Referência cultural e financeira na América Latina, São Paulo se torna destino de escolas internacionais, intituladas “escolas mundiais”, que desejam consolidar projetos interculturais e interdisciplinares e um modelo globalizado.
Diante desse fato, convidamos Cristine Conforti*, Diretora do Programa Brasileiro da escola Avenues, que estará presente na 3ª edição do EDUCO Brasil, para falar sobre o conceito de escola mundial e sobre a importância de mantermos um programa brasileiro nessas escolas.
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Na sua visão, como a apresentação do case da Avenues no EDUCO Brasil deste ano pode estimular mudanças nas escolas privadas e fomentar a quebra de paradigmas educacionais?
Os educadores de São Paulo já têm, há tempos, o desejo de renovar seus paradigmas e estão abertos a mudanças. Eles têm o desejo permanente de dialogar com seu contexto, com o futuro de seus estudantes. Isso a Avenues não traz, porque é algo que está espalhado pelas boas escolas da região. O que a Avenues certamente trará é a concretização dessas aspirações, o exercício real dessa pedagogia. Particularmente, penso que quanto mais a Avenues puder colaborar com outras escolas e em prol da educação brasileira, por meio de seus saberes e experiências, melhor se revelará sua concepção e método.
Como a Avenues se propõe a formar cidadãos globais? O que seria uma comunidade de aprendizagem integrada e fundamentada em uma visão globalizada e quais as suas vantagens?
Por nos posicionarmos como uma escola global, essa proposta já faz parte do nosso estatuto. A intercomunicação da Avenues tem início no nosso corpo interno, já que nossos professores são provindos de diferentes origens. Vemos que, hoje, a cidadania global é uma demanda do planeta, da educação, e é contemporânea em qualquer lugar. Ela é ética, global, e vê o homem como o grande “conteúdo” do planeta, independentemente de fronteiras.
Qual a proposta educacional da Avenues e por que vocês apostam na interdisciplinaridade?
O que trazemos de novo não está na metodologia, que já vem sendo desenvolvida há várias gerações, mas sim nas demandas do interconhecimento. Temos um currículo em rede que é extremamente criativo, muito bem-composto, que permite a intercomunicação entre as disciplinas, em vários níveis de competência. Ou seja, é por meio desse programa que temos capacidade de receber diferentes pessoas, professores com seus potenciais criativos, de intervenção e de diálogo.
A interdisciplinaridade é, para nós, um mapa bastante desenhado, centralizado no estudante. A grande expectativa para os nossos cursos é que o estudante seja o centro do processo, que ele esteja preparado para atuar de tal forma, em uma rede multicanal. Para isso, damos condições aos professores, para que eles atuem com os estudantes e seus colegas, para que eles possam planejar e projetar uma instituição bastante criativa, capaz de abraçar os resultados e atuar de forma prática.
Com a chegada da Avenues aqui no Brasil, o que vocês puderam aprender com base na gestão de outras escolas brasileiras e o que tiveram que adaptar à realidade brasileira durante esse percurso?
A gestão da Avenues em São Paulo traz o mesmo conceito administrativo-operacional e de recursos humanos que regula a escola de Nova Iorque. No entanto, a adaptação faz parte de todo processo inteligente de criação e implantação de um projeto. A Avenues teve a chance de aprender e de se enriquecer com nossa cultura educacional, assim como conheceu a burocracia e dialogou com as demandas legais. Ela teve a oportunidade de se abrir para um novo contexto urbano complexo e tem a chance de se “socializar” com as demais instituições de ensino.
Qual a importância para a Avenues de possuir um programa brasileiro?
Existe um postulado de sermos uma escola global. Então como poderíamos ser uma escola global se não considerarmos o programa que emerge da cultura brasileira? Não conseguiríamos se não levássemos em consideração e se não considerássemos como legítimo o poder que a nossa história, nossa língua, nossa literatura, e a nossa cultura têm de abrir expectativas e perspectivas. Talvez para outras escolas internacionais, a cultura brasileira e seus estudos não sejam considerados como relevantes. Vemos que o que os cidadãos têm a oferecer é relevante para a Avenues e isso constitui a parcela brasileira para o global.
Como o setor de escolas privadas vê a educação nos Estados Unidos e o que vocês veem de diferente aqui no Brasil?
Existem diferentes escolas privadas, com projetos distintos e, consequentemente, com diferentes pontos de vista sobre a educação nos Estados Unidos, dependendo da maior ou menor afinidade educacional/pedagógica. A Avenues vê o Brasil da perspectiva de São Paulo, tendo em conta a efervescência complexa dessa cidade, que é, ao mesmo tempo, assustadora e acolhedora, a sua a riqueza cultural e a abertura ao convívio e acolhimento das pessoas, as demandas familiares com suas especificidades e diferentes expectativas e a necessidade de assumir o engajamento e a atuação social em âmbito curricular.
O que vocês trazem como aprendizado para o Brasil da experiência que tiveram nos Estados Unidos?
Trazemos para o Brasil a capacidade de estender os ótimos resultados que tivemos, referentes à implantação e à vivência de um currículo interdisciplinar baseado em projetos. Trazemos de Nova Iorque também a clareza e a consistência de um currículo inovador já vivenciado e aprimorado.
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