Assessora de ministro quer divulgar inovação radical

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Diretora do Cidade Escola Aprendiz, a socióloga Helena Singer recebeu uma missão ao mesmo tempo desafiadora e apaixonante.

O novo ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, a escolheu para ser a ponte entre o MEC e o universo das experiências inovadoras em educação. “A ideia é buscar que tipo de inovação deve se tornar referência, mapear o que é preciso multiplicar e fortalecer mutuamente os projetos pelo contato entre eles”, explica Helena, que avisa: pretende dar visibilidade a projetos radicais.
“A inovação parcial, incremental, vem ganhando força, mas quero falar de experiências que radicalizem a forma de organizar o tempo, que trabalhem o espaço de modo totalmente diferente – como a de escolas que não estruturam mais o currículo em cima de aulas convencionais de 50 minutos nem usam carteiras enfileiradas de frente para a lousa”, diz a socióloga. “A estrutura fechada de tempo-espaço ainda é o padrão usado pela maioria das escolas, públicas e privadas. As pessoas sabem que isso não funciona, mas não conhecem outras formas de fazer.”
Helena diz que o ministro a procurou porque já conhecia seu trabalho – ela também foi fundadora da Lumiar, escola de São Paulo que é referência em inovação. E falou do significado simbólico de sua missão. “É importante o MEC comunicar para o Brasil que a experimentação é desejável, ainda que numa escala reduzida”, diz, referindo-se à dificuldade de adotar soluções inovadoras em massa num país com 49,8 milhões de matriculados da creche ao ensino médio, dos quais 40 milhões estudam na rede pública.
Num primeiro momento, a missão de Helena não passa pela hipótese de financiar propostas inovadoras. “Não tenho certeza se terá suporte financeiro para os projetos, estamos em ano de contenção de gastos”, afirma.
Para dar visibilidade às novas ideias, a socióloga pretende organizar conferências e debates, além de usar plataformas virtuais e publicações. “Apesar de já existirem várias experiências inovadoras, elas não participam do debate mainstream. É preciso colocá-las no debate”, diz. “Vou buscar mesmo referências não-escolares que sirvam de modelo.”
Helena também comentou o papel da tecnologia na educação. Falou no presente, não no futuro. “A tecnologia já está transformando a educação, porque já transformou a relação das pessoas com o conhecimento, sobretudo os estudantes. O impacto já está dado”, diz. “A crise do modelo escolar atual já está ligada à tecnologia, porque o estudante não vê sentido em ficar assistindo o professor falar de assuntos que ele não pesquisou. Tem uma grande diferença entre o que o estudante faz fora da escola e o que ele faz dentro.”
A socióloga adverte que nem sempre tecnologia é sinônimo de inovação. “É preciso ver como recriar a escola de uma forma na qual a tecnologia faça sentido em um ambiente do conhecimento. Tem novas tecnologias que recriam a lousa e as aulas de 50 minutos”, diz. “Os alunos estão lá com o tablet debaixo do braço, mas não tem inovação.”
Cautelosa, Helena preferiu não citar nenhum projeto que considera relevante, com exceção de uma escola indígena do Alto Rio Negro, “que se organiza de modo muito diferente”. “Tem experiências em todo o Brasil, de escolas indígenas, particulares, públicas, de Educação de Jovens e Adultos (EJA).
A socióloga diz que seu foco é o que está sendo feito no País, embora reconheça a validade de soluções adotadas no exterior. “Nos países desenvolvidos é mais generalizado o ensino por projetos. Há também inovação na gestão, com participação de professores, funcionários, alunos e pais. Nos Estados Unidos e a Europa há uma abertura maior para essas questões. Mas não vou ficar olhando para fora.”
O InfoGeekie quis saber de Helena qual quadro ela gostaria de deixar para trás quando sair do ministério. “É uma pergunta complicada, nem cheguei lá ainda”, disse. “Mas acho que seria ver as crianças indo felizes para as aulas e chateadas quando saíssem de férias.”
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