Stanford prova que é possível engajar alunos em apenas 90 minutos, via internet

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Pesquisa dedicada a mudança de mentalidade melhora rendimento de alunos do ensino médio com a mensagem de que inteligência não é algo imutável, mas pode ser desenvolvida com dedicação aos estudos; até Casa Branca tem apoiado linha de investigação científica, para conter evasão
Pesquisadores da Universidade de Stanford descobriram que duas rápidas intervenções via internet podem produzir resultados consideráveis na produção de alunos do ensino médio e fazer com que eles criem uma mentalidade positiva em relação aos estudos. O grupo da amostra recebeu conteúdo com enfoque psicológico que realçou a noção da inteligência como algo que pode ser desenvolvido (growth mindset), e não um dom imutável, com o qual já se nasce (fixed mindset).
Pesquisas sobre como estimular o growth mindset estão despertando interesse crescente nos Estados Unidos, recebendo apoio e financiamento de núcleos acadêmicos, agências governamentais e até da Casa Branca. Entre os motivos dessa popularidade está a alta taxa de evasão no ensino médio, que supera a casa de 1 milhão de alunos, fenômeno normalmente associado à baixa performance nos estudos. Além disso, políticas adotadas para melhorar o desempenho de estudantes, como treinamento de professores, reestruturação de escolas e reformas de currículo, têm combinado alto custo e resultados contraditórios. Por fim, pesa o fato de trabalhos acadêmicos já terem demonstrado que o conceito do growth mindset pode ser estendido a administradores de escolas, professores e pais.
A pesquisa de Stanford analisou dados de 1.594 estudantes com baixa performance em 13 escolas do ensino médio. “As intervenções, de 45 minutos cada uma, aumentaram o rendimento de um grande e diversificado grupo de estudantes ao longo de um semestre acadêmico”, escreveu Gregory Walton, professor assistente de Psicologia em Stanford. Um terço da amostra era formada por alunos considerados de alto risco de evasão. Na média, esse grupo teve aumento de 6,4 pontos porcentuais na taxa de rendimento satisfatória em cada curso da grade curricular.
Uma das intervenções da pesquisa dizia respeito mais especificamente ao growth mindset e a outra, ao desenvolvimento de um “senso de propósito”, fazer o aluno definir objetivos na vida. No primeiro caso, um exercício pedia aos estudantes que lessem um artigo sobre a capacidade do cérebro de se desenvolver e até mesmo se reorganizar como consequência do trabalho duro em missões desafiadoras e de outras estratégias acadêmicas. Sob essa perspectiva, sentir dificuldade em uma tarefa deveria ser encarado como uma oportunidade de aprender, não sinal de fraqueza ou fracasso. O objetivo era mostrar aos jovens que eles têm o potencial de desenvolver a inteligência por meio do estudo e da prática e desfazer a associação entre baixo rendimento escolar e potencial limitado.
Na intervenção dedicada ao senso de propósito, os pesquisadores de Stanford pediram aos estudantes que escrevessem sobre seu desejo de que o mundo seja um lugar melhor. Eles leram histórias sobre como ir bem na escola pode ajudá-los a ter um impacto positivo na sociedade. Por fim, analisaram quais são seus próprios objetivos e como a escola pode ajudar a alcançá-los.
Segundo os cientistas americanos, embora muitos outros estudos tenham descrito o poder das intervenções psicológicas de melhorar a performance acadêmica, poucos deles demonstraram como usá-las de forma prática nas escolas. Além disso, vários dos projetos exigiam um envolvimento muito maior de pesquisadores, tornando impossível sua adoção em larga escala.
“As conclusões da pesquisa sugerem a possibilidade de que intervenções breves feitas pela internet como as que testamos podem ser usadas para melhorar os resultados da aprendizagem de centenas de milhares ou mesmo milhões de alunos em todo o país a um custo extremamente baixo”, disse o psicólogo behaviorista David Paunesku, líder da equipe de Stanford. “Se nossas atividades via web podem ajudar o estudante a ver a escola como um lugar onde pode desenvolver suas habilidades e a se tornar o tipo de pessoa que deseja ser, e se essa mudança de perspectiva faz dele alguém mais motivado e bem-sucedido, parece claro que há muitas oportunidades de passar essa mensagem na sala de aula e engajar mais os alunos.”
Um centro de pesquisa aplicada de Stanford, o Perts (Project for Education Research That Scales, ou Projeto de Pesquisa Educacional Escalável) está trabalhando para estimular o uso do growth mindset por meio da aproximação com professores e da divulgação de práticas fáceis de replicar. “Essas práticas serão disseminadas pelo site mindsetkit.org, que está hoje na versão beta”, disse Paunesku, co-fundador do Perts.
Outra possibilidade de acesso a conteúdos semelhantes é o programa online Brainology, vendido pela  Mindset Works. A empresa tem entre os seus fundadores a psicóloga de Stanford Carol Dwek, integrante do grupo de pesquisa liderado por Paunesku. Um texto em seu site (mindsetworks.com) descreve o comportamento dos atores de uma comunidade escolar que valoriza o growth mindset:
Administradores – enxergam a importância de apoiar a qualificação dos professores. São abertos a feedbacks honestos, em lugar dos defensivos. Procuram aperfeiçoamento e estão dispostos a aprender com os professores.
Professores – colaboram com colegas e com lideranças, sem fechar as portas da sala de aula e tentar voos solo. Esforçam-se para melhorar suas próprias práticas, em lugar de culpar os outros. Acreditam de verdade que todos os estudantes podem aprender e ser bem-sucedidos (e demonstram isso).
Pais – apoiam os filhos no aprendizado tanto dentro como fora da sala de aula. São parceiros dos professores e respondem a tentativas de aproximação. Preocupam-se menos com reivindicar boas notas para os filhos; querem que eles sejam submetidos a desafios e se esforcem para crescer.
Estudantes – são aprendizes persistentes, esforçados e entusiasmados. Assumem a responsabilidade pelo próprio sucesso.




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