A educação é uma das maiores ferramentas de transformação social e a tecnologia pode ser sua principal aliada nesse objetivo. Apesar disso, o acúmulo de tecnologia e sua aplicação na educação não tem trazido impactos positivos na igualdade social. Vamos entender o que está acontecendo e como fazer com que educação e tecnologia resultem em mais inclusão?
TECNOLOGIA NÃO É GARANTIA DE EDUCAÇÃO IGUALITÁRIA
Pode não parecer, mas a última grande onda de startups e tecnologias disruptivas já está quase completando uma década – o AirBNB já tem 9 anos! No caso da educação, as iniciativas mais inovadoras também já existem há um bom tempo: plataformas de grandes universidades, como Coursera e edX, já chegaram aos 5 anos, assim como a Geekie. Mas, mesmo com o setor educacional efervescente com tantas inovações, os resultados de várias pesquisas recentes apontam que o gap entre ricos e pobres vem crescendo.
Esta pesquisa da NMC é uma das que mostram que a tecnologia tem ajudado a aumentar a disparidade social e pode até piorar ainda mais a situação. Esse efeito vem se agravando porque a proficiência digital evoluiu de dominar o uso de ferramentas digitais para incluir também a capacidade de criar conteúdo e se comunicar efetivamente através delas. Em outras palavras, mesmo quem já domina as ferramentas precisa continuar correndo atrás.
A mesma pesquisa traz outro alerta além da existência do gap: a utilização de dispositivos e ferramentas de criação que os alunos conhecem através das escolas não resolve o problema. Ao apenas prover o acesso, não há garantia de que os estudantes tenham capacidade de se adaptar ao novo contexto de produção – que envolve desenvolver hábitos como: aprendizado constante e manter o domínio contínuo de novas habilidades, acompanhando o ritmo da evolução tecnológica.
Além da capacidade de dominar novas tecnologias e ferramentas, também existe a questão de para quem elas são desenhadas. Esta outra pesquisa levanta a questão ao afirmar que o fator ligado à tecnologia que mais impacta a desigualdade é a forma com que economias desenvolvidas e puxadas pela tecnologia acabam favorecendo um grupo cada vez menor de indivíduos bem-sucedidos – aqueles que decidem as tecnologias que recebem investimentos e são desenvolvidas. Isso incrementa seus talentos, habilidades e, consequentemente, suas rendas – o que garante que este grupo continue escolhendo quais tecnologias recebem investimentos. Esse mecanismo seria mais uma forma através da qual a tecnologia continuaria aumentando a desigualdade.
Saiba mais em: Educação para equidade ou educação inovadora?
COMO UTILIZAR TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO É UMA QUESTÃO CHAVE
Vimos que a tecnologia na educação pode acabar atrapalhando a inclusão social e os principais motivos. Com isso, pode parecer que não é possível aliar tecnologia e educação para diminuir o gap, mas não é bem assim! O que essas pesquisas chamam atenção é que devemos pensar além do “inovar com tecnologia”. Afinal de contas, se como utilizamos a tecnologia é a principal causa de gap discutida nestas pesquisas, temos de fazer mais que utilizar “mais tecnologia”. Assim, inovações do setor educacional precisam estar preocupadas com a inclusão — ou elas acabam aumentando os gaps sociais do país. E, se já sabemos os principais motivos do gap, podemos evitá-los para construir um país mais inclusivo: incentivar a vontade de aprender constantemente e desenhar soluções que pensem e envolvam todos os impactados são passos essenciais na construção de iniciativas que ajudem a reduzir a desigualdade. Ah, e claro: isso envolve impactar todas as classes sociais! Noção semelhante foi defendida por Obama, ao falar sobre sua convivência com CEOs do Vale do Silício durante a presidência:
“Às vezes converso com CEOs (…) Eu digo ‘bom, se tudo o que eu estivesse fazendo fosse criar uma ferramenta ou produzir um app, e eu não tivesse que me preocupar se as pessoas pobres pudessem pagar pela ferramenta […ou] se o app tem alguma consequência não-intencional, nesse caso eu acharia suas sugestões ótimas.”
Essa fala é emblemática, pois chama a atenção para a necessidade de inclusão dos mais pobres e do impacto que seu negócio pode gerar na sociedade. Mas você não precisa ser o Obama para ter a mesma preocupação! Hoje em dia, com o crescimento de movimentos que promovem o empreendedorismo social, sabemos que donos de negócios podem gerar impacto social e lucro ao mesmo tempo — e que existem aceleradoras, mentores e outras empresas dispostas a ajudar.
Por fim, sabendo que o importante é como utilizamos a tecnologia que escolhemos para a iniciativa inovadora, podemos ajudar a reverter a tendência de aumento do gap. Com essa mentalidade e mais cuidado no desenvolvimento de projetos ligados à educação, é possível construir um país menos desigual e garantir mais inclusão social para todos.
Gustavo Prista é formado em Economia, mestre em Administração de Empresas (COPPEAD/UFRJ) e apaixonado por inovações de impacto socioambiental. Por esse motivo, sua dissertação foi sobre adoção e disseminação de inovações no setor educacional no Brasil e pesquisa atualmente sobre a sustentabilidade de projetos socioambientais financiados via crowdfunding. Escreve sobre autoconhecimento e estilo de vida sustentável nohttps://medium.com/@gusprista . Contato: gprista@gmail.com
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