entregamos para os nossos alunos um conhecimento indigesto, ele vai perdendo a fome. E os jovens não têm culpa.”
“As bases da reforma são flexibilidade e aplicabilidade. O conteúdo tem aplicação no dia a dia? Então, o aluno tem que saber. A teoria pode sim vir aplicada, e isso é um desafio para sistemas de ensino, editoras e professores. Temos uma direção para seguir. E, dessa forma, vamos aumentando a curiosidade [e a fome] do aluno”.
Outro pilar da reforma é a interdisciplinaridade. Como mencionado anteriormente por Ronca, é difícil achar professores formados por área e não por disciplina. Domingos ressalta esse desafio: “hoje, não é possível, mas podemos caminhar aos poucos. Infelizmente, colocamos os conhecimentos em caixinhas e não tinha que ser assim, porque tudo está amarrado. Ao falar de energia, dá para falar de geografia, matriz energética, biologia, meio ambiente, enfim… A tendência é caminhar para interdisciplinaridade. Se nós sabemos a direção que vamos seguir, pode demorar, mas chegaremos.”
E é importante não esquecer-se da tecnologia dentro desse contexto: “a tecnologia veio pra ficar e para melhorar, além de resolver o problema da carga horária de 800 horas para 1000 horas. Recentemente, muitas pessoas ficaram desesperadas quando leram a notícia da educação ser 40% a distância. Hoje, existem vários programas em que conseguimos monitorar, fora da sala de aula, o desempenho do aluno em videoaulas e exercícios. A tecnologia nunca vai substituir o professor, mas pode melhorar e muito a educação”, afirma Domingos.
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A inovação no Ensino Médio na prática: caso da Escola Móbile


Para mostrar que é possível oferecer um ensino de qualidade dentro desse contexto, o Prof. Wilton Ormundo apresenta o caso da Escola Móbile, onde é diretor do Ensino Médio. Só para mencionar alguns desafios da instituição: currículos engessados, com o vestibular como base, assim como o ENEM, baseando-se em um ensino cada vez mais conteudista, além da exigência constante das famílias. Por isso, “entre 2011 e 2012, começamos uma crise com o ensino médio que nós tínhamos”, diz Ormundo.
“Me parece que Ensino Médio ainda tem essas caras. Lousas lotadas de fórmulas, provas e provas feitas inutilmente, concurso vestibular. Analisamos os dados e somos cobrados pelos pais. Por que nós de escolas particulares somos escravos do Enem? Um dos fatores de engessamento do Ensino Médio são, sem dúvida, os vestibulares. Crianças e adolescentes exaustos, discutindo coisas que não fazem nenhum sentido pra eles, mesmo quando escolas são consistentes e decidem seguir algo. Quem trabalha em escolas particulares sabe que cada estado, à sua maneira, exige aquilo que cada vestibular exige de nós”, afirma Ormundo.

“Precisamos falar sobre o Ensino Médio. Por décadas, ficou como algo bem resolvido. Mas nós sabemos que estava bem longe de ser resolvido e longe de ser satisfatório para todos nós. Por isso, trabalhamos ao longo dos anos com um modelo novo”. – Wilton Ormundo

Concluindo, Pacios complementa a fala de todos os participantes, afirmando que “agora, o professor tem duas salas de aula – uma real e uma virtual”. Assim, é essencial que o educador entenda como relacionar-se com os alunos nesses dois ambientes. Pacios conclui que “é possível ter mobilidade apesar do gesso”.
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