3 segredos de inovadores que constroem comunidades de aprendizado

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O que você acha que é necessário para montar projetos inovadores de educação capazes de criar comunidades de ensino? Se pensou em tecnologia, errou feio. O site americano Bright publicou um texto sobre três técnicas que inovadores usam para formar essas redes. A experiência mais citada pelo autor, Matt Candler, fundador e CEO da 4.0 Schools, é a da Bricolage Academy, escola de aprendizagem personalizada de Nova Orleans. “Valorizar os professores é importante, mas existe muito mais por trás da inovação efetiva. Em particular, acho que o que torna a Bricolage e outras comunidades inovadoras tão disruptivas é o foco em mentalidade, e não em recursos.” Vamos aos três segredos dos inovadores:

Alunos da Bricolage Academy durante atividade em sala de aula

1. Inovadores começam baratos e se reciclam

“Como já vimos no negócio de manufaturas, software e mesmo no de restaurantes, o modelo cachoeira (gastar toneladas de tempo e dinheiro para planejar a solução perfeita e depois jogá-la cachoeira abaixo) está perdendo espaço em escolas como a Bricolage para o desenvolvimento ágil (comece pequeno e se recicle com base em pequenos testes, refazendo o ciclo de concepção, desenvolvimento e entrega de soluções)”, escreveu Candler. Ele não está sozinho na crítica ao modelo cachoeira, que prega a busca de soluções ideais e acaba produzindo projetos pouco maleáveis a ajustes depois que são lançados.
“Este simples reordenamento – mentalidade em primeiro lugar, recursos em segundo – permite a membros de comunidades inovadoras fazer mudanças tectônicas em abordagens tradicionais com base em várias pequenas apostas em vez de arriscar massivamente US$ 1,3 bilhão o que, inevitavelmente, deixará de atender às expectativas”, disse Candler, referindo-se ao caríssimo e fracassado projeto de distribuir iPads para 650 mil estudantes de escolas públicas de Los Angeles.
O CEO da 4.0 Schools elogia a capacidade da Bricolage de se concentrar no desenvolvimento de uma mentalidade criativa e em construir confiança nela antes de pensar no que é acessório. E cita como exemplo as ferramentas de baixo custo usadas por Diana Turner, professora de matemática do primeiro grau na Bricolage: vídeos caseiros do YouTube (gratuitos), celulares ou câmeras de tablets (provavelmente gratuitos) e o Google Docs (gratuito). “Olhe como ela está usando esses recursos; eles a tornam tão humana, tão real. E ela está criando um modelo para que as crianças solucionem seus próprios desafios de uma maneira mais eficiente, criativa.”

2. Inovadores ouvem seus usuários

Começar barato e depois duplicar só funciona se você se ajustar ao feedback dos usuários antes de cada ampliação.
Antes de pedir autorização para abrir sua escola charter (escola ligada a uma instituição privada que recebe recursos do poder público por meio de um contrato que prevê metas de desempenho), Josh Densen começou a fazer aulas relâmpago em festivais de música em Nova Orleans. “Ele espertamente colocava sua mesa perto do pula-pula que todo produtor digno desse nome monta nos festivais – tão perto que você quase imaginava que era ele quem tinha pago pelo equipamento”, escreveu Candler. “Não tinha brochuras nem propaganda. Só ficava por ali, ao lado dos próprios filhos, enquanto eles brincavam com alguma ferramenta de ensino realmente estilosa que o pai queria testar.” Famílias que tinham ido ao festival, curiosas, paravam na estação de Josh. Ali ele aproveitava para conversar sobre escolas – do que os pais gostavam ou não e qual seria a escola dos sonhos deles.
Depois de atrair um número crescente de famílias, Josh decidiu que era hora de testar suas ideias de forma mais ousada. Fez um acordo com a charter school Samuel Green, de levar para lá alunos arregimentados nas aulas relâmpago para participar, com os estudantes da Green, de testes criados para descobrir se as aulas de design thinking de Josh realmente funcionavam.
“Os melhores empreendedores agem assim consistentemente. Fazem uma alta frequência de tentativas para chegar a novas soluções – cada repetição de tentativa é um aperfeiçoamento baseado no que eles aprenderam com os usuários”, escreveu Candler.

3. Inovadores de verdade roubam

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Calma, nem o portal Bright nem o InfoGeekie estão fazendo a apologia de práticas desleais. Candler cita o escritor Steven Johnson, que argumentou no livro “De Onde Vêm as Boas Ideias” (“Where Good Ideas Come From”) sobre o quanto é comum entre inovadores esse tipo de apropriação – algo que Johnson chama de exaptação, termo cunhado pelo paleontólogo Stephen Jay Gould para definir situações em que uma característica é usada para outra função que não a original, derivada da seleção natural. No contexto do livro do Johnson, exaptação é algo que ocorre quando alguém cruza a fronteira entre duas áreas, extrai algo que tem uma função específica em uma delas e a adapta para um novo uso no seu próprio território.
Exaptação foi o que Josh fez. Ele copiou suas apresentações relâmpago do pessoal da street food, que na época, 2014, estava envolvido em uma dura disputa com donos de restaurantes de Nova Orleans. Diante de uma legislação restritiva, os empresários de street food começaram a organizar refeições relâmpago, que se diferenciavam da dos restaurantes pela diversidade de estilos e pratos. Elas logo viraram moda e ajudaram a mudar a imagem da comida de rua na cidade. Aliás, como ocorreu com Josh, um dos grandes benefícios que os chefs tiraram desses eventos relâmpago foi a possibilidade de estabelecer uma relação mais direta com seus clientes, recebendo feedbacks, por exemplo.
“Minha mais recente candidata à exaptação é a twitch.tv, que permite a experts no World of Warcraft (ou qualquer outro jogo) ensinar como jogar, hackear e vencer”, contou Candler. Ele cita Seth Stevenson, que costuma escrever para a revista eletrônica Slate, para explicar que tipo de aprendizado ocorre na twitch.tv: “Bem, esses internautas estão encontrando uma comunidade de almas gêmeas, se engajam por um interesse comum e recebem dicas de jogadores que estão acima do seu nível sobre como ganhar nos games.”
Candler diz que vê na twitch.tv mais que os 24% de engajamento que é a média da educação tecnológica hoje em dia nos Estados Unidos. “Essas plataformas não são perfeitas, mas acho o engajamento inspirador e fico curioso quanto à possibilidade de fazer a exaptação delas para a vida escolar. E se um grupo de garotos testasse uma versão menos sofisticada da twitch.tv durante uma hora em sua classe? Quão rápido poderíamos construir em cima dessas pequenas experiências para repensar de verdade o engajamento? Que papel teria o professor nesse cenário? O que aconteceria se a gente misturasse de verdade o que conhecemos como ensino com exemplos vindos de lugares completamente inesperados?”
Candler termina o artigo dizendo que nós podemos melhorar a aprendizagem personalizada desde já. “Podemos começar fazendo muito mais apostas pequenas. Isto é melhor para os nossos filhos e nossos bolsos”, escreveu. “E devemos começar a ouvir nossos usuários – estudantes, famílias e, sim, professores. Fazer isso vai levar a uma inovação muito mais satisfatória. Eu prometo.”









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