Festa junina e feira de ciências na escola: oportunidades para estreitar os laços com as famílias e engajar os(as) estudantes no processo de aprendizagem

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Eventos abrem as portas da escola para que a comunidade conheça projetos, dinâmicas e práticas realizadas em sala de aula

No calendário das escolas, o mês de junho costuma ser dedicado à realização das chamadas feiras culturais ou de ciências e das tradicionais festas juninas. Esses eventos são boas oportunidades para fortalecer o relacionamento com as famílias, aproximá-las do ambiente escolar e, principalmente, trabalhar pedagogicamente essas temáticas com os(as) alunos(as). 

Por acontecerem em junho, no final do primeiro semestre, também são momentos adequados para celebrar o fim de um período letivo antes das férias. Depois de dois anos de aulas remotas e festas realizadas no estilo drive-thru, são eventos que permitem a reunião das famílias novamente na escola (sem esquecer ainda os cuidados com a prevenção à COVID-19).  

Veja algumas sugestões de como explorar cada um desses eventos em seus diversos aspectos.

Como trabalhar com o tema Festa Junina na escola?

Bandeirinhas fazem parte da decoração das festas juninas

A competência geral número 3 da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aponta para a importância de tratar da cultura popular nas instituições de ensino: “Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.”

Ao trabalhar o tema na escola, o ideal é olhá-lo sob o aspecto das festas populares brasileiras, valorizando sua riqueza e diversidade cultural, ou seja, como são comemoradas em cada região do país, com suas músicas, pratos típicos, tradições locais e particularidades. No Nordeste, por exemplo, predomina o forró, as casas são enfeitadas com bandeirinhas e os festejos costumam durar mais de um mês. No Norte, as danças mostram o ritmo típico da região, o carimbó, e encenam lendas da Amazônia, como a do Boto. Já no Centro-Oeste, a festa tem influência dos países fronteiriços e conta com a polca e a sopa paraguaias. 

E não pára por aí: no Sudeste, o destaque vai para as comidas típicas que levam amendoim e milho, além do pastel, pizza, cachorro-quente, canjica, pipoca, pé-de-moleque, entre outros alimentos. Nos estados do Sudeste, a festa junina ganha o nome de quermesse e é realizada, costumeiramente, por igrejas e escolas. Destaque ainda para as brincadeiras, como argolas, boca do palhaço e pescaria. No Sul, assim como na região Sudeste, os pratos típicos são destaque nas festas juninas. No Paraná, o pinhão é um dos alimentos bastante consumidos nos festejos, assado na brasa das fogueiras, cozido ou incrementando alguma receita. As quadrilhas também são item obrigatório nas festas do Sul, que no Rio Grande do Sul, dividem espaço com as músicas gaúchas e as danças xote e chamamé, por exemplo. 

Também vale a pena resgatar a origem das festas juninas. Tradicionalmente, elas celebram três santos católicos – Santo Antônio (no dia 13 de junho), São João Batista (24 de junho) e São Pedro (dia 29 de junho), mas a origem das comemorações nesse período do ano remonta à Antiguidade. Vários povos, como hebreus, egípcios,celtas e nórdicos, realizavam rituais para celebrar o solstício de verão no hemisfério norte (que ocorre no mês de junho) e obter fartura nas colheitas do ano. Nessa mesma época do ano, os povos indígenas que habitavam a América antes da chegada dos europeus também faziam celebrações ligadas à agricultura, com cantos, danças e comidas. 

No contexto da colonização portuguesa na América, os festejos do mês de junho incorporaram o caráter religioso dos portugueses, os costumes das comunidades nativas, além de elementos da vida sertaneja. Toda essa diversidade gerou as festas juninas tal como conhecemos hoje – com muita música, danças, trajes e pratos típicos do interior do país.

Esses aspectos sobre a festa junina – história, diferenças regionais etc  – podem ser abordados, alinhados sempre com as habilidades de aprendizagem para cada ano e segmento. O trabalho pode acontecer de forma interdisciplinar, envolvendo diferentes componentes curriculares, como História (origem das festas), Geografia (locais de origem das festividades e regionalismos), Língua Portuguesa (cantigas, lendas, literatura de cordel, receitas típicas) e Arte (produção da decoração para a festa, estudo da cultura popular), além de brincadeiras lúdicas com as crianças da Educação Infantil e do Ensino Fundamental Anos Finais.

5 dicas para organizar a festa junina e envolver estudantes e famílias

Envolva toda a comunidade escolar

Equipe gestora, professores(as), funcionários(as), alunos(as) e familiares podem participar de todas as fases da organização. Em um primeiro momento, os(as) representantes de cada um desses grupos podem se reunir para traçar as diretrizes gerais da festa – dia, horário, tema (se houver), escolha e sequência das apresentações de dança e músicas, decoração, logística de funcionamento das barraquinhas de comidas e brincadeiras, divulgação etc. 

Para facilitar e agilizar o processo, toda a comunidade pode ser consultada por meio de formulários online. Posteriormente, podem ser formadas diferentes comissões (danças, comidas e bebidas, brincadeiras etc) contando com a presença de integrantes dos diferentes grupos. 

Engaje os(as) estudantes

Os(as) alunos(as) devem ter protagonismo na organização do evento. Envolver os(as) estudantes é uma forma de desenvolver habilidades como planejamento, cooperação, trabalho em equipe e comprometimento, além de favorecer as interações entre alunos(as) de diferentes séries e segmentos.

