O contexto de uma sala de aula é raramente alvo de discussões; ainda assim, é essencial para a criação de ambientes que propiciem a aprendizagem. Um ambiente adequado aumenta as chances de que cada aluno seja capaz de atingir seu pleno potencial. Mas, afinal, o que é “contexto” da sala de aula, por que ele é importante e como podemos estar cientes dele quando ensinamos?
Gregory Palardy, professor assistente de Educação na Universidade da Califórnia, oferece uma definição excelente do que seria o contexto de uma sala de aula. Para ele, o contexto é o conjunto de características de uma classe, como a composição do grupo de alunos, a estrutura e as ferramentas disponíveis. Não inclui, por outro lado, os professores e suas habilidades para ensinar.
O motivo pelo qual esse contexto é particularmente importante para professores e gestores é que ele contribui para aumentar ou diminuir as lacunas entre o desempenho de um estudante e outro. Na verdade, a pesquisa de Palardy mostrou que o contexto da sala de aula é o principal fator de influência para o baixo aproveitamento de alunos negros e hispânicos nos Estados Unidos – já que eles tipicamente estão matriculados em escolas com poucos recursos financeiros e informação para implementar melhorias quanto ao espaço-aprendizagem.
É claro que esse não é um problema isolado; pelo contrário, é algo que envolve todo o sistema de ensino. Ainda assim, é importante que as escolas analisem como organizam seus alunos, incluem minorias e pensam nos espaços e ferramentas oferecidas para melhor conduzir o aprendizado. Abaixo você conhece algumas razões pelas quais o contexto é importante:
Contexto ajuda o educador a entender o aluno
Como já mencionamos, o contexto não depende da capacidade de ensinar do professor, mas depende sim do aprendizado do aluno. Educadores devem considerar o que os estudantes já sabem e como esse conhecimento influencia seus interesses e estilos de aprendizagem.
Isso vai desde o conteúdo abordado até regras de comportamento no coletivo. É importante, por exemplo, considerar o que eles aprenderam quanto ao que podem ou não dizer e fazer em sala de aula. Se um aluno foi marginalizado por qualquer motivo em sua sala de aula anterior, certas atitudes com certeza vão se apresentar na nova turma e precisarão ser trabalhadas.
Contexto ajuda a identificar tipos de aprendizagem
Precisamos pensar sobre o contexto em torno do assunto ensinado, afinal, as formas de aprender variam conforme a disciplina. Uma resposta concreta pode ser preferida em aulas de ciências ou matemática, por exemplo, mas talvez não seja tão valorizada em outras áreas de conhecimento, como ciências humanas e sociais. Diferentes contextos podem afetar o quanto o aluno estará preparado para cada tipo de aprendizagem.
Esse preparo só se estabelece se o estudante for exposto a diferentes ferramentas e recursos que propiciem seu aprendizado. Quanto mais variadas forem as interações com o conteúdo – através de livros, debates, atividades online, excursões, entrevistas, filmes e assim por diante -, mais fácil será para cada aluno encontrar aquelas que facilitam seu próprio aprendizado e, consequentemente, mais capazes eles serão de relacionar fatos e construir conhecimento.
Contexto ajuda a redefinir sucesso
Em 1990, um estudo publicado na revista acadêmica americana Elementary School Journal mostra uma professora que mudou suas estratégias de ensino após descobrir que um grupo de alunos, que vinha atingindo notas mais altas em matemática do que o resto da turma, na realidade não tinha qualquer entendimento mais profundo quanto aos conceitos trabalhados. Ou seja, seu conhecimento era nada mais que uma repetição, eles não haviam se conectado com o tema.
Ou seja, o contexto faz com que o educador questione não apenas como organizar os alunos na sala, mas também como determinar o que é sucesso na sala de aula. É ótimo ter metas para os alunos, entretanto, o que essas metas informam a eles? Como influenciam suas motivações? Uma sala de aula que foca no processo de aprendizagem, ao invés de em uma única nota, pode demonstrar um contexto mais positivo e, inclusive, gerar melhor desempenho do que outras que não o priorizam.
Como criar um contexto adequado na minha sala de aula?
A tarefa intimida, mas não é impossível. Provavelmente, o educador não pode transformar tudo, mas quais são as alterações possíveis? Considere o tamanho da sala, o acesso a professores de educação inclusiva, o número de alunos por profissional, a organização do espaço e os recursos à disposição.
Desenvolver uma mentalidade focada no crescimento, e não em um único resultado, é outro fator que melhora o contexto. Quando uma sala de aula foca em sucesso ou fracasso, notas 0 ou 10, os estudantes tendem a se rotular da mesma maneira. Quando a ênfase vai para o desenvolvimento contínuo, por outro lado, as competências acadêmicas dividem espaço com habilidades como trabalho em grupo, autonomia e pensamento crítico. Essa visão premia a conexão com o conteúdo discutido e a participação ativa durante as aulas. Os alunos são estimulados a se engajar e ter protagonismo no próprio processo de aprendizagem.
Ainda que você não consiga mudar o tamanho da sua sala, estes são alguns pontos que vão enriquecer o contexto de sua sala de aula:
- Criar pequenos grupos e momentos de aprendizagem entre aluno e professor: Se você tem uma turma numerosa, ofereça oportunidades para que os estudantes trabalhem em pequenos grupos ou tenham momentos individuais com o professor. Isso vai estreitar o relacionamento entre colegas, entre aluno e educador, além de potencializar as habilidades que cada um traz de seu contexto individual. Isso pode ser feito através do Ensino Híbrido, com rotação por estações de aprendizagem, por exemplo.
- Pense na organização do espaço: reflita cuidadosamente sobre a organização das carteiras e cadeiras em sua sala de aula. Ela é convidativa ao aprendizado? Parece promover um aluno e diminuir outro? Uma organização circular, por exemplo, coloca todos os alunos no mesmo nível, eliminando os “inteligentes da primeira fila”. Mesmo a decoração pode passar uma mensagem positiva ou negativa para os estudantes.
- Seja acessível: Conhecer seus alunos é mais do que memorizar seus nomes. Tente aprender algo sobre cada um deles, como esporte preferido, hobby ou ídolo, e use essas informações para tornar o conteúdo mais relevante para eles – eles podem escrever uma letra de música, relacionar matemática e física com um jogo de futebol ou comparar as vidas de suas celebridades preferidas com personagens históricos, por exemplo (aqui, você lê as histórias reais de educadores que inovaram usando redes sociais, tão populares entre jovens LINK EBOOK). Além disso, busque demonstrar preocupação com cada um para motivá-los a dar seu melhor.
- Estimule a autonomia e liderança: Aplique metodologias que incentivem os alunos a desenvolver autonomia e liderança, para que saibam orientar o próprio aprendizado. Isso será útil não apenas em sala de aula, mas em situações externas. Um exemplos de sucesso é o caso de duas educadores que levaram o Design Thinking para que a própria turma apontasse e resolvesse os problemas da escola, confira.
Fonte: Edudemic
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