É uma preocupação comum: as máquinas têm substituído os humanos em muitas ocupações. E a tecnologia tem se inserido cada vez mais na educação. Isso quer dizer que o emprego dos professores está ameaçado? Eles podem ser substituídos por essas tecnologias? O que será das escolas do futuro?
A Geekie e outros especialistas em inovações educacionais em todo o mundo acreditam que os professores são insubstituíveis. Mas também observamos que seu trabalho tem sido inevitavelmente influenciado pelas novas tecnologias e que seu papel, como consequência, deverá sofrer alterações: o professor será algo mais próximo a um mentor que guiará os alunos em sua busca ao conhecimento.
E isso é algo muito positivo para os dois lados: ambos ganham mais autonomia para focar nas atividades que lhes forem mais significativas e efetivas no processo de aprendizado, e podem desfrutar de uma relação professor-aluno mais próxima e personalizada.
O Bright, portal de inovação em educação apoiado pela Fundação Bill & Melinda Gates, publicou um artigo interessante sobre essas questões, intitulado “O professor e a máquina”. O texto é assinado por Eric Westendorf, ex-professor e diretor escolar e fundador da empresa LearnZillion.
O computador que joga xadrez
Ele começa lembrando de um acontecimento que chama de “divisor de águas” na relação entre humanos e máquinas: nos anos 90, em Nova York, um computador da IBM chamado Deep Blue venceu no xadrez o russo Garry Kasparov, então melhor jogador do mundo. Essa vitória gerou a questão: em quais outras coisas uma máquina pode ser melhor que os humanos?
“Quando Deep Blue venceu Kasparov, aquilo era uma questão acadêmica. Poucas escolas tinham acesso à internet ou a dispositivos eletrônicos. Isso mudou nos últimos cinco anos: 92% das escolas [nos Estados Unidos] têm acesso à Internet de alta velocidade hoje, e nos próximos cinco anos um programa federal deverá gastar mais de US$ 8 bilhões para garantir que 99% dos alunos tenham acesso à banda larga. Enquanto isso, a concorrência entre os Chromebooks, iPads e Kindles está empurrando para baixo o preço de dispositivos. A tecnologia em breve será onipresente nas escolas”, diz o artigo.
Hoje, em um mundo com softwares como a Siri e carros que se dirigem sozinhos, quais são as implicações para as escolas? Se uma máquina pode vencer um mestre de xadrez, também pode “bater” um professor?
Para pensarmos na resposta, consideremos outro fato. Quase dez anos após a derrota de Kasparov, ocorreu outra competição importante de xadrez. Mas, dessa vez, havia equipes híbridas formadas por homens e máquinas para competir com grandes mestres (humanos) e supercomputadores como Deep Blue. O resultado? Os vencedores foram uma equipe formada por dois jogadores amadores e três computadores regulares. De acordo com Kasparov, “a habilidade desses jogadores em manipular e treinar seus computadores contrabalançou eficazmente o entendimento superior de seus adversários humanos e o maior poder computacional das supermáquinas.”
Professores e máquinas: relação de cooperação
O que isso nos ensina? O artigo explica:
“Os seres humanos e as máquinas têm habilidades complementares. A genialidade única de Kasparov estava em sua capacidade de ler o seu adversário e em sua criatividade. A força do Deep Blue estava em seu poder computacional que lhe permitia avaliar 200.000.000 de posições por segundo. Quando você coloca as duas habilidades juntas, o time humano-máquina pode vencer qualquer ser humano ou computador sozinho”.
É claro que o xadrez é um jogo que poderia ser descrito como um problema de dados (ou big data) por excelência. A maioria dos desafios – incluindo educar um ser humano – não se resumem a isso, mas dependem muito de nossa capacidade humana única de sentir empatia, interpretar e compreender o comportamento de outros seres humanos. “O poder único e exclusivo dos seres humanos será sempre central para a educação. Máquinas não irão substituir a intuição, a criatividade, o poder de inspirar, o brilho nos olhos ou o olhar que comunica ‘Eu acredito em você’, que só os humanos podem proporcionar”, diz o artigo.
O autor acredita que o futuro da educação está na simbiose – homem e máquina trabalhando juntos para aproveitar o melhor de cada um. “O poder das máquinas deve ser usado para melhorar nossas escolas e salas de aula. Mas, em vez de pensar nas máquinas substituindo os seres humanos, devemos pensar nas máquinas empoderando-os para que possam se conectar de forma mais eficaz, entender, diagnosticar e apoiar cada um de seus alunos”.
Para ele, o futuro próximo da educação pode ser assim descrito:
“Uma professora conduz uma turma de estudantes em uma combinação de desafios em grupo e tarefas individuais. Ela compartilha conteúdos com a classe por meio de um dispositivo de projetar imagens nos aparelhos individuais dos alunos. Estes, por sua vez, conversam em pequenos grupos, trabalhando nos seus projetos e consultando um ao outro e também à professora, quando precisam de alguma ajuda ou opinião. A professora acompanha o progresso de cada um pessoalmente e em seu dispositivo particular – máquina que também lhe fornecerá recomendações para os próximos passos de sua aula. Circulando pela sala de aula, ela diagnostica e recomenda atividades para cada aluno. Enquanto todos se ocupam de suas atividades, ela se se senta ao lado de um estudante que parece frustrado. Olhando-lhe nos olhos, ela coloca a mão em seu ombro e diz: ‘Conte para mim onde você está tendo dificuldades’”.
Escolas que aplicam práticas ligadas ao ensino híbrido já experimentam uma realidade bem parecida, com professores já inseridos em um papel mais próximo ao de mentor. Para saber mais sobre essa tendência, recomendamos assistir a um debate que a Geekie realizou sobre o tema, disponível gratuitamente neste link.
E você, como imagina o futuro das salas de aula?
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