O mundo digital e as relações familiares: as boas práticas no uso da tecnologia

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Como manter uma relação saudável e equilibrada com a tecnologia em nosso dia a dia? Para responder a esta pergunta, entrevistamos a especialista no assunto, Fernanda Furia, psicóloga e fundadora da Playground da Inovação. Ela também fez uma palestra on-line para as famílias de estudantes das escolas parceiras da Geekie em fevereiro deste ano.

A tecnologia está em todo lugar: nas nossas casas, nos nossos carros, na saúde, na segurança, na educação e em tantas outras áreas. Alguns cuidados precisam ser tomados para que o uso dessa tecnologia seja sempre sadio e proveitoso para toda a família, que deve estar preparada para servir de referência no processo de orientação e mediação desse uso com seus filhos e suas filhas. Aqui, a psicóloga Fernanda Furia dá dicas preciosas sobre as boas práticas no uso de recursos tecnológicos no cotidiano familiar. Vem com a gente nessa entrevista esclarecedora.

1. Hoje em dia se fala muito no uso da Inteligência Emocional Digital (IED) para lidar com a tecnologia de forma saudável. O que significa?

Inteligência Emocional-Digital (IED) é o conjunto de habilidades sociais e emocionais aplicadas ao universo virtual. Ou seja, é a capacidade de se relacionar bem nos meios digitais, entender os próprios comportamentos on-line, se proteger dos riscos e criar estratégias de autocuidado com relação a tudo que se refere ao relacionamento com as tecnologias no cotidiano.

A IED abrange várias habilidades socioemocionais. Aqui eu cito as mais relevantes.

  • Gestão das emoções quando estamos on-line.
  • Empatia com o comportamento e as emoções dos outros(as) em ambientes virtuais.
  • Abertura para aprender e incluir novas tecnologias no cotidiano.
  • Desenvolvimento de uma visão crítica sobre os conteúdos produzidos e compartilhados na internet.
  • Comunicação eficaz e respeitosa nos canais digitais.
  • Reflexão sobre o impacto das tecnologias no desenvolvimento pessoal.
  • Compreensão do impacto social e global das novas tecnologias na evolução da humanidade.

2. Poderia citar dois exemplos de como é possível aplicar a Inteligência Emocional Digital na prática?

A aplicação da Inteligência Emocional-Digital deve acontecer continuamente, uma vez que estamos todo o tempo lidando com dispositivos tecnológicos, navegando na internet e nos relacionando com as pessoas através das redes sociais e aplicativos de comunicação. Existem algumas dimensões bem importantes relacionadas com a IED e, através delas, podemos estabelecer pontos de atenção e ação para criarmos uma saúde mental digital. Podemos destacar duas dimensões relevantes no contexto familiar.

O “Eu Digital”: o(a) indivíduo e sua relação pessoal com a tecnologia.

Essa dimensão se refere ao(à) indivíduo e a sua relação pessoal com o ambiente virtual e com o uso das tecnologias. No Eu Digital devemos desenvolver o autoconhecimento e a gestão das próprias emoções no contexto digital. Para isso é necessário refletir sobre os seguintes pontos: quais emoções a internet e as redes sociais evocam em mim? Como eu me sinto ao lidar com uma determinada ferramenta tecnológica? De quais redes sociais eu devo participar e por quê? Por que eu gosto de jogar com esse videogame?

Outros elementos importantes para o Eu Digital são a manutenção de hábitos pessoais digitais seguros e sem excessos, além de construir uma identidade digital coerente com as atitudes e os valores que exercemos no cotidiano. É importante também termos a consciência do rastro digital que deixamos ao usar a internet e pesquisar sobre quais tecnologias podem auxiliar na organização do nosso cotidiano e bem-estar geral. Desta forma, vamos construindo uma saúde mental digital que nos ajuda a ter uma dia dia mais saudável e equilibrado.

A “Família Digital”: os hábitos tecnológicos dentro da cultura familiar.

A dimensão da Família Digital abrange a cultura familiar e seus hábitos tecnológicos como um todo. Pais, mães e responsáveis têm um papéis fundamentais na educação digital de seus filhos e suas filhas, tanto para orientá-los(as) com relação aos benefícios e riscos das tecnologias, como também para criar uma rotina on-line saudável.

Além disso, os(as) adultos(as) devem servir como modelo e inspiração para seus(suas) filhos(as) a partir das suas atitudes. Abertura para o uso de novas tecnologias, reflexão sobre os hábitos tecnológicos, compreensão das próprias emoções on-line, diálogo sobre os assuntos ligados ao âmbito digital, proteção no ambiente virtual e pesquisa sobre novas tecnologias que podem ser úteis são caminhos potentes para criarmos crianças e adolescentes capazes de serem responsáveis e independentes no mundo digital.

3. Quais são os benefícios do uso de tecnologias para as crianças e os adolescentes?

Precisamos entender que o desenvolvimento saudável das crianças e adolescentes acontece a partir de uma gama variada de experiências e estímulos vindos do contato com adultos(as)  e outras crianças, além da vivência com os ambientes físicos e com a natureza.

