Jogando por uma educação significativa

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Como jogar a favor de uma educação significativa aos estudantes? Confira abaixo, no novo artigo de Carolina Brant, como estratégias podem conduzir o momento do aprendizado, do futebol à sala de aula.

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Quando criança (e ainda hoje), eu não sabia jogar futebol. Apesar disso, tenho viva a memória do dia em que uma professora de Educação Física resolveu nos dividir em times e anunciou que jogaríamos uma partida de futebol.

Brevemente, ela nos introduziu ao que seriam os jargões e regras do jogo, apontou para que lado cada time deveria fazer gol e, sem pestanejar, colocou a bola ao centro do campo, levou seu apito à boca e num longo e estridente assobio, deu início à nossa emocionante “partida de futebol”.

Não tardou a nos darmos conta do que havia acontecido e dispararmos em bando atrás daquela bola, numa estridente e calorosa representação de uma corrida maluca. A bola disparava para um lado do campo e, na sequência, um bando de meninas corria para tentar alcançá-la. Alguém dava-lhe um chute com sucesso e lá se ia o bando desviando o curso para o novo rumo que a bola havia tomado.

Para nós, era o caminho mais óbvio. Se o objetivo era fazer o gol, a primeira ideia que nos vinha à mente era perseguir a meta e, para alcançá-la, precisávamos chutar a bola em direção ao gol… e assim continuávamos a correr em bando, de um lado para outro do campo.

E divagando sobre aquela cena, me dei conta de algo no mínimo curioso… aquela partida representou, muitas vezes, a minha vida escolar. Quase sempre, o foco das aulas estava no conteúdo e nos era dito que precisávamos dele para atingir a nossa meta ou ganhar o jogo (tirar uma nota boa na prova ou passar de ano). Por isso, ao longo do tempo, o que se via, era todo mundo correndo atrás da bola, ou seja, todo mundo corria atrás de decorar ou absorver o máximo de conteúdo possível, sem muito direcionamento e significado de fato.

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Estratégia: foco em habilidades

Voltando para a partida de futebol, fica claro que o resultado geral teria sido muito mais efetivo para o time e para cada uma, individualmente, se a professora tivesse focado nas habilidades que gostaria que fossem desenvolvidas em cada aluna, considerando seus domínios anteriores. Isso possibilitaria traçar diferentes percursos de desenvolvimento a cada uma e, muitas vezes, provê-las com orientações também diferenciadas.

Se, por um lado, as regras (conteúdo) e a meta final (ganhar o jogo) daquela partida de futebol estavam ali expostas para nós, por outro lado, pelo menos naquele episódio, não tivemos a oportunidade de compreender qual o sentido daquilo tudo. Era o jogo pelo jogo, sem perceber que ao longo de toda a atividade, várias habilidades estavam em desenvolvimento.

Da mesma maneira, em muitos momentos na sala de aula, eu via o conteúdo sendo apresentado para que eu pudesse ir bem na prova ou passar de ano. Por várias vezes, eu não soube que poderia aproveitar muito daquilo que me era passado para desenvolver tantas outras habilidades além da memorização, que me seriam tão úteis ao longo da vida.

Para formar times de futebol eficientes, as técnicas têm a percepção de quais habilidades afloram melhor em cada jogadora e, em razão disso, as submetem a diferentes treinamentos e as alocam em diferentes posições, enquanto, no time como um todo, não deixam de trabalhar, também, os fundamentos básicos do jogo de futebol, tão essenciais para uma trilha de desenvolvimento e compreensão integral da importância daquele esporte.

Numa sala de aula, idealmente, a lógica poderia ser parecida para atrelar o processo de aprendizagem ao atendimento de necessidades específicas e reforço de potencialidades de cada aluna. Assim como no jogo de futebol, essa parece ser uma estratégia bastante eficiente para o alcance do objetivo final, que acaba  sendo atingido de uma maneira até mais natural.

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O resultado: uma aprendizagem significativa

Entendo, obviamente, que no dia a dia da sala de aula não seja nada fácil voltar o foco individualizado para cada estudante. Mas tiro de lição, da minha própria experiência escolar, que os momentos em que pude perceber real significado no que estava aprendendo representaram as ocasiões em que fui capaz de absorver naturalmente o conteúdo, sem ter que relutar com as memorizações que me eram tão penosas.

Mas se o processo pode parecer não tão fácil assim,  a recompensa final é valiosa. Não é preciso ir muito longe e começar logo a usar metodologias ativas mais complexas, como sala de aula invertida,  rotação por estações ou aprendizagem baseada em projetos. Essas metodologias podem vir como um passo subsequente ao início, que pode passar por práticas que não precisam ser tão elaboradas.

Um exemplo pessoal que posso citar foi quando um professor de biologia sugeriu que as aulas sobre alguns temas fossem ministradas por grupos da própria turma, ao invés do conteúdo ser apresentado por uma aula expositiva dele. Me lembro de falar sobre doenças cardiovasculares com meus colegas e desmistificar a ideia de que colesterol é sempre ruim, fazendo uma diferenciação entre lipoproteínas HDL (high density lipoprotein) e LDL (low density lipoprotein).

E, pelo simples fato de ter participado ativamente da construção do meu conhecimento e o de minha turma, carreguei esses conceitos comigo por toda a vida sem sequer ter seguido carreira na área de biológicas. Mas por ter tido que estudar previamente o tema, preparar uma aula, produzir materiais para apresentação para turma e fazer uma exposição oral a meus colegas de turma, não só desenvolvi várias habilidades, como também, aquele foi um momento de aprendizagem realmente significativa para mim.

E a partir da adoção de práticas mais simples como essa, você, como técnica ou técnico desse time, pode se tornar aliada(o) fundamental de um processo de aprendizagem realmente marcante na vida de cada estudante com quem se relaciona. E, durante esse processo, você poderá ter evidências claras, não apenas da absorção do conteúdo, mas também do desenvolvimento de habilidades e competências relevantes à formação integral de cada pessoa.

E o resultado disso: aprendizagem com significado tanto para esses estudantes como para você mesmo. Hoje, a cada vez que percebo o progresso de um estudante que tenha sido obtido a partir de práticas focadas nas habilidades que objetivamos desenvolver, consigo ver claramente os reflexos desse progresso no meu desenvolvimento, buscando, cada vez mais, jogar por uma educação significativa.

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*Carolina Brant é Designer Pedagógica da Geekie, bacharel em Direito com LL.M. em Direito Empresarial e está cursando o programa de certificação em Social-Emotional Learning and Character Development pela Rutgers School of Arts and Science em parceria com College of Saint Elizabeth. Tem experiência com Direito da Tecnologia, apaixonada por educação, encontrou seu caminho contribuindo para o time de Educação Digital da Geekie.

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