Envolva-os desde o começo, do planejamento à arrecadação de prendas para a realização da festa, da decoração à escolha das músicas e coreografias nas apresentações, dos convites para o evento à cobertura, registro e comunicação das ações durante e após a festa.

Abra espaço para iniciativas das famílias

Além da programação básica de uma festa junina, a escola pode abrir espaço para as famílias organizarem outras iniciativas, como brechó (adulto e/ou infantil), sebo e local para troca ou venda de brinquedos usados. Também podem ser ofertadas oficinas, em que uma pessoa que tenha uma habilidade ou saiba fazer algo interessante e relacionado ao contexto da festa vai compartilhá-la com as demais, como crochê, artesanato e culinária.

A escola pode também aproveitar o engajamento das famílias e dos(as) estudantes na realização de gincanas solidárias para a arrecadação de doações para apoiar ONGs, pessoas em situação de vulnerabilidade social, que estejam nas redondezas da escola, por exemplo. Assim, a festa junina, além de possibilitar um espaço de cultura e lazer, contribui para o exercício da solidariedade e cidadania, dialogando, inclusive, com as 10 competências gerais da BNCC. 

Inove nas danças

As danças não precisam se limitar às quadrilhas – que, aliás, têm origem nas quadrilles francesas, danças de salão formadas por quatro casais. O coco, o frevo, o baião e o bumba meu boi são outras possibilidades, que fazem parte da tradição brasileira e são apresentadas nas festas das diferentes regiões do país. Outra opção interessante é contar com som ao vivo, com grupos musicais e de canto regionais e mesmo uma roda de viola. 

Escolha um assunto para a festa

Se a festa junina tiver um tema central, ela pode ser bem mais interessante, além de permitir a conexão com unidades temáticas e objetos de conhecimento de cada ano e série. Outra ideia é homenagear um grande nome da cultura popular brasileira, como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Inezita Barroso e Jackson do Pandeiro, entre tantos outros. Será uma oportunidade para os(as) alunos(as) conhecerem a vida e a obra dessas importantes personalidades.

Feira de Ciências e feiras culturais ajudam a engajar alunos e alunas  

Também nessa época do ano, as escolas costumam realizar as feiras culturais ou de ciências, que contribuem para consolidar o aprendizado do primeiro semestre ou da realização de um projeto. As feiras devem ocorrer sob a ótica da investigação científica e como uma prática que estimula a pesquisa, a busca pelo conhecimento e o protagonismo dos(as) estudantes, conforme recomenda a competência geral número 2 da BNCC:

“Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.”

As feiras são também uma forma de envolver os(as) alunos(as), engajá-los(as) nas atividades pedagógicas e dar visibilidade à aprendizagem, possibilitando o compartilhamento dos  resultados dos trabalhos. Durante a realização dos projetos para exposição na feira, que costumam ser feitos em grupo, e durante a própria organização do evento e apresentação dos trabalhos, os(as) estudantes desenvolvem importantes competências como colaboração, comunicação, criatividade e pensamento crítico. 

Essas mostras culturais ou de ciências constituem, ainda, uma oportunidade da comunidade conhecer a escola, seus espaços educativos e práticas pedagógicas.  – é importante que a instituição preste atenção às recomendações sanitárias de combate ao coronavírus nesse caso ou na realização de qualquer outro evento.

4 dicas para organizar uma feira cultural ou de ciências

Use a metodologia ABP

O mais interessante é que os projetos promovam a aprendizagem em um contexto autêntico e significativo para os(as) alunos(as). A realização do trabalho pode seguir a metodologia ABP (Aprendizagem Baseada em Projetos): uma vez definidos os objetivos de aprendizagem e as habilidades que serão desenvolvidas, parte-se de uma pergunta norteadora sobre determinado tema para a investigação do problema, ideação e construção da solução e sua exposição e compartilhamento – veja um passo a passo de como desenvolver projetos com a ABP aqui.

Assim, os(as) estudantes desenvolvem uma solução para um problema real, com o intuito de impactar a comunidade e o mundo. Para isso, mobilizam conhecimentos de diferentes componentes curriculares, ao mesmo tempo em que desenvolvem competências socioemocionais.

Faça um bom planejamento

Pense antecipadamente no tema da feira, na data que será realizada, no local e na logística das salas e espaços que vão receber a exposição e nos insumos necessários como stands e decoração. Outro ponto importante é a divulgação da feira na escola, na comunidade e nas redes sociais antes, durante e pós-evento.

Diversifique o formato das apresentações

Além dos tradicionais stands, podem ser usados diferentes modelos, como ambientação da sala de aula com produção cenográfica, experiências sensoriais, performances (com interações com o público), instalações e produções audiovisuais. O mesmo pode ser feito com os convites, ao trazerem vídeos curtos antecipando algumas das atrações.

Defina um tema e trabalhe de maneira interdisciplinar

Escolher um tema para toda a escola ou para cada segmento contribui para a interdisciplinaridade do projeto, deixando mais claro para os(as) alunos(as) como os conteúdos se conectam. Unidades temáticas da BNCC– como “Matéria e energia”,  “Vida e evolução” e  “Terra e Universo” –  podem ser bons pontos de partida para a organização de uma feira de ciências, por exemplo. Um tema geral também promove a interação entre estudantes de diferentes séries e a troca de experiências.

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