A transformação da educação nunca foi tão necessária e possível

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dados do pisa reforçam a necessidade de inovar em sala de aula para motivar estudante - InfoGeekie

Dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) revelam que a educação precisa passar por uma transformação para garantir a motivação e o engajamento do estudante. A tecnologia com intencionalidade pedagógica é um desses caminhos que se conecta à realidade de discentes e otimiza a atuação de docentes

Antes de refletir sobre a transformação da educação, proponho começarmos este texto com uma citação que muito me inspira.

A qualidade do sistema educacional de uma nação será uma das principais determinantes – talvez a principal – de seu êxito durante o próximo século e para além dele”, Howard Gardner  

A frase do psicólogo cognitivo e educacional Howard Gardner – cientista das inteligências múltiplas e diretor-sênior do Project Zero da Universidade de Harvard – traz muito da crença que norteia a minha atuação como profissional, pesquisador de educação e cidadão brasileiro. De alguma forma, inspirou-me em uma pensata sobre o sentido de urgência que precisamos capturar. O futuro começou ontem e já estamos bem atrasados no processo de transformar a educação no Brasil, aliando novas tecnologias, metodologias e conteúdos conectados com as competências do século XXI. E a transformação começa com um olhar crítico para conquistas e desafios.

A despeito da ampliação do acesso à educação – que consideramos, até então, uma conquista – a América Latina continua apresentando resultados de aprendizagem abaixo da média global. Dados do último Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) mostram que os indicadores educacionais do Brasil caíram em 2015 se comparados com 2012. A nota em Ciências caiu de 405 para 401; em Leitura, o desempenho foi de 410 para 407; em Matemática, de 391 para 377. 

Parte desse insucesso pode estar na crença de que manter alunos dentro da sala de aula é garantia de aprendizado real. Se esse fosse o termômetro correto, o Brasil apresentaria melhoria nos níveis medidos pelo PISA. Óbvio que estamos diante de avanços importantes em relação à cobertura do sistema educativo, mas os investimentos governamentais não estão expressos no aumento da aprendizagem. E, aqui, cabe uma breve explicação sobre o PISA. O Brasil – que participa voluntariamente desde a primeira edição, em 2000 – ganha muito nessa parceria, pois a análise nos permite comparar o próprio desempenho com outros países, principalmente os que se assemelham conosco (seja culturalmente, seja economicamente); informações que mostram se estamos ganhando competitividade internacional. 

Um olhar atento ao PISA e à necessidade de transformação da educação

Em conversa com o professor Claudio Maroja – colaborador do PISA e gerente de avaliação da Geekie – ele revela que nos 15 anos de participação muitas reflexões acerca dos domínios dos nossos alunos foram exploradas e, certamente, movimentaram políticas públicas para a melhora da educação brasileira, tanto pública quanto privada.

Quando analisamos os desafios, defendo que não existe uma única solução para resolver os problemas da educação no país – uma bala de prata –, porque os motivos que acarretam essa performance abaixo da média estão diluídos em diferentes frentes. Entre os motivos que implicam nesse desempenho existem questões de infraestrutura básica e outras extremamente debatidas como a urgência de diretrizes claras e exequíveis em relação ao currículo. Mas, gostaria de destacar o mau uso do tempo em sala de aula e explico o porquê. 

Enquanto a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) recomenda que 85% do tempo do professor e da professora seja utilizado para o processo de aprendizagem, no Brasil apenas 64% do tempo dos docentes das escolas nacionais tem sido reservado para a tarefa. Ou seja, mais de 36% do tempo dos nossos educadores e nossas educadoras é investido em tarefas burocráticas e administração da indisciplina. 

