Como melhorar o engajamento e a motivação de adolescentes nos estudos? A neurociência explica

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O sono durante a aula, o mau humor ao fazer a lição de casa ou a irritação na hora de estudar para as provas. Tudo isso pode parecer preguiça ou má vontade, mas não é bem assim. A culpa pode ser dos hormônios e da remodelação cerebral, que ocorrem na adolescência. Saiba como a neurociência explica esses fenômenos e aprenda a como ajudar seu filho ou sua filha durante esta fase.

Os(as) adolescentes costumam ter mais dificuldade de se engajarem nos estudos. Geralmente ficam com sono nas aulas, têm períodos de mau humor, tédio, apatia, falta de entusiasmo e interesse em estudar. Tudo isso tem uma explicação científica de acordo com a neurociência. 

Essas alterações de comportamento têm a ver com as transformações corporais que ocorrem nessa fase, como o crescimento, a explosão de hormônios e as modificações no cérebro. Mas, mesmo com todas essas mudanças, é possível motivar os alunos e as alunas a estudarem nessa fase? Sim, de acordo com Katia Chedid, educadora, graduada em Pedagogia e Psicopedagoga, especialista em Gestão Escolar, orientadora educacional na Escola Beit Yaacov e curadora de conteúdo de grupos no Instagram e no Facebook sobre neurociência e educação, com mais de 200 mil seguidores. Segundo ela, a neurociência mostra alguns caminhos que podem ajudar as famílias nessa missão. Veja a seguir dicas práticas da especialista.

Por que tanto sono na hora de estudar?

Os(as) adolescentes precisam dormir mais horas do que os(as) adultos(as). Um dos motivos são as alterações físicas e hormonais desses jovens, que exigem mais horas de sono. A National Sleep Foundation recomenda que, nessa fase, eles e elas durmam, no mínimo, 8 horas por noite. 

Seu filho ou sua filha cumpre essas horas diárias? Se não, os hábitos devem ser revistos. Dormir pouco diminui a capacidade de manter a atenção em uma tarefa, prejudicando o desempenho escolar; dificulta a execução de atividades cognitivas; aumenta a sonolência diurna e varia o humor. Também torna o(a) jovem mais propenso(a) a desenvolver obesidade, diabetes e depressão.

Outro detalhe importante: além de mais horas de sono, na adolescência, há um atraso no relógio biológico de sono e vigília – o corpo quer ficar acordado até mais tarde e acordar mais tarde. Isso acontece porque a liberação de melatonina – o hormônio que induz o sono – é atrasada. “Na puberdade, esse atraso pode ser de até duas horas. Pedir a um adolescente para acordar às 7h seria equivalente a pedir a um adulto para despertar às 5h da manhã”, explica Chedid. 

Então, o melhor período para estudar seria à tarde? 

Segundo a especialista, pesquisas mostram que adolescentes que estudam à tarde têm melhores resultados na escola, em média. E quem estuda de manhã? A educadora diz que o ideal seria uma maior flexibilidade de início das aulas para que o sono dos(as) alunos(as) seja preservado. “Mas, se atrasar o incio das aulas não for possível, regular o horário de deitar e tomar um café da manhã antes da aula já seriam grandes auxílios para melhorar a aprendizagem”.

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Combatendo o tédio e a falta de entusiasmo

Seu filho ou sua filha está se sentindo entediado(a), sem entusiasmo e com pouca vontade de estudar? Pode parecer uma simples preguiça, mas não é. “Eles e elas se sentem assim por causa da queda de produção de dopamina, um hormônio neurotransmissor que nos estimula a buscar o prazer e a recompensa”, diz Chedid. 

Essa substância está em alta nas crianças pequenas, por isso elas têm tanta energia e entusiasmo. Já no início da puberdade, sua produção cai. Isso se deve ao período que se chama poda neural (ou poda de sinapses): o cérebro faz uma limpeza de conexões que já não são mais tão utilizadas, como aquelas em que as crianças usavam para aprender a falar, andar e se movimentar. Ao fazer essa poda, o cérebro abre espaço para as novas, como o desenvolvimento de habilidades mais sofisticadas – são as chamadas funções executivas. Tudo isso é um processo de reconstrução cerebral, que afeta o crescimento e o comportamento. 

Mas como combater o tédio causado pela queda de dopamina?  

