A curadoria na educação e os desafios no papel do professor

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Curadoria na educação e o novo papel do professor

Paula Furtado, cofundadora da Mupi, escreve sobre a era da curadoria na educação, os novos papeis do professor e o uso de recursos digitais com intencionalidade na escola.

Transitando pelo mundo web, tive a oportunidade de me deparar com uma palestra do professor Mário Sérgio Cortella que me inspirou a escrever esse texto explorando a curadoria na educação. A palestra era sobre o seu novo livro, em co-autoria com o jornalista Gilberto Dimenstein, de título A Era da Curadoria – O Que Importa É Saber o Que Importa!.

Durante o vídeo, ele discute os diferentes papéis do professor nos dias de hoje, considerando as relações entre as práticas sociais, as novas tecnologias e os caminhos para educação, e defende a ideia de que, no mundo em que vivemos, com essa avalanche de informações, o conceito de curadoria deve ser apropriado pela educação e, fundamentalmente, pelo professor.

As palavras do professor reverberaram em minha mente e me trouxeram algumas reflexões, mas antes vamos falar sobre a curadoria em si e você já vai compreender a importância do assunto.

Curadoria na educação: O que significa ser um curador?

Ser um curador significa ser alguém que cuida e que coloca algo à disposição de determinada audiência, que seleciona, ou, como afirma o próprio professor Cortella, que distribui adequadamente. Curadoria é um conceito que, até então, fazia parte mais comumente dos campos da museologia, das artes e das exposições. Atualmente, o vemos também muitas vezes aplicado aos campos do jornalismo e da comunicação.

Ebook: As ferramentas digitais mais populares em sala de aula

Mas, pare e pense: se analisarmos brevemente o funcionamento de grandes empresas que possuem sucesso trabalhando com internet (como o Google e o Facebook), vemos que a personalização de conteúdo é umas das chaves do negócio. Além disso, é aberta a informação de que essas empresas trabalham muito em criar algoritmos que facilitem a entrega de conteúdos personalizados para o usuário final, como o que é mostrado em sua timeline nas redes sociais. Assim, podemos perceber que a curadoria no mundo das tecnologias é um conceito de muito valor.

E o professor, o que tem a ver com isso? Bom, se pararmos para pensar mais uma vez, vemos que o ato de ensinar, pelo viés de muitas pedagogias já propostas e experienciadas ao longo do tempo, está intimamente ligado ao ato da disponibilização daquilo que foi previamente selecionado. Para selecionar isso, são considerados aspectos como o recorte social da sala de aula, os objetivos de aprendizagem e as características dos alunos.

Curadoria na educação: Se eu não sei, é só perguntar ao Google?

Veja que isso é diferente da ideia de professor como aquele que detém a informação e distribui. Inclusive, essa ideia vem sendo muito questionada ultimamente por movimentos que lutam pela transformação da educação, afinal, se a sociedade mudou, o tipo de formação também deve mudar. Por esse caminho, é possível atribuirmos às novas tecnologias o papel de impulsionadora desses movimentos, já que, diante do fácil acesso a uma quantidade quase infinita de informações, tornou-se mais fácil compreender que informação é diferente de conhecimento. E ainda me atrevo a dizer que sou adepta à ideia de que a quantidade excessiva de informações pode atrapalhar a construção do conhecimento.

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A CURADORIA NA EDUCAÇÃO E OS DESAFIOS NO PAPEL DO PROFESSOR

Vemos muitas discussões atualmente questionando o papel do professor diante das novas relações em sala de aula, a partir da famosa frase “se eu não sei, basta eu perguntar ao Google”. No entanto, sabemos que não é bem assim e um pensamento desse tipo pode tornar a navegação na web um naufrágio. Quando nos damos conta disso, percebemos como o papel do professor é fundamental, pois cabe a ele então curar o que será disponibilizado e a partir daí ensinar a seus alunos a também serem curadores -, pois não adianta o aluno ter acesso a um mundo de informações, se ele não tiver sólidos critérios para selecioná-las e articulá-las. Além disso, quando pensamos em curadoria, pensamos em cultura, análise crítica e criatividade, que são pontos-chaves para o desenvolvimento do conhecimento.

Curadoria na educação: Selecionar, analisar e relacionar informações em avaliações nacionais

A importância desse processo já está presente nos exames avaliadores, como o ENEM e o PISA (Programa Internacional de Avaliação do Estudante), que, de certa forma, servem como balizadores dos currículos escolares. Podemos ver, por exemplo, que na Matriz de Referência do Enem, dois dos cinco eixos cognitivos que são comuns a todas as áreas de conhecimento são relacionados ao conceito de curadoria:

III. Enfrentar situações-problema (SP): selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informações representados de diferentes formas, para tomar decisões e enfrentar situações-problema.

IV. Construir argumentação (CA): relacionar informações, representadas em diferentes formas, e conhecimentos disponíveis em situações concretas, para construir argumentação consistente.

Também se relacionam à curadoria as seis dimensões de como lidar com informação propostas pelo PISA, a serem tomadas como base de ensino: ter acesso, manejar, integrar, avaliar, construir e comunicar.

Curadoria na educação: O papel do professor em sala de aula

Mas, e o professor? Como fará para lidar com essas novas demandas? Bom, não há (felizmente) um único caminho a ser dito como correto. Mas há a necessidade do próprio professor ampliar suas práticas como curador diante das novas tecnologias. É um cenário novo para todo mundo, pois todos precisamos aprender a nos situar e lidar com tanta informação!

Vou dar um exemplo: quando, na Mupi, estávamos produzindo nosso curso online gratuito para educadores sobre Objetos de Aprendizagem, no início estávamos dando foco em mostrar ao professor a quantidade de acervos de objetos educacionais que já existem na internet. No entanto, em meio ao processo, mudamos o foco do curso, optamos por mostrar ao professor como fazer uso de conteúdos disponíveis na internet que não necessariamente são de cunho educacional, mas que podem ser apropriados como objetos de aprendizagem. Ou seja, selecionar com critérios para disponibilizar com diferentes objetivos.

Esse caminho faz parte da minha sugestão para o professor: reconhecer seu papel fundamental nesse mar de informações, aprendendo a lidar com ele, ao mesmo tempo em que ensina os alunos a navegar.

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* Paula Furtado é formada em Letras pela Unicamp e mestra em Linguística Aplicada na área de novos letramentos, tecnologia e material digital na mesma universidade. Possui 6 anos de experiência profissional como professora e com a produção de material e-learning e design instrucional. É cofundadora da Mupi, que oferece cursos de tecnologia educacional. 

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