Aprendizagem Baseada em Projetos favorece a investigação científica e o protagonismo dos(as) alunos(as)

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5º encontro online do Circuito Geekie, em 20 de maio, mostrou o passo-a-passo do desenvolvimento de um projeto e como engajar os(as) estudantes na solução de um problema da vida real 

A Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP) tem ganhado bastante destaque nos últimos anos, sobretudo devido à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e ao Novo Ensino Médio, que têm trazido para as escolas o desafio de trabalhar com habilidades e competências e desenvolver a autonomia dos(as) estudantes na construção de novos saberes. 

Para explicar como essa metodologia ativa pode ser aplicada na prática e mostrar como ela redefine o papel do(a) professor(a) no processo educativo, Carolina Brant, líder do time pedagógico da Geekie, ministrou a formação “Aprendizagem baseada em projetos: benefícios, planejamento e avaliação”, na quinta-feira, dia 20 de maio. A formação foi o quinto de sete encontros online promovidos pelo Circuito Geekie.

Aprendizagem Baseada em Projetos: o que é e quais são os benefícios?

Carolina começou a apresentação definindo o que é a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP). Ela expôs o conceito do Buck Institute for Education, mas ressaltou que não há uma única definição para o termo:

Citação Buck Institute for Education: “(...) um método sistemático de ensino que envolve os(as) alunos(as) na aquisição de conhecimentos e de habilidades por meio de um extenso processo de investigação estruturado em torno de questões complexas e autênticas e de produtos e tarefas cuidadosamente planejados.”

Segundo ela, há mais de 100 anos, já se falava em colocar o(a) estudante para aprender fazendo e não apenas escutando, lendo ou tendo uma posição passiva no processo de aprendizagem. “A Aprendizagem Baseada em Projetos traz exatamente isso, a conexão do(a) estudante com o que ele(a) está aprendendo, para que consiga ter compreensão duradoura e significativa. Em um projeto, ele(a) não está só aprendendo conteúdo, mas construindo novos saberes de forma mais ativa e engajadora.”

Entre os benefícios para o estudante de trabalhar por projetos, a especialista citou:

  • contexto, autonomia e engajamento;
  • investigação, colaboração, reflexão e construção ativa de novos saberes;
  • criatividade, aprender fazendo, impacto no mundo.

“Quando a gente fala de protagonismo, ele está relacionado a tudo isso. Porque se aquilo que o(a) estudante está aprendendo está contextualizado à realidade dele(a), temos a possibilidade de desenvolver uma autonomia e um engajamento muito maiores, no sentido do(a) aluno(a) levar aquele conhecimento para a sua vida e entender como ele(a) pode impactar o mundo”, afirmou. “Esse processo também favorece a curiosidade, a construção ativa e colaborativa de novos saberes e a reflexão crítica”, completou a especialista.

O caminho de um projeto

Carolina explicou que a construção de um projeto é um processo complexo e muitas vezes não linear, com idas e vindas, mas algumas fases que podem ser estabelecidas. Também não há um consenso sobre elas, mas, em geral, essas etapas são: 

  • Planejamento;
  • Descoberta;
  • Investigação e ideação;
  • Construção;
  • Compartilhamento. 

No planejamento, o(a) professor(a) vai ver as temáticas que podem ser trabalhadas a partir das  habilidades e conhecimentos essenciais que precisam ser desenvolvidos. 

Na descoberta, ele(a) vai engajar os(as) estudantes a partir de uma questão conectada à realidade da turma ou problema do mundo real – por exemplo, como reduzir o descarte de plásticos que chegam aos oceanos ou como combater a fome. 

A fase seguinte, investigação e ideação, é o momento em que os(as) alunos(as) mergulham no tema ou questão e começam a imaginar as possíveis soluções. 

Na sequência, o processo de construção inclui as habilidades de planejar, criar e replanejar soluções. 

Por fim, o compartilhamento consiste em apresentar o produto final do projeto para a comunidade e refletir sobre os aprendizados. 

Pensando em um projeto na prática: a fase da descoberta

Para ajudar os(as) professores(as) a entender como essas etapas acontecem na prática, Carolina apresentou um exemplo concreto, um projeto da Geekie sobre viagens intergaláticas

A partir de uma pergunta inicial (“A humanidade será capaz de conhecer novas galáxias?”) e a apresentação de um vídeo sobre o assunto, a ideia é que os(as) alunos(as) considerem o que já sabem sobre o tema e o que mais querem saber para cada grupo chegar na sua questão norteadora. 

Ela destacou que esse processo deve partir também da própria curiosidade dos(as) estudantes

“Ao refletirem sobre quais perguntas eles(as) têm sobre esse tema e levantarem uma nova questão – por exemplo, ‘já teve vida pregressa em Marte?’ – eles(as) vão destrinchando o assunto, pois vão vendo o que precisam para respondê-la – saber, por exemplo, sobre a atmosfera do planeta, a existência de água e as próprias condições de vida fora da Terra.  Com isso, podem surgir temáticas diversas, de ‘teorias e mitos sobre vida extraterrestre’ à ‘geopolítica das viagens espaciais’.” 

Nessa etapa, o professor deve estimular a curiosidade dos(as) estudantes, apresentar conteúdos instigantes, viabilizar as discussões e debates e apoiar os(as) alunos(as) na elaboração das perguntas norteadoras. Elas precisam ser desafiadoras e voltadas para a resolução de problemas reais e não podem ter respostas únicas. 