“A família pode incentivar o(a) adolescente a transformar essas mudanças de uma forma positiva”, sugere Chedid. Segundo a psicopedagoga, um bom caminho é estimular os(a) jovens a praticarem atividades prazerosas. Isso faz o organismo  produzir mais dopamina. A especialista cita algumas dicas de Daniel Siegel, diretor executivo do Mindsight Institute da Universidade da Califórnia (UCLA) – ele é uma referência no estudo do cérebro adolescente: 

“Os adultos podem incentivar seu filho ou sua filha a achar seu propósito de vida, planejar seu crescimento, seu futuro, focar em aventuras e acreditar em planos para mudança”. Isso tudo vai refletir positivamente nos estudos também. Mas ela faz um alerta: “Caso isso não seja incentivado, o(a) adolescente pode buscar essas novidades no comportamento impulsivo e de risco”.

Irritação e mau humor durante as tarefas escolares. O que fazer?

Seu filho ou sua filha costuma ficar de mau humor quando faz a lição de casa? A culpa pode ser das mudanças que ocorrem na amígdala cerebral e no hipotálamo. A amígdala é uma pequena estrutura em forma de amêndoa situada dentro da região antero-inferior do lobo temporal. Lá acontece a mediação e o controle de atividades emocionais como alterações de humor, irritação, impulsividade, medo e até agressividade. Já o hipotálamo, além de controlar funções como pressão sanguínea, diurese, fome e sede; também controla emoções como raiva e prazer.

Como lidar com essa irritação? 

“O trabalho dos pais, da escola e dos professores podem canalizar essas mudanças para que os(as) adolescentes adquiram uma paixão poderosa de viver a vida plenamente, de capturar a vida e de fazer parte do planeta”, sugere Chedid. Dessa forma se sentirão mais motivados a estudar e traçar seus projetos de vida, e fugir da irritação e do mau humor.

Isolamento e crise de identidade podem ser contornados

Outro problema comum na puberdade é a crise de identidade, que pode gerar isolamento, depressão e estresse. Isso pode ocorrer por causa de alterações no cortéx pré-frontal. 

“Se essa mudança for trabalhada positivamente, vamos gerar criatividade, emoção, paixão pela descoberta. Levaremos os jovens a sonhar com o poder de fazer inovações em arte, música, ciência e tecnologia”, recomenda Chedid. 

E para tirar o(a) adolescente do isolamento, a psicopedagoga aconselha que pais, mães e responsáveis apoiem seus filhos e suas filhas em relações saudáveis com seus pares, com compaixão e empatia.

As quatro qualidades essenciais do cérebro adolescente

Todas essas mudanças de comportamento durante a adolescência podem ser canalizadas de forma positiva. Daniel Siegel, em seu livro “Tempestade Cerebral: O poder e o propósito do cérebro adolescente”, menciona quatro características essenciais da adolescência, que são vitais para o desenvolvimento da própria identidade dos jovens. Siegel as chama de “essências”. São elas que, quando adultos, conservam a mente em boa forma. Aqui estão: 

  • Busca por novidade. Ativação de circuitos cerebrais aumenta a vontade por procura de recompensas, novas sensações, novas experiências. Tudo isso é motivação para descobrir formas de realização pessoal para construir sua trajetória de vida;
  • Engajamento social. Os(as) adolescentes estão mais sensíveis à ação da oxitocina, que predispõe à formação de vínculos com outras pessoas, favorecendo a criação de novas amizades. Eles e elas andam mais em grupo e agem socialmente;
  • Entusiasmo emocional. Período de intensidade emocional que se sobrepõe à racionalidade do córtex pré-frontal, desenvolvido a partir dos 20 anos. Contrariedades e frustrações podem se tornar intempestivas nas famílias. Mas, no seu melhor, todo essa energia e vitalidade podem ser canalizadas para ações positivas, inclusive de auto-regulação e autoconhecimento; 
  • Exploração da criatividade. Na puberdade, o(a) jovem começa a desenvolver o raciocínio abstrato, e se torna mais questionador(a), capaz de enfrentar desafios cotidianos, buscar soluções, explorar o mundo. Tudo isso contribui para desenvolver competências, como resolver problemas de forma criativa. Favorece também o desempenho no campo das artes.

“As mudanças no cérebro de um adolescente oferecem tanto riscos quanto oportunidades. A forma como navegamos nas águas da adolescência – se como indivíduos jovens na jornada ou como adultos ao lado deles – pode ajudar a levar o navio que é nossa vida a águas traiçoeiras ou a aventuras excitantes. A decisão é nossa!”, conclui Kátia Chedid, citando mais uma vez Daniel Siegel.

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