Anna Penido na Bett Educar 2019: “Inovação educacional é modismo, risco, necessidade ou oportunidade?”

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Anna Penido no primeiro dia da Bett Educar 2019 - Geekie

Diretora do Instituto Inspirare fala sobre “A escola que cria o futuro” na manhã do primeiro dia da Bett Educar 2019. Professores da PUC-SP e da Unicamp também apresentaram seus trabalhos e visões sobre personalização e aprendizagem híbrida

Em uma sala repleta de gestores e gestoras, a maioria vinda de escolas particulares, Anna Penido perguntou: “Quem acha que inovação educacional é modismo?”. Poucos levantaram a mão. Na sequência, a diretora do Instituto Inspirare quis saber quem encarava o mesmo tema como um risco; depois, como uma necessidade; por fim, como uma oportunidade. Nas duas últimas perguntas, a quantidade de mãos levantadas foi maior e dividiu-se entre as duas opiniões.

Ela continuou as provocações para dar o tom da palestra: “Será que formamos pessoas navegadoras de um mar definido por outros? Pessoas que são capazes de transformar o mundo, sua comunidade e sua vida? Como é que construímos uma escola para educar pessoas para transformar esse futuro incerto?”

Para responder às questões, Penido apresentou os desafios emocionais, profissionais, culturais, sociais e ambientais que o mundo contemporâneo impõe aos indivíduos: “Estamos preparando pessoas que, daqui a 5, 10 ou 15 anos, estarão no mundo construindo e tentando enfrentar os desafios que ele coloca para todos. Não podemos olhar para o retrovisor e continuar ensinando da mesma forma com o conhecimento que temos. Precisamos colocar esse conhecimento a serviço da contemporaneidade.”

Embora tenha destacado todos os desafios, a mensagem principal da palestrante está relacionada à necessidade de as escolas realmente conhecerem os estudantes:

“O que eles sentem, o que pensam, como se comportam, reagem e aprendem? Precisamos conhecer tudo isso porque eles aprendem de uma maneira muito distinta daquela por meio da qual  nós estávamos acostumados a aprender. E a questão não envolve apenas os instrumentos que eles utilizam para aprender, mas consiste em entender até mesmo o processo neurológico desses alunos para que a gente possa, de fato, fazer uma educação para o estudante que está na sala de aula, e não para o nosso ideal de aluno. Os estudantes são do jeito que são e precisamos fazer uma escola para eles.”

Ao lançar esse olhar sobre os estudantes, a educadora destacou o perigo de enquadrá-los na imagem de “alunos ideais”. Penido afirma que é preciso conhecer os desafios pessoais e emocionais desses indivíduos, as inseguranças, as tensões emocionais e a ambiguidade de valores que os formam. “Para lidar com essas características, precisamos desenvolver a capacidade de os estudantes se conhecerem. Eles precisam enxergar o que são suas potências e seus diferenciais para poderem atuar no mundo. Precisamos ajudá-los a trabalhar emoções e relações; do contrário, eles serão reféns dos furacões emocionais que todo mundo enfrenta”, destacou.

Nos desafios relacionados ao mundo de trabalho, além de retomar a importância de trabalhar o projeto de vida dos estudantes, Penido também falou sobre a tecnologia e o empreendedorismo. Sobre o primeiro tópico, a educadora realçou a importância da educação digital para esses indivíduos:”A ideia de os alunos serem nativos digitais é parcialmente real porque, embora os estudantes tenham grande domínio das tecnologias, eles não sabem usá-las”, destacou. Sobre o segundo ponto, ela desmistificou o entendimento comum: “Empreendedorismo não é a ideia de ensinar os alunos a montar o negócio próprio. O que estamos falando aqui é de desenvolver espírito empreendedor para buscar, criar soluções para os desafios que o mundo coloca para as pessoas. A geração que está entrando no mercado de trabalho não se identifica mais com esse mercado porque tem características diferentes; ela não é preparada adequadamente pelas escolas que ainda estão no século XX”.

Personalização e ensino híbrido

Personalização da aprendizagem e ensino híbrido não são exclusividades da Educação Básica. Foi o que mostrou o professor José Armando Valente, do Instituto de Artes da Unicamp. Ele ministra uma disciplina que orienta os universitários do curso de Midialogia sobre a aprendizagem por projetos.

