No início deste ano, o presidente americano Barack Obama voltou a afirmar que todas as crianças dos Estados Unidos deveriam aprender a programar. “Na nova economia, aprender a programar não é opcional”, ele disse ao anunciar a proposta de expandir o ensino de ciências da computação para todas as escolas públicas do país.
Aqui no Brasil, ainda dando os primeiros passos, a programação e a robótica também estão conquistando alunos e educadores. A tecnologia é considerada uma “linguagem” – e só é fluente quem sabe criar a partir dela. A nova geração deve ser capaz de, em vez de jogar online, criar o game; em vez de baixar um aplicativo no celular, inventá-lo.
Mas por que programar é importante?
Em primeiro lugar, pela demanda no mercado de trabalho. Hoje, somente no Brasil, há um déficit de 40 mil profissionais em carreiras ligadas à tecnologia. O número deve chegar a 400 mil em 2020 (de acordo com pesquisa da Softex). Consequentemente, muitos pais acreditam que, ao ensinar as crianças a programar, estarão as colocando à frente da competição por um emprego.
Entretanto, quem já ensinou programação afirma que esse é apenas um dos motivos, mas que qualquer criança, que sonhe em trabalhar em qualquer área, pode se beneficiar dos aprendizados. “Steve Jobs já dizia que ‘todos deveriam aprender a programar, pois programar ensina a pensar'”, lembra Daniel Cleffi, fundador da escola de programação MadCode, em São Paulo. “Quem aprende a programar desenvolve habilidades como raciocínio lógico, pensamento crítico, capacidade de resolver problemas complexos e de trabalhar em equipe”.
Na MadCode, crianças de 5 a 17 anos desenvolvem aplicativos, jogos e sites, com uma evolução de aulas lúdicas, offline, para a lógica da programação até ferramentas e linguagens profissionais. Segundo Daniel, as aulas provocam os alunos para que eles pensem em como os aprendizados podem ser usados em suas vidas: quais problemas poderiam resolver através da tecnologia? Que situações podem ficar mais fáceis? “Como resposta a essas perguntas já tivemos alunos que construíram jogos educativos sobre cuidados contra a Dengue e a Zika, um aplicativo para monitorar pacientes com Alzheimer e outro para facilitar a economia de água em casa”. Essas experiências proporcionaram um aprendizado multidisciplinar que impactou inclusive o desempenho das crianças na escola – muitos pais comentaram que seus filhos começaram a se sair melhor em matemática, por exemplo.
Robótica na escola pública
Outro projeto inovador na área de tecnologia é o Robótica Livre, criado pela professora Débora Garofalo, que trabalha há três anos na Rede Municipal de São Paulo. Motivada pela curiosidade dos alunos e pela vontade de trabalhar o currículo do Ensino Fundamental de forma prática, ela resolveu utilizar sucata para ensinar os conceitos básicos da robótica.
“Quando falamos em robótica, nosso primeiro pensamento é o da tecnologia de ponta”, explica Débora, “mas, na sala de aula, a robótica assume novas funções, como promover experimentação e resolução de problemas. A sucata surgiu como uma alternativa aos kits especializados, que contam com partes mecânicas, automáticas, controladas por circuitos integrados. Além de estimular a criatividade, também falamos de sustentabilidade ao reciclar peças que, de outra forma, seriam descartadas”.
O objetivo do projeto era que os alunos, crianças do primeiro ao nono ano, construíssem carrinhos movidos a balão de ar enquanto compreendiam a lei de ação e reação. A professora conta que “as aulas se tornaram um laboratório para investigação. Tanto para mim quanto para os alunos, a experiência foi nova, o que tornou o trabalho ainda mais significativo”. Débora percebeu uma mudança de atitude ao concluir o projeto: alunos mais participativos, concentrados e colaborativos que se assumiram como protagonistas do próprio aprendizado.
Programar é para todos
Apesar de a Rede Municipal de Ensino ter distribuído, esse ano, mais de cem kits de robótica educacional, Débora ainda espera que, nos próximos anos, esse acesso seja melhor estruturado e acessível para todos. Tanto ela quanto Daniel apostam na popularização do ensino das ciências da computação nos próximos, inclusive como parte do currículo. “Acreditamos que a programação é o novo inglês”, comenta Daniel, explicando que, no passado, falar inglês era opcional, mas, hoje, se tornou pré-requisito e é disciplina obrigatória nas escolas.
Para os professores, é importante estar preparado para essas tendências. Uma oportunidade de se capacitar gratuitamente é através da rede Programaê, que oferece trilhas de aprendizado e um curso gratuito sobre como levar o ensino de programação para dentro da escola. O portal traz ainda uma série de histórias inspiradoras sobre pessoas que usaram a tecnologia para transformar a educação!
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