Há, ainda, o desafio da motivação do aluno. No Brasil, apenas 63,6% dos jovens brasileiros conseguem concluir o Ensino Médio até os 19 anos – de acordo com o PNAD. Perdemos um em cada três de nossos jovens, pois a escola não está adequada para as necessidades dos estudantes, sobretudo em uma etapa da vida na qual são confrontados com a necessidade de se sustentarem – ou à família. Vale ressaltar, no entanto, que a necessidade de trabalhar não é o primeiro motivo para a evasão escolar no país. O primeiro motivo, sendo citado por 40% dos jovens que abandonaram os estudos, foi o desinteresse – de acordo com a pesquisa da FGV com base em dados do PNAD. Essa falta de interesse está na raiz do diagnóstico de muitos educadores de que é preciso redesenhar a escola. Falta de foco, contextualização e de metodologias que provoquem uma participação ativa do aluno estão entre as críticas mais frequentes.

Inovação digital e a motivação de estudantes

É justamente nessa tarefa de motivar o aluno que a inovação digital pode ter um papel importante, aproximando o conteúdo do universo dos estudantes e tornando a educação mais relevante, individualizada e eficiente para discentes e docentes. Nesse sentido, a inserção da tecnologia na educação não se limita a deixar o conteúdo mais atrativo: ela permite que os professores e professoras conheçam as necessidades de cada aluno e aluna em tempo real, de forma personalizada; e possam ajudá-los antes que eles travem, fiquem desmotivados e que desistam por não estarem aprendendo. 

Para combater a evasão escolar é essencial que os educadores tenham atenção redobrada com os estudantes que estão com dificuldade nas disciplinas e que aparentam desmotivação. Por outro lado, há situações nas quais crianças e adolescentes com bom potencial não se sentem desafiados e deixam de se interessar pelos estudos. Em ambos, a tecnologia desempenha um papel importante. Antigamente seria impossível exigir isso dos professores e das professoras, especialmente em classes grandes, com mais de 40 estudantes. Mas, quando escolhida com intencionalidade pedagógica, a tecnologia possibilita que o corpo docente tenha mais tempo para interações pessoais e de aprendizagem significativa com estudantes. Quando estes elementos estão presentes – personalização, tecnologias adequadas e redesenho das escolas – os alunos e as alunas recebem feedback constantemente por meio do uso de plataformas tecnológicas. Eles e elas têm, individualmente, mais tempo com docentes – o que resulta em muito mais protagonismo, entusiasmo e orgulho de seus resultados. 

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Nos últimos oito anos, tenho trabalhado com toda a comunidade escolar para projetar e implementar estratégias de aprendizagem, apoiadas por soluções tecnológicas e metodologias inovadoras. Ao longo de seis anos, a Geekie impactou mais de 12 milhões de estudantes e 5 mil escolas de todo o país. Parte relevante da atuação da Geekie – que alia tecnologia de ponta à metodologias pedagógicas inovadoras para potencializar o aprendizado – está apoiada na premissa defendida pelo PISA. Um computador nas mãos dos professores e das professoras, por exemplo, elevou a notas no exame em 2,7 pontos. E a Geekie responde exatamente a essa demanda: atuar para auxiliar docentes e discentes no processo de aprendizagem.

Os avanços tecnológicos são exponenciais. Hoje, o desafio é direcionar esses avanços para levarmos a educação a um novo patamar. Não se trata de automatização, mas da possibilidade inovadora de personalizar, canalizar o tempo dos educadores e gestores para o que realmente importa e utilizar os recursos e metodologias capazes de apoiar uma educação coerente com as necessidades dos nossos alunos.


* Claudio Sassaki é cofundador e CEO da Geekie , empresa referência em educação inovadora no Brasil. Nos últimos oito anos Sassaki tem atuado com estudantes e educadores no desenvolvimento de iniciativas inovadoras que potencializam a aprendizagem. Sassaki é graduado em arquitetura pela USP e mestre em educação pela universidade de Stanford. Entre outros reconhecimentos, Sassaki recebeu os títulos de empreendedor global Endeavor, Empreendedor do ano pela Ernst Young, Empreendedor social pela Fundação Schwab e Innovation Fellow pela Wired Magazine. Já enquanto speaker teve a oportunidade de contribuir para eventos como o Fórum Econômico Mundial, a conferência global de educação de Harvard, SXWEdu, Citizen Education e TEDx.Ele ama esportes e vive em São Paulo com sua esposa e quatro filhos.

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