“O(a) docente também deve dar feedback, discutir com o grupo, fazer novas colocações e ver como os(as) estudantes estão se desenvolvendo”, completou a especialista.

Investigação e Ideação: um mergulho no tema

Durante a investigação e a ideação, os(as) alunos(as) vão mergulhar no tema e imaginar soluções. Para isso, vão realizar investigações sobre o assunto com base nas perguntas levantadas anteriormente, trocar e compartilhar os conhecimentos obtidos e definir a pergunta central do projeto. Posteriormente, vão propor diferentes soluções e decidir qual será o produto final.

De acordo com Carolina, nesse processo, eles(as) devem refletir sobre os seguintes pontos, com o apoio do professor:

  • Por que esse tema é importante?
  • Como posso encontrar respostas para as minhas perguntas?
  • Como vou usar o que aprendi no projeto?

“O(a) docente também deve, ainda, auxiliar os(as) estudantes em suas pesquisas, disponibilizando fontes e referências confiáveis, e mediar a definição do produto final, encaminhando a turma para a construção de soluções significativas”, acrescentou Carolina.

Construção: das tarefas ao produto

A construção é o momento em que os grupos vão planejar as tarefas, criando um cronograma de execução. “Esse planejamento inclui o passo-a-passo do que vai ser feito, por exemplo, as entregas de pesquisas e relatórios ao longo do processo”, comentou a especialista. 

A partir daí, os(as) estudantes começam a construir suas soluções e, com o(a) professor(a),  avaliam o andamento do projeto e replanejam o que for necessário

No desenvolvimento das soluções, o(a) docente deve apoiar os(as) alunos(as), com questões relativas aos materiais que serão necessários, à distribuição das tarefas ao longo do tempo, ao surgimento de novas perguntas e à avaliação da solução – se ela funciona ou necessita de modificação.

Por exemplo, a solução proposta por um grupo para desmistificar algumas teorias extraterrestres pode ser uma conta em rede social para divulgação científica. “Neste caso, será preciso criar a conta, fazer o planejamento das publicações, relacionar links de divulgação científica e buscar novas referências”, detalhou Carolina. 

Compartilhamento: a apresentação final para a turma

Na última etapa, compartilhamento, os grupos se preparam para a divulgação e apresentam os produtos finais para a comunidade escolar. Os formatos podem ser os mais diversos – exposições em feiras escolares, vídeos, debates, conteúdos para redes sociais, etc. -, e a ideia é que gerem impacto no cotidiano da escola. 

É importante que o(a) professor(a) estimule a reflexão, propondo questões como “por que o problema que estamos resolvendo é relevante?” e  “qual a melhor maneira de explicar o projeto para as outras pessoas?”.

Nessa finalização, o papel do(a) docente é muito importante no sentido de mostrar que a mentalidade que se deve ter nesse processo é de planejamento e replanejamento

“Se alguma coisa não está dando certo, se o primeiro protótipo não funcionou, tudo bem, é possível redesenhar a rota, replanejar e tentar outras soluções para chegar nessa resposta que se está querendo alcançar”, pontuou Carolina.

Avaliação constante do/no processo e de todos(as) os(as) envolvidos(as) no projeto

A especialista lembrou que, ao final do trabalho, é importante que o feedback venha de todos os envolvidos: professor(a), grupos, estudantes e até da própria comunidade escolar. 

Como a avaliação acontece durante o processo, o(a) professor(a) pode apresentar e até combinar com os(as) alunos(as) os critérios de avaliação – por exemplo, colaboração, criatividade, processo de investigação. O professor pode propor, ainda, que os(as) alunos(as) o avaliem.

Os(as) estudantes também devem ser levados a refletir sobre o seu processo de aprendizagem. “As rubricas de avaliação podem ser individuais e por grupo, pois pode haver expectativas diferentes para cada estudante. Também é interessante fazer uma retrospectiva do processo e gerar uma lista de pontos positivos e aspetos a melhorar”, disse Carolina.

Ela apontou ainda que a avaliação deve ser constante, diversificada e considerar todo o processo, e não só o produto final. Às vezes, o produto final não deu certo, mas a investigação foi completa, teve colaboração, reflexão crítica, e isso tem que ser levado em conta também.” Em cada etapa da avaliação, é possível considerar:

Descoberta:
-- participação nas discussões e elaboração de perguntas para investigaçãoInvestigação e ideação:
-- análise de textos e dados, processo de pesquisa e argumentação com base em evidênciasConstrução:
-- escuta, empatia, contribuições e comprometimento no trabalho em grupo
-- divisão e planejamento das tarefas ao longo do tempo
-- criatividade para a construção do produto finalCompartilhamento
-- avaliação do produto final e comparação com o que era esperado
--  apresentação e comunicação da mensagem para o público-alvo
-- reflexão sobre o processo de aprendizagem

Outro aspecto importante, segundo Carolina, é o(a) professor(a) atentar que o trabalho com projetos não significa reinventar a roda ou ter de modificar tudo o que o docente já vinha fazendo. Muitos dos elementos que já eram trabalhados em sala de aula ou fora dela, como pesquisas, discussões e debates, leituras e realização de entrevistas, podem ser aproveitados ao longo dessas experiências de aprendizagem.

“Nada do que ele já faz na sala de aula será jogado fora. Tudo começa com uma mudança de mentalidade, em pensar como integrar e dar mais contexto para fazer a aprendizagem mais significativa para os(as) estudantes”, finalizou a especialista.

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