O professor Leonardo Freitas conta por que, apesar das dificuldades da profissão, ainda vê vantagens na carreira docente. E você – concorda ou discorda delas?
Quando anunciei em casa que faria vestibular de Letras, fui bombardeado com olhares de desconfiança, questionamentos sobre “o meu futuro” e comparações aos primos que cursavam Direito, Medicina e afins. Geralmente, quando uma pessoa opta pela carreira de professor, as demais questionam a escolha, afinal de contas, a ideia que se tem sobre a área é de sofrimento, angústia e dificuldades.
Entretanto, eu sempre pensei que, ao escolher uma carreira, é fundamental que se tenha paixão pela função: ficar anos e anos no mesmo ramo não é nada fácil, especialmente quando se trata de uma caminhada repleta de dificuldades. E, apesar do panorama negativo, eu escolhi olhar para as vantagens de ser professor no Brasil! Veja só:
O professor está cercado de pessoas novas
Se conhecer gente te deixa feliz, seja professor! Na mais modesta das hipóteses, você conhecerá pelo menos cinquenta pessoas novas por ano – sem contar os pais delas. O professor terá conexões em todas as esferas sociais e profissões. Isso, além de divertido, pode ser útil.
O professor não tem rotina
A sua rotina será justamente a falta dela. Nunca uma aula será igual à outra, nem mesmo quando a disciplina for a mesma, apenas com turmas diferentes. Dá para se ter uma noção do quê e como será trabalhado, mas toda aula é imprevisível.
O professor (ainda) é admirado
Por mais que as notícias pintem um cenário negativo, ainda recebemos muita admiração das pessoas que nos cercam. Pode ser que você, como professor, seja visto com admiração ou piedade, mas será visto – e seu trabalho, indiscutivelmente, terá valor aos olhos da sociedade. Além de ser muito bom para a autoestima, serve como estímulo para ser sempre melhor.
O professor tem férias duas vezes ao ano!
Enquanto muita gente estará se estapeando para tirar uns dez dias de férias em janeiro, você terá folga duas vezes ao ano, nas épocas mais procuradas. Apesar de trabalhar bastante e ter muitas responsabilidades ao longo do ano letivo, nós costumamos ter férias bem agradáveis e acabamos nos beneficiando com atividades diferenciadas, feriados prolongados, dentre outros momentos de descanso.
O professor sempre encontra trabalho
Muitas áreas poderão sofrer com crises e desemprego, mas, com pouco esforço, qualquer professor se recoloca no mercado (seja pela alta rotatividade ou pelo grande número de escolas). Ou seja, desemprego não nos assusta tanto. Um bom professor raramente fica desempregado: é possível prestar concurso, ser contratado por uma escola particular por meio de testes e entrevistas, trabalhar por conta ou ensinar em cursinhos! As oportunidades costumam não faltar, o que proporciona um pouco mais de estabilidade ao profissional.
O professor (quase) não fica doente
Caso sobreviva aos primeiros anos de docência, sua imunidade – tanto física quanto mental – vai subir! Sério mesmo! Você se tornará mais forte contra doenças contagiosas e resistente ao cansaço, além de exercer melhor seu controle. Também verá que sua tolerância e paciência vão aumentar. Se você ministra aulas, seu cérebro nunca para. E isso é um excelente exercício mental. Já li por aí que o índice de depressão entre os professores é alto, mas o de Alzheimer é mínimo, já que trabalhamos com a mente constantemente. Se você gostar de ler e estudar, então, estará na área certa!
Não se imagina na mesma empresa por 30 anos?… O professor tem mobilidade!
Caso você não se adapte ao primeiro emprego, fique tranquilo! É muito fácil mudar de empresa na área educacional. Some-se à possibilidade de mudança o fato de que você pode (e deve) procurar um emprego melhor enquanto ainda está no anterior. É uma área dinâmica, que requer pessoas com o mesmo dinamismo.
O professor é comunicativo: ouve e é ouvido
Outra vantagem é o aumento da capacidade comunicativa. Ao interagir cada vez mais com alunos e suas famílias, você consequentemente desenvolverá as suas habilidades de comunicação.
O professor muda o mundo
O ensino e aprendizado de valores são constantes na Educação. Não transmitimos apenas conteúdos, mas crescemos com a convivência. Ser professor representa a oportunidade de deixar um legado, algo pelo qual as pessoas se lembrem de você. Poucas profissões no mundo oferecem essa possibilidade.
Talvez o meu relato não mude o que a sociedade pensa a respeito de todos nós, mas espero que sirva como estímulo para você, que pensa em ser (ou é) educador. Mesmo que o mercado nos veja como números, o mundo, na maioria das vezes, ainda pensa em nós como pessoas determinadas, de valor e que estão em busca de algo nobre.
E é isso mesmo que todos os professores de coração são: pessoas incansáveis, que buscam o melhor para si e para os outros, pessoas que atraem admiração, incompreensão, paixão e alegria fazendo o que fazem.
Quer uma prova? Estamos às vésperas das férias, naquele desespero de fechar notas, deixar tudo pronto e partir rumo ao descanso. Porém, posso apostar que, dentro de dez, quinze dias, grande parte de nós estará com aquela vontadezinha de voltar à sala de aula… E na semana pedagógica, bate a mesma alegria, curiosidade e vontade de fazer tudo novo e melhor. Se isso passa pela sua cabeça, não há mais jeito: você é e sempre será um(a) professor(a). Até a próxima!
Leia mais do professor Leonardo Freitas:
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- “O maior desafio em inovar na Educação é convencer as pessoas de que você não está enrolando”
- Será que a escola precisa ser sempre divertida?
* Leonardo Freitas é graduado em Letras, com especialização em Literatura Brasileira. Leciona há 16 anos e desde pequeno queria ser professor. Já passou por todos os níveis, desde o Ensino Fundamental II ao Superior. Atualmente, trabalha com onze turmas de 8º e 9º ano e com turmas dos cursos superiores de Pedagogia e Enfermagem em instituições particulares de Brasília.
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