“Ela fazia cada um dos estudantes na sala se sentir especial.” Assim o presidente americano Barack Obama definiu em um e-mail na semana passada sua professora favorita, Mabel Hefty – o texto, na verdade, serve como uma homenagem a todos os professores. “Quando entrei na classe de 5.ª série de Ms. Hefty na Punahou School (em Honolulu, no Havaí) no outono de 1971, eu era apenas um garoto com um nome engraçado em uma nova escola, me sentindo meio deslocado, querendo me encaixar como qualquer um.”
“Da primeira vez que se dirigiu a mim, desejei que ela não o tivesse feito. Na verdade, desejei estar em qualquer outro lugar que não a carteira, naquela sala de crianças que não tiravam os olhos de mim”, escreveu Obama. “Mas, ao longo daquele ano, Ms. Hefty me ensinou que eu tinha algo a dizer – não apesar das minhas diferenças, mas por causa delas.”
“Ela reforçou o valor essencial da empatia que minha mãe e meus avós tinham me ensinado. É algo que eu carrego comigo todos os dias como presidente”, prosseguiu Obama. “Este é o poder simples e irrefutável de um bom professor.”
‘Durona, mas mãezona’
Nascida em 1915, Ms. Hefty já era uma veterana quando Obama entrou em sua classe. Descrita como “durona, mas mãezona” por ex-alunos, morreu de câncer em 1995, quando o futuro presidente ainda nem tinha começado carreira na política. No e-mail em que fala de Ms. Hefty, publicado no site da Casa Branca, Obama homenageou a Professora Nacional de 2015, Shana Peeples, do Texas, a quem entregou a premiação na quarta-feira (30/5). No texto, pediu aos americanos que falassem de seus professores favoritos usando a hashtag #ThankATeacher.
Em 2007, quando disputava a Presidência, o candidato democrata já tinha falado da sua gratidão a Ms. Hefty durante um debate na TV. Quando os dois se conheceram, Obama tinha acabado de voltar da Indonésia, onde morou por quase quatro anos. Ms. Hefty também era uma recém-chegada, de um ano sabático passado no Quênia, terra do pai de Obama, como professora a serviço do governo americano. “Ela pôde me mostrar que, mesmo que eu tivesse vivido experiências fora deste país, elas eram na verdade muito valiosas e importantes”, disse o democrata no debate.
Sobre tribos e guinchos
O presidente não contou isso no e-mail, mas quando conversou com ele em classe no primeiro dia de aula, Ms. Hefty sabia que seu pai era queniano. Falou que tinha ensinado a crianças da idade de Barry (o apelido de Obama na escola) naquele “país magnífico” e perguntou a qual tribo seu pai pertencia. A classe caiu na risada e Barry ficou sem reação por um momento.
“Quando eu finalmente respondi ‘Luo’, um garoto de cabelo claro atrás de mim gritou a palavra como se estivesse guinchando, imitando o som de um macaco”, recordou Obama no livro A Origem dos Meus Sonhos. “As crianças não conseguiram mais se segurar e foi necessária uma dura reprimenda de Ms. Hefty antes que a classe se acalmasse e pudéssemos, felizmente, passar para o aluno seguinte da lista.”
Tempos depois, para horror de Barry, Ms. Hefty convidou o próprio pai de Obama, também chamado Barack, a dar uma palestra na classe durante uma visita do queniano ao Havaí. Apesar da apreensão do filho, as histórias do pai sobre a vida tribal e a luta dos quenianos para se livrarem do domínio inglês encantaram os estudantes, que trocaram o deboche dos dias iniciais pela admiração.
‘Ele vai ser alguém’
Nos dias seguintes ao debate em que Ms. Hefty ganhou notoriedade nacional, sua filha, a também professora Carolyn Whorff, disse que a mãe sempre acreditou no potencial do ex-aluno. “Sei que ele vai ser alguém”, disse Ms. Hefty, segundo o relato da filha ao jornal Honolulu Star Bulletin. “Você provavelmente vai ouvir falar dele. Se isso acontecer, procure-o.”
Carolyn, que chorou ao ouvir Obama falar da mãe no debate, contou ao Star Bulletin o que ela achava do impacto que causou nos alunos. “Se você é um bom professor vai sempre ensiná-los sobre a vida”, disse Ms. Hefty.
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