Os benefícios do relacionamento de crianças e adolescentes com as tecnologias são personalizados. Ou seja, cada tecnologia vai ter uma função e um efeito em cada criança e adolescente. Esses efeitos vão depender do contexto familiar, da rotina escolar, das habilidades e dos hábitos digitais de cada um(a). Por isso, para algumas pessoas, o uso de certas tecnologias pode ajudar na concentração e na organização, mas para outros(as), essas mesmas tecnologias podem justamente atrapalhar a capacidade de foco.

Outro exemplo são as tecnologias que envolvem gamificação e desafios. Elas podem funcionar muito bem para crianças e adolescentes mais competitivos(as) e que gostam de estabelecer metas para si mesmos(as), por outro lado, podem ter um efeito de pressão e intimidação para outras pessoas. Videogames, aplicativos e plataformas que estimulam a construção, a estratégia, a negociação, a organização e a socialização podem ser boas fontes de desenvolvimento das habilidades socioemocionais na infância e adolescência.


Portanto, é vital que os(as) adultos(as) envolvidos(as) com o cuidado e a formação das novas gerações fiquem atentos(as) ao comportamento de cada criança e adolescente ao se relacionarem com as novas tecnologias. Esse olhar atento vai aumentar a chance de detectar impactos positivos e negativos de cada tecnologia na saúde e bem-estar dos nossos(as) filhos(as), netos(as), sobrinhos(as), alunos(as) e afilhados(as).

4. Quais os principais cuidados que pais, mães e responsáveis devem tomar para evitar problemas futuros?

Muitas pesquisas apontam riscos e impactos negativos no desenvolvimento das crianças, especialmente no campo da comunicação e socialização. Por isso, podemos destacar quatro dimensões das quais devemos cuidar.

  • Segurança. Proteger os dispositivos tecnológicos (celulares, computadores, tablets) através de controle parental e aplicativos de segurança.
  • Uso excessivo e conteúdo inadequad. Estabelecer limites de tempo de uso e monitorar o que as crianças e os(as) adolescentes estão vendo e compartilhando na internet.
  • Exposição exagerada. Evitar, ao máximo, expor fotos de crianças e adolescentes nas redes sociais, especialmente com roupas de banho (praia e piscina) e uniforme da escola. Orientar os(as) mais velhos(as) sobre o que compartilhar na internet e nos grupos de WhatsApp.
  • Saúde mental. Observar continuamente o comportamento dos(as) filhos(as) para perceber mudanças sutis que possam indicar o início de um processo de sofrimento. Isolamento, mudança no apetite e sono, maior irritabilidade e dificuldade para deixar de usar o celular/tablet podem ser indícios de um relacionamento tóxico com as tecnologias.

Essas medidas podem prevenir muitos casos de bullying, exposição demasiada, pedofilia, excesso de consumo on-line, crimes cibernéticos, etc. Vivemos uma linha tênue entre acompanhar as crianças e controlá-las em excesso. Estamos entrando cada vez mais em uma era de “dataficação da infância”, ou seja, teremos à nossa disposição inúmeros dispositivos que vão monitorar constantemente e gerar uma quantidade enorme de informações sobre todo o cotidiano da criança. Este cenário trará benefícios mas também riscos para o desenvolvimento infantil e para a relação famílias e filhos(as). Por isso, uma relação de confiança estabelecida entre a criança e seus(suas) cuidadores(as) nestes primeiros anos de vida vai construir uma via aberta de comunicação e diálogo sinceros durante a adolescência e o começo da vida adulta.

5. Poderia citar quatro boas práticas no uso de tecnologia, especialmente para crianças e adolescentes?

Sim, existem várias boas práticas que as famílias podem utilizar. Eu selecionei quatro.

  • Estratégia Cama-Mesa-Banho: evitar ao máximo o uso de celular na cama, durante as refeições e no banheiro.
  • Estabelecimento de regras familiares em conjunto sobre limite de tempo e uso de redes sociais.
  • Proteção dos dispositivos e acompanhamento do histórico de navegação on-line.
  • Uso sensato em público: som baixo quando estiver em espaços públicos e evitar ligações de vídeo sem uso de fones de ouvido.

6. Quais são as vantagens em usar a tecnologia na educação?

São muitas vantagens. Aqui eu seleciono oito.

  • Melhora a comunicação entre família e escola.
  • Cria conexão mais ágil entre professores(as) e estudantes.
  • Facilita a investigação e a pesquisa aprofundada.
  • Amplia as possibilidades de aprendizagem.
  • Promove maior engajamento dos(as) alunos(as) por meio de atividades gamificadas e divertidas.
  • Personaliza o ensino com uso de ferramentas que se adaptam ao ritmo, às capacidades e à evolução de cada estudante, como o Geekie One.
  • Facilita a organização e o planejamento dos estudos
  • Desenvolve habilidades socioemocionais como criatividade, planejamento e resolução de problemas.

Uso de tecnologia foi tema de evento para famílias de escolas parceiras da Geekie

Quer se aprofundar mais ainda sobre esse assunto? Assista ao evento da Geekie, com a Fernanda Furia. A live dedicada para as famílias de nossas escolas parceiras foi realizada no dia 15 de novembro.

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