Segundo seu relato, como o curso de Midialogia da Unicamp é baseado no desenvolvimento de projetos ao longo da formação, os estudantes têm nessa disciplina introdutória um primeiro contato com essa metodologia de aprendizagem. Nas aulas de Valente, os universitários precisam desenvolver projetos individuais de pesquisa científica e em grupo para o desenvolvimento de algum produto midiático e do website daquela turma para a divulgação de todos os resultados apresentados ao longo do semestre.

Embora a fala do professor tenha sido focada no Ensino Superior e na disciplina pela qual ele é responsável, ele também apresentou um panorama geral sobre sua visão de educação. Sua primeira observação estabeleceu um paralelo entre o modelo tradicional de ensino e aprendizagem e a nova configuração adequada às demandas atuais:

“O ensino tradicional era muito baseado em colocar o conceito na lousa, fazer uma interpretação desse conteúdo seguida pela compreensão dele. Para finalizar, os estudantes iam para a ação por meio de exercícios com uma série de atividades para fixar os conceitos. O que é interessante é que muita coisa de nossa vida não foi aprendida assim. Um tipo de aprendizagem mais conectado com a realidade baseia-se em ação seguida por reflexão sobre os processos para buscar a compreensão baseada em teorias. Finalmente há a questão da conceitualização, que é o entendimento do que fazemos.”

Ambientes educacionais emergentes

Valente foi o primeiro a falar na palestra “Ambientes educacionais emergentes: personalização e aprendizagem híbrida”. A professora da PUC-SP Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida assumiu a fala logo na sequência e deu destaque para uma reflexão sobre o que são esses novos ambientes educacionais.

“Houve um tempo em que brigávamos pelo acesso à tecnologia, mas hoje temos um movimento de dentro para fora por conta da cultura digital”, assim a professora introduziu a relevância da intencionalidade pedagógica na adoção de tecnologias para a aprendizagem nas escolas. Para ela, essa questão está diretamente relacionada à nova configuração de nossa sociedade:

“A questão não consiste em estar ou não com o aparelho celular na mão: a própria forma como aprendemos mudou. As formas de significado e de representação do pensamento foram transformadas e isso é o que está impulsionando a revolução nas escolas. São esses os componentes que criam os ambientes educacionais emergentes: é uma nova configuração de contextos de aprendizagem. Isso ocorre de tal maneira que é possível integrar ambientes de aprendizagem formais com os não formais e informais.”

Para ilustrar sua fala, Almeida cita as possibilidades do uso de museus virtuais para aulas de artes e de laboratórios digitais para as de ciências. Além de apresentar possibilidades, a professora fez uma ressalva: “Tudo isso não existe para substituir o professor na sala de aula, mas para criar professores mais bem preparados para a realidade atual”.

Sobre a personalização do ensino, Almeida também tocou em um ponto sensível relacionado aos dados e informações que a tecnologia proporciona à educação:

“Se temos um conjunto de informações significativas tanto para o professor quanto para o aluno, temos uma porta para o controle. Esse controle pode estar ligado tanto à emancipação quanto à dominação, por isso, é preciso olhar com muito cuidado para as intencionalidades.”

O lado positivo desse controle está na personalização. A professora da PUC-SP destacou que esse não é um tema novo, mas um que conquistou outra vez os holofotes do debate educacional por conta das portas que a tecnologia abriu para este processo. Ela define o termo como “a proposição de estratégias ou atividades pedagógicas que considerem as necessidades e os ritmos de aprendizagem, conhecimentos prévios e interesses dos estudantes.”

Plano de Inovação Educacional no espaço Geekie One

Enquanto diversos gestores e educadores participavam das palestras do congresso da Bett Educar, outros aproveitaram a visita ao espaço Geekie One para fazer seu diagnóstico do Plano de Inovação Educacional.

Para trazer visibilidade à jornada de inovação das escolas, a Geekie construiu um instrumento avaliativo que permite que cada respondente pondere o grau de proximidade da instituição em relação às 7 dimensões gerais e 35 dimensões específicas de inovação educacional. Na formação gratuita na Bett, os gestores fizeram uma autoavaliação das 7 dimensões gerais.

Esse momento de autoconhecimento também serviu para que as escolas pudessem trocar experiências e conhecer o Geekie One, uma nova dinâmica pedagógica desenvolvida para tornar visível a jornada de aprendizado, estimulando relações e ações conscientes que fortalecem o brilho de cada aluno.

O espaço de aprendizagem do Geekie One ainda conta com uma série de formações sobre planejamento de aulas em 3 etapas, práticas ativas e como trabalhar conteúdo e competências para os vestibulares. O espaço, localizado na quadra C150, também oferece outras experiências. Venha conferir até sexta-feira!

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