Em painel, diretoras de escolas paulistas ressaltam que o documento da BNCC não oferece caminhos sobre como aplicar as recomendações na prática da comunidade escolar. Um dos caminhos apontados é a rede de trocas entre educadores e educadoras
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento normativo para a Educação Básica brasileira, determina o desenvolvimento das dez competências gerais e uma série de habilidades específicas ligadas às áreas de conhecimento. O que a Base não faz, contudo, é explicar como as orientações normativas devem e podem ser aplicadas na realidade da escola e desenvolvida com os estudantes. Essa foi a análise da diretora da escola Avenues, Cristiane Conforti, no painel “Práticas de professores em tempos de BNCC e protagonismo dos alunos”. O encontro ocorreu no começo da tarde do primeiro dia de evento (27 de março) do GEduc 2019.
Para Conforti, a BNCC promove uma ruptura na educação tradicional com novo foco no desenvolvimento das habilidades e competências. Ela é um reflexo do que está acontecendo no mundo e os debates sobre as formações do estudante do século XXI. Apesar dessa sincronia com as demandas internacionais, para a educadora é inegável que o documento apenas normatiza o que deve ser a educação integral do estudante, mas não apresenta os caminhos para este objetivo. Para a primeira participante do painel, a falta dessas orientações mais práticas abre espaço para uma rede mais forte de trocas de experiências entre educadores e educadoras.
Trocar experiências pedagógicas e profissionais é comparada por Conforti a uma rede neural. Para ela, as sinapses neurais, processo químico e biológico de trocas de informações entre os neurônios, é a colaboração que precisa existir entre todos os atores da comunidade escolar e esse processo deve ser fortalecido dentro da escola para todos se conectarem de forma a construir juntos as melhores práticas pedagógicas. Conforti ainda traz uma reflexão que ilustra o argumento sobre conexões mais próximas entre todos os participantes do processo de aprendizagem: “o coordenador, fora da sala de aula, só vai conhecer um aluno teórico”.
Projeto Zero, da Universidade de Harvard, e o conteúdo para a BNCC
Priscila Torres, diretora da escola Concept, reforçou a importância de uma mudança de mentalidade pelos professores e professoras para a adequação da aprendizagem à BNCC. Na opinião da gestora, o foco de todo o debate deve ser quem é o estudante do século XXI. Para o educador entender e conseguir atender essas necessidades dos discentes é preciso haver uma mudança positiva de postura dos docentes. Segundo Torres, esse processo também requer tornar a aprendizagem visível para desenvolver melhor as competências e habilidades nos estudantes. Segundo a diretora, o Projeto Zero, da Universidade de Harvard, é um balizador dessa mentalidade e das práticas e metodologias pedagógicas da escola Concept.
A terceira participante do painel, Regina Madureira, coordenadora editorial da Internacional School, destacou a importância do caráter formativo dos materiais didáticos e da adequação à BNCC. Incentivar o diálogo com os estudantes sobre as práticas pedagógicas é, para Regina, uma estratégia para adaptar o material às diferentes realidades dos estudantes da sala de aula. A coordenadora resume as competências em “conhecimento, prática e engajamento”, um trio para se pensar nas melhores práticas e estratégias para o processo de aprendizagem.