Após 20 anos na mesma escola, professora inova e usa ensino híbrido para engajar alunos com dificuldade

Colunas

Por Marcela Lorenzoni
A professora americana Valyncia O. Hawkins já tinha 20 anos de experiência em sala de aula quando percebeu que era hora de transformar seu método de ensino. Ao assumir uma nova turma, ela se deparou com um problema comum a professores em qualquer lugar do planeta: enquanto alguns alunos dominavam os aprendizados e estavam prontos para avançar rapidamente, outros precisavam de mais tempo para compreender os conteúdos. Ainda que todos estivessem no quinto ano da Anne Beers Elementary School (o equivalente ao Ensino Fundamental I, no Brasil), era possível perceber lacunas no ensino recebido por algumas das 21 crianças. Ao mesmo tempo, atrasar as aulas faria com que o resto da turma perdesse o interesse.
Apesar de vir de uma família de professoras e da longa experiência, Valyncia percebeu que ainda não havia encontrado um método que permitisse acompanhar o ritmo de diferentes estudantes. Ela conta que “enquanto falava, eles estavam subindo pelas paredes”. O sentimento de que a turma não via sentido naquilo que faziam em sala trouxe a vontade de se reinventar.
Em busca de alternativas, aceitou uma bolsa como pesquisadora no CityBridge Foundation. A pesquisa deu à Valyncia a chance de viajar pelo país e observar outras escolas. Foi quando percebeu que o uso da tecnologia era um ponto convergente nas soluções adotadas – e isso a inspirou a criar seu próprio método de ensino híbrido.
Tudo bem não estar na mesma página
Em vez de tentar nivelar a turma, Valyncia apostou na personalização. Projetou aulas que permitem a cada aluno seguir seu próprio ritmo, combinando discussões em pequenos grupos e plataformas online para exercícios individuais. O ambiente é divido entre mesas para trabalhos coletivos, carteiras individuais e um sofá, próximo da lousa digital, que permite conversas e orientações com a professora.
Com o ensino híbrido, as crianças também adquiriram mais autonomia durante o aprendizado. Divididas em cinco grupos de acordo com suas habilidades, cada uma deles conta com uma “playlist” de conteúdos a serem explorados; são elas, porém, quem escolhem em que ordem e de que forma vão trabalhá-los. Há, por exemplo, quem prefira digitar à escrever no caderno; outros, que optam por usar fones de ouvido para evitar distrações.
Sem espaço para tédio
O lema da sala de aula é movimento. Enquanto combinam o ambiente virtual com o físico, as crianças estão mudando de lugar, agrupando-se, interagindo com colegas e professora, tomando decisões quanto ao próprio aprendizado. Uma das práticas comuns é que os estudantes comecem a aula reunidos para resolver um exercício ou participar de uma reflexão. Aqueles que terminam, imediatamente partem para uma segunda etapa nos computadores, com atividades mais complexas, enquanto Valyncia permanece com os que apresentaram dificuldade.
Além de melhores resultados acadêmicos, o ensino híbrido trouxe outras vantagens: as crianças desenvolveram mais autonomia e responsabilidade dentro da sala de aula. Problemas de comportamento ou cenas de desinteresse também diminuíram. “Ensino personalizado que dá aos alunos liberdade para explorar evita que eles fiquem entediados ou frustrados”, explica a professora. “O método me ajudou a acessar aqueles estudantes que nem sempre seguiam as regras”.
Em constante construção
Valyncia não considera seu modelo pronto, mas em constante evolução. Atualmente, ela usa uma série de jogos, testes e plataformas – a maioria, gratuita – para a porção digital da aula, o que permite que os alunos também acessem o conteúdo de casa. Entretanto, isso também significa que ela gasta um bom tempo reunindo os resultados de todas as crianças, em diferentes sites, para conseguir avaliar seu desenvolvimento.
O planejamento é outro que exige dedicação; afinal, personalizar o ensino implica em não planejar mais uma única aula, mas vários roteiros que serão desbravados paralelamente. Problemas técnicos? Acontecem; porém Valyncia conta com a ajuda de universitários voluntários que transitam entre os grupos para resolvê-los rapidamente.
Nenhum empecilho, no entanto, faz com que a professora pense em voltar atrás. Enquanto as crianças aprendem o significado da palavra “persistência”, Valyncia dá um exemplo que resume sua jornada: “Mesmo sabendo que há dificuldades à frente, você tem persistência”.
*Essa história foi publicada originalmente no Hechinger Report. Confira a versão original (em inglês) aqui.
*Marcela Lorenzoni é jornalista de educação e, por muitos anos, foi professora de inglês. É formada em Comunicação Social pela PUCPR e, hoje, cursa especialização em Gestão da Educação no Novo Milênio no Instituto Singularidades, em São Paulo. Já escreveu para blogs sobre Educação Infantil até Ensino Superior, sempre com foco em inovação na sala de aula.
 

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