Percebendo demandas da escola, professora cria cursos de formação sobre cultura indígena e africana para educadores. Conheça e inscreva-se!
Como ensinar algo que você não aprendeu? Claudine Melo foi professora da rede pública de São Paulo por 15 anos e a pergunta nunca deixou de provocá-la. Afinal, a legislação brasileira requer o ensino de história e cultura indígena e africana na escola – entretanto, pouquíssimos profissionais dispuseram dessas disciplinas durante o ensino superior.
“Os educadores não estão preparados para desenvolver questões étnico-raciais com os alunos”, afirma Claudine. Tanto nos cursos de pedagogia quanto licenciatura, as temáticas ficam restritas a matérias optativas ou de curta duração, insuficientes para as demandas da sala de aula.
Particularmente, duas leis garantem a presença das culturas africana e indígena no ambiente escolar: a lei nº 10.639, promulgada em 2003, e a nº 11.645, de 2008. De acordo com elas, assim como os Parâmetros Curriculares Nacionais, essas questões devem ser incluídas no projeto pedagógico de instituições públicas e particulares de ensino.
“Os educadores não estão preparados para desenvolver questões étnico-raciais com os alunos. O conteúdo sobre a África só é lembrado em novembro, para o Dia da Consciência Negra, por exemplo”.
Infelizmente, essa não é a realidade. “O conteúdo sobre a África só é lembrado em novembro, para o Dia da Consciência Negra, enquanto os estudos indígenas aparecem em abril, quando se comemora o Dia do Índio. São sempre ações pontuais, que não têm continuidade ao longo do ano”.
A professora explica que, idealmente, questões étnico-raciais deveriam ser trabalhadas por todos os professores, de forma multidisciplinar e com conteúdos diluídos durante os quatro bimestres. Nada de isolá-las nas aulas de história! “Vi muitas mudanças nesses 20 anos como educadora”, admite. “Esses temas começaram a aparecer em livros didáticos, os pais mais antenados passaram a cobrar da escola… Mas ainda estamos longe do nosso objetivo”.
Iniciativa
Ao se dar conta das demandas da escola, Claudine resolveu oferecer cursos de formação para professores, ensinando como abordar temáticas africanas e indígenas em sala de aula, em qualquer nível de ensino, do Infantil ao Médio. A ideia de colaboração, de um professor compartilhando conhecimento com outros, não era nova para ela: “Acredito em uma escola prática, uma escola aberta”.
“É algo que os próprios educadores desconhecem e que precisamos desmistificar. Afinal, há pouco espaço para a cultura não ocidental, não eurocêntrica, dentro da escola”.
Os primeiros cursos surgiram em 2003 e, hoje, a EtnicoEduc – Educação para as Relações Étnico-Raciais, já organizou eventos e fechou parcerias por toda cidade de São Paulo e região metropolitana.
“Não é fácil vender essa ideia”, Claudine desabafa. “É algo que os próprios educadores desconhecem e que precisamos desmistificar. Afinal, há pouco espaço para a cultura não ocidental, não eurocêntrica, dentro da escola”.
Porém, bastam alguns minutos de conversa para que as narrativas da professora conquistem seus colegas. Ela garante que há uma mudança de atitude: no desenrolar das aulas, os participantes refletem sobre a educação que receberam e é comum que finalizem o curso ávidos por mais. Além de aulas expositivas, Claudine oferece workshops com jogos, vídeos, brincadeiras e ainda indica sites e materiais para quem deseja se aprofundar nas temáticas africana e indígena.
Inscrições abertas
O curso de Extensão em História e Cultura Africana, Afro-brasileira e Indígena, que começa neste sábado, está com inscrições abertas! Em parceria com a Apropriarte, o EtnicoEduc vai disponibilizar um certificado para o curso de 20 horas de duração – a serem cumpridas parte presencialmente, parte online.
No primeiro final de semana (27/08), o grupo discute história e cultura indígena no Brasil e em São Paulo. No próximo (03/09), é vez de falar sobre a herança africana. Para ter mais informações e realizar a inscrição, é preciso entrar em contato com a Apropriarte pelos telefones (11) 2935-5084 ou (11) 99198-5084, ou no endereço Rua Doutor Homem de Melo, 961 – Perdizes.
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