O estudo A Educação no Brasil: uma Perspectiva Internacional, lançado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com o apoio técnico do Todos pela Educação, traz dados relevantes sobre os principais obstáculos para a qualidade e equidade educacional, além de indicar os passos para melhorar os resultados educacionais na nação. A análise do sexto passo tem uma perspectiva propositiva e me chamou bastante a atenção ao mostrar que é preciso superar os desafios do clima escolar, ou seja, em muitas escolas do país, o suporte oferecido pelo ambiente escolar é inadequado para a aprendizagem. Na prática, o bullying, o comportamento inadequado dos alunos e o relacionamento ruim – entre professores e alunos; entre os próprios estudantes – são entraves que comprometem o desenvolvimento da plena potencialidade de jovens e crianças.
O relatório aponta que há sólidas evidências de que esses problemas – relativos ao clima escolar – não apenas prejudicam o bem-estar dos alunos, como afetam a aprendizagem, levando à falta de interesse e à potencialização do risco de evasão, além de gerar uma aprendizagem deficiente. Um clima escolar difícil diminui, ainda, a atratividade da profissão, levando profissionais a abandonarem a docência.
De acordo com as recomendações contidas no documento, as escolas brasileiras devem desenvolver políticas explícitas para melhorar o clima escolar, dando especial atenção ao bem-estar social e emocional dos alunos. Primeiro, essas políticas devem abordar os desafios associados à crise da Covid-19. No longo prazo, serão necessárias medidas para fortalecer o relacionamento entre aluno e escola, pois uma relação fraca pode desmotivar alguns estudantes a retornar à sala de aula no contexto pós-pandemia. O relatório aponta que muitos países estão aumentando a atenção ao chamado bem-estar dentro das escolas por entenderem a importância do papel de sustentação dos objetivos de desenvolvimento da educação. Isso significa adotar medidas para solucionar problemas específicos – bullying, violência, saúde mental e drogas – que podem estar afetando os alunos e outros atores escolares.
A recomendação é introduzir uma abordagem de bem-estar que envolva a escola integralmente, tendo por foco a criação de um ambiente escolar positivo e seguro; ênfase, ainda, no fortalecimento da colaboração de pais, responsáveis e da comunidade. A violência nas escolas deve ser combatida com o fomento de relações positivas entre os diferentes atores escolares e com a promoção de uma maior coesão escolar – especialmente nas escolas públicas. Essa abordagem pode ajudar a melhorar o bem-estar, trazer melhores resultados de aprendizagem e reduzir o risco de evasão entre alunos e professores.
Diante das evidências trazidas pelo estudo – e com uma perspectiva propositiva –, gostaria de trazer uma reflexão muito relevante de Ron Ritchhart, educador e pesquisador-associado do Harvard Project Zero. No livro Creating Cultures of Thinking, ele aponta as oito forças culturais que precisam ser estimuladas e equilibradas para garantir que a cultura de pensamento seja vivenciada e, por consequência, a aprendizagem ativa seja constante na escola.
#1 | Tempo
Com tantas demandas de atividades, currículos a serem cumpridos, como fica o tempo para pensar?
#2 | Oportunidades
Todas as propostas que fazemos aos estudantes por meio de atividades, trabalhos, avaliações são oportunidades de aprendizagem. Agora, temos clareza da intencionalidade pedagógica para cada uma dessas propostas? Elas são suficientemente desafiadoras? Quão diversificadas elas são para atender aos diferentes estilos de aprendizagem dos estudantes?
#3 | Orientações
As orientações são tanto no formato cognitivo, guiando os estudantes a construírem os próprios pensamentos – como por modelos, via comportamentos que promovam a aprendizagem.
#4 | Interações
Toda relação humana é viva e imprevisível; não haveria de ser diferente se tratando da relação estudante-professor com foco na aprendizagem. Em uma cultura que valoriza a aprendizagem, as interações têm uma consideração genuína em ouvir e perguntar sobre o que cada um está pensando. O mesmo acontece nas relações entre estudantes.
#5 | Rotinas
Todo grupo tem as próprias rotinas e dinâmicas, algumas espontâneas. O desafio é criar aquelas que favoreçam a aprendizagem e a construção de pensamento para formar comportamentos que os estudantes irão levar para a vida.
#6 | Linguagem
Usamos elementos implícitos ou explícitos no jeito que nos comunicamos com nossos estudantes. É por meio de nosso discurso que construímos as experiências sociais nos contextos que vivemos. O convite é que a linguagem, verbal ou não verbal, que usamos na escola seja criadora de um ambiente favorável ao pensamento e à aprendizagem.
#7 | Ambiente
Você não precisa de pessoas relatando a cultura de uma sala de aula: se você entra em um ambiente e os elementos dela contam uma história, saiba que lá é um ambiente que propicia a cultura de pensamento. Paredes e mobiliário representam as construções do grupo que ali se encontra diariamente. Por que será que perdemos essa cultura à medida que os estudantes ficam mais velhos?
#8 | Expectativas
O que esperamos dos nossos estudantes? Esperamos que tenham bons comportamentos, que estudem em casa, que realizem as atividades. No entanto, essas expectativas falam do que é necessário que façam – e não o que queremos. Podemos dizer, com mais frequência, sobre as expectativas que temos com relação aos estudantes. Esperamos que todos escolham um caminho de vida que mais lhes agrade; esperamos dos estudantes a capacidade de lidar com diversas situações de forma ética e responsável, por exemplo.
Saliento que a escola é lugar para todos aprenderem, inclusive, os professores. Aprender está diretamente ligado ao pensamento, e pensar não é algo trivial! O pensamento precisa se tornar visível. A pesquisa de Ron Ritchhart – particularmente, a teoria do caráter intelectual e estrutura para a compreensão da cultura de grupo por meio das “Forças Culturais” – se concentra em como as salas de aula mudam à medida que os professores se esforçam para tornar o pensamento valorizado, visível e ativamente promovido em suas salas de aula. Ele também está explorando o que significa liderar uma cultura de pensamento. Algo, a meu ver, essencial à melhoria do clima escolar.
| Claudio Sassaki é mestre em Educação pela Stanford University; graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP) e cofundador da Geekie, empresa referência em educação com apoio de tecnologia no Brasil e no mundo.
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