Mapa da empatia como instrumento de autoavaliação docente

Colunas
Mapa da empatia

Para criar um mapa da empatia, o professor deve se perguntar: o que meu aluno sente, fala, vê, faz e pensa? O exercício o coloca no lugar do outro. Nossa colunista, a professora Vanessa Giron, explica os benefícios da atividade para a autoavaliação docente:

Quem é professor sabe o quanto pode ser difícil avaliar o nosso próprio trabalho, pois temos a tendência de ser muito críticos conosco e com nosso desempenho em sala de aula. Acredito que todos nós, como pessoas e profissionais, estamos em constante transformação; devemos nos atentar a elas para nos desenvolver ainda mais e direcionar melhor nossas práticas em sala de aula. E, para isso, fazer periodicamente uma autoavaliação do nosso trabalho é fundamental. Encontrei, no mapa da empatia, uma ferramenta para essa avaliação.

Como mencionei no meu artigo anterior, Como ensinar a geração Z, ao retornar à escola como professora, após concluir a minha graduação e mestrado, pude perceber imediatamente o quanto a escola havia mudado nos últimos tempos – e o quanto o modelo mental dos alunos, o mindset, não era mais o mesmo. Essas mudanças continuam acontecendo, por isso, considero essencial para o sucesso do trabalho docente conhecer o seu público e aprofundar-se na empatia para conquistar resultados mais efetivos.

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O que é o mapa da empatia

Em 2015, quando entrei em contato com o design thinking pela primeira vez, conheci o mapa da empatia. Pude perceber que era uma ferramenta poderosa na promoção da empatia, uma vez que provoca em nós uma imersão no modelo mental do nosso público-alvo e nos ajuda a compreender suas reais necessidades. Embora ela seja utilizada no meio empresarial e publicitário, principalmente na criação de produtos, essa ferramenta, a meu ver, está diretamente relacionada à avaliação do trabalho docente em sala de aula, entre outras possibilidades de uso no ambiente educacional.

O mapa da empatia também é conhecido como tabela User + Need + Insights, que, em português, significa: usuário, necessidade e insights. Com ele, o professor pode ter uma noção mais específica do seu público, fazendo uma autoavaliação de si mesmo enquanto docente de forma mais eficiente, exercitando a empatia ao colocar-se no lugar dos seus alunos e tentando compreender melhor os seus pensamentos, sentimentos, falas e ações, assim como suas dores e necessidades. Sendo assim, ao observar o seu aluno e suas necessidades, o docente tem os insights adequados para ensinar da melhor maneira possível.

Se feita com sinceridade, essa análise através do mapa de empatia pode ser transformadora na vida de um professor, já que, por um momento, ele se coloca completamente no lugar do seu aluno e pode se olhar de outro ângulo, através do qual ele não costuma se observar.

Mapa da empatia extraído do site http://ramonkayo.com/

Como usar o mapa da empatia na escola

O uso do mapa da empatia funciona assim: para analisar as suas práticas docentes, o professor deve personificar o seu público em um aluno fictício, atribuindo-lhe um nome e uma idade de acordo com o perfil real dos seus alunos. Eu, por exemplo, leciono no Ensino Médio. Assim, posso escolher um nome feminino ou masculino e atribuir uma idade entre 14 e 17 anos, de acordo com a faixa etária dos meus alunos. Digamos que eu escolhi o nome Joana e atribuí a ela a idade de 16 anos.

Em seguida, é preciso fazer as seguintes perguntas que estão no mapa e preenchê-lo com as respostas, utilizando de preferência post-its, canetinha ou uma caneta comum:

  • Na minha aula, o que a Joana pensa e sente?
  • O que ela ouve?
  • O que ela vê?
  • Quais são as suas dores e necessidades?

Ao responder às perguntas, é possível ter uma boa noção, muito mais objetiva, da forma como conduzimos nossas aulas e da forma como nossos alunos nos veem, o que quase sempre é transformador para o nosso trabalho. Por exemplo, o que a Joana vê na minha aula? Uma professora que circula pela sala e é proativa ou alguém que demonstra desânimo por estar ali? E o que a Joana ouve? Estímulos, incentivos, boas explicações, instruções claras ou broncas excessivas, frases negativas e explicações longas e confusas? E o que ela fala e faz? Ela conversa com os colegas fora de hora, dorme, negligencia as atividades ou presta atenção na aula, envolve-se nas atividades e trabalha em conjunto com os colegas? E o que ela sente: por exemplo, que a aula está sendo produtiva ou entediante? A partir dessas perguntas e desses exercícios de empatia profunda, é possível ter mais clareza sobre as dores e as necessidades dos nossos alunos, obtendo os insights adequados para ensinar de maneira a alcançar melhor os estudantes.

Tudo bem se o mapa da empatia causar incômodo

Sei que esse tipo de autoavaliação não é fácil e pode gerar certo incômodo, dando a sensação de que precisamos melhorar em alguns pontos. No entanto, o autoconhecimento e a autoanálise são ótimos passos para aprimorar a qualidade das nossas aulas e nos conduzir na direção do professor que queremos ser. Essa ferramenta também pode ser utilizada por coordenadores e outros gestores que desejem fazer uma autoavaliação para aprimorar o seu desempenho e aumentar a empatia com relação aos colegas de trabalho.

Tenho certeza de que você será um profissional ainda melhor depois desse exercício!

* Vanessa Giron é formada em Letras, português e grego clássico, e mestre em Letras Clássicas pela USP. Professora desde 2011, foi coordenadora de Ensino Médio por dois anos no Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, onde leciona atualmente. Utiliza o Design Thinking e o Pensamento Visual nas suas práticas educacionais desde 2015. No início de 2017, idealizou e criou o blog “Empodera  professor!”, com o objetivo tratar de empoderamento e autoestima de professores.  Acesse o blog em empoderaprofessor.wordpress.com. Siga no Instagram @vanessagiron_ . Entre em contato: profvanessagiron@gmail.com.
 

Este artigo foi originalmente publicado em 15 de março de 2017 e atualizado em 7 de outubro de 